Londres afasta recessão, mantém apoio energético e aposta em creches grátis

Jeremy Hunt apresentou ontem o Orçamento. Oposição acusa-o de "copiar" ideias trabalhistas no apoio às famílias e tece críticas.

O ministro das Finanças britânico, Jeremy Hunt, disse ontem que o Reino Unido vai conseguir escapar à recessão e que a inflação - atualmente acima dos 10% - será de 2,9% no final do ano. Na apresentação do Orçamento no Parlamento, em dia de greves em vários setores (da Saúde, aos Transportes), o ministro disse que o crescimento económico está a ser travado pela falta de trabalhadores, anunciando apoio para jovens pais e profissionais mais velhos. Os apoios às famílias para ajudar a pagar a energia vão continuar mais uns meses.

"A economia britânica contradiz quem duvidava dela", disse Hunt no início do seu discurso. As novas estimativas indicam que a economia vai contrair 0,2% - e não 1,4% como inicialmente pensado - , devido às dificuldades no primeiro trimestre, mas evitará a "recessão técnica" (isto é, pelo menos dois trimestres consecutivos de contração do Produto Interno Bruto). A economia crescerá 1,8% em 2024 e 2,5% em 2025. O Orçamento que apresentou é, diz, um "orçamento para o crescimento".

Em relação ao descontentamento social, que se tem traduzido em várias greves desde o início do ano, o ministro diz que "a inflação elevada é a base das greves que têm acontecido nos últimos meses" e prometeu "continuar a trabalhar arduamente para solucionar essas disputas, mas apenas de forma a que isso não alimente a inflação".

Para lutar contra o aumento dos preços, o governo britânico vai alargar por mais três meses o subsídio que ajuda as famílias a pagar as faturas da energia - a fatura vai continuar no máximo de 2500 libras até julho, em vez de subir para 3000 como estava previsto. "Algumas pessoas continuam em dificuldades e devemos estar sempre prontos para ajudar quando pudermos", indicou no discurso diante dos deputados.

Ainda no apoio às famílias, o governo quer que pais de filhos pequenos tenham oportunidade de voltar ao mercado de trabalho. Para isso, vai oferecer 30 horas semanais de creches gratuitas para bebés dos 9 meses até aos 3 anos - atualmente só crianças com 3 e 4 anos beneficiavam. Esta política só entrará contudo em vigor em 2025. "Para muitas mulheres, uma pausa na carreira torna-se no fim da carreira", lamentou. O Labour acusou Hunt de "copiar" as suas ideias, elogiando o aumento dos apoios no cuidado dos filhos.

A pensar nos mais velhos, e para tentar desencorajar as reformas antecipadas (nomeadamente em áreas como Educação ou Saúde), o governo vai também aumentar o valor que os trabalhadores podem juntar nos fundos de pensões sem pagar impostos. O Labour, na oposição, apelidou esta alteração de "um corte de impostos de mil milhões de libras para o 1% mais rico".

O líder trabalhista, Keir Starmer, reagiu ainda no Parlamento: "A economia precisava de uma grande cirurgia. Mas depois de hoje, sabemos que os armários dos conservadores estão tão vazios quanto as prateleiras das saladas nos nossos supermercados. As alfaces desapareceram, mas ficaram os nabos", disse, referindo-se à famosa alface que durou mais tempo do que a ex-primeira-ministra Liz Truss.

susana.f.salvador@dn.pt

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