Liderar a Rússia "é um dever sagrado". Putin assume quinto mandato como presidente
EPA/SERGEY BOBYLEV; SPUTNIK ; KREMLIN

Liderar a Rússia "é um dever sagrado". Putin assume quinto mandato como presidente

Vários Governos ocidentais alinharam-se nas críticas à legitimidade democrática das eleições presidenciais na Rússia e não felicitaram Putin. E muitos não se fizeram representar na cerimónia, entre eles Portugal.
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O Presidente russo, Vladimir Putin, tomou posse esta terça-feira para um quinto mandato com várias tarefas pendentes, nomeadamente uma vitória na guerra na Ucrânia, a resistência às pressões da NATO e a supressão de qualquer indício de descontentamento popular.

"Juro (...) respeitar e proteger os direitos humanos e civis e as liberdades, respeitar e proteger a Constituição, a soberania, a independência, a segurança e a integridade do governo", declarou Putin, citado pela agência francesa AFP.

Putin disse que liderar a Rússia "é um dever sagrado" e prometeu que o país saíra "mais forte" do "período difícil" que atravessa.

O líder russo prometeu que o país sairá mais forte do "período difícil" que atravessa, numa referência à guerra contra a Ucrânia, que invadiu em 2022, e às sanções ocidentais.

"Somos um povo unido e grande, e juntos ultrapassaremos todos os obstáculos. (...) Juntos venceremos", disse perante cerca de 2.500 pessoas, incluindo a elite política russa e militares que participam na guerra contra a Ucrânia.

Num discurso transmitido em direto por todos os canais da televisão estatal russa, Putin afirmou que serão apenas os russos a determinar o destino da Rússia, "para bem das gerações atuais e futuras".

A controversa reforma constitucional de 2020 permitiu a Putin, de 71 anos, eliminar o obstáculo legal que o impedia de permanecer no Kremlin até 2030.

No poder desde 2000, Putin venceu as eleições presidenciais de 17 de março passado com mais de 87% dos votos, um resultado sem precedentes e que mereceu críticas no Ocidente.

Vários Governos ocidentais alinharam-se nas críticas à legitimidade democrática das eleições presidenciais na Rússia e não felicitaram Putin, como foi o caso dos Estados Unidos. E muitos não se fizeram representar na cerimónia, entre eles, Portugal.

O chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell, disse que assistir à tomada de posse do Presidente russo seria uma "contradição" para a União Europeia.

Borrell argumenta a decisão de não assistir à cerimónia na capital russa por considerar que as eleições presidenciais na Rússia não foram "nem livres nem justas".

No entanto, a União Europeia (UE) não tem uma posição unânime sobre a questão, uma vez que a França e a Hungria enviaram embaixadores à Rússia e a Eslováquia destacou o encarregado de negócios.

O Alto Representante da UE para os Negócios Estrangeiros afirmou, no entanto, que era "muito difícil de compreender para os ucranianos e para muitas pessoas em todo o mundo" que a UE fosse assistir à tomada de posse de um chefe de Estado contra o qual o Tribunal Penal Internacional emitiu um mandado de captura por ter forçado a deportação de crianças ucranianas para a Rússia.

"O meu conselho foi não comparecer", disse Borrell, embora tenha salientado que os países da UE têm "plena soberania" para decidir sobre temas de política externa.

Quem marcou presença foi o ator Steven Seagal.

Um mês antes do escrutínio, surgiu a notícia da morte na prisão do líder da oposição russa Alexei Navalny, cujas circunstâncias ainda estão pouco claras.

Mas, no atual contexto, o principal problema da liderança russa permanece por resolver: a guerra em curso na Ucrânia e o alcance de uma vitória.

Desde a situação da economia até à repartição dos recursos do Estado estão dependentes do desfecho do conflito armado, iniciado em fevereiro de 2022.

A vitória na campanha militar na Ucrânia parece longe de se tornar realidade, apesar de a ofensiva russa de outubro ter permitido a Moscovo conquistar diversos bastiões no Donbass (leste da Ucrânia) e na região de Kharkiv, no nordeste.

As perspetivas de negociações de paz com Kiev também parecem de momento impossíveis.

Após o líder ucraniano, Volodymyr Zelensky, ter rejeitado, e por decreto, sentar-se à mesma mesa de negociações com Putin, Moscovo decidiu recentemente incluir o Presidente da Ucrânia na lista de procurados do Ministério do Interior, por infração ao Código Penal.

Moscovo também tem repetido nos últimos meses que a partir de 20 de maio, quando termina o atual mandato de Zelensky, o líder ucraniano perderá toda a legitimidade.

A melhor demonstração de que a reeleição de Putin apenas exacerbou as tensões com o Ocidente ficou expressa na ordem do Presidente russo para que as Forças Armadas realizem "em breve" manobras com armas nucleares táticas.

Caso se concretizem, estes exercícios -- com o envolvimento da Força Aérea e Marinha --, poderão ocorrer em território ucraniano, pelo facto de o Distrito militar sul incluir as quatro regiões ucranianas ocupadas (Donetsk, Lugansk, Kherson e Zaporijia).

O Kremlin justificou estas manobras como uma resposta às ameaçadoras declarações, entre outras, do Presidente francês Emmanuel Macron, que voltou a insistir, em declarações à revista conservadora The Economist, que não exclui o envio de tropas da NATO para território ucraniano.

"Eles referem-se à disposição e inclusive intenção de enviar contingente militares para a Ucrânia, quer dizer, pôr soldados da NATO frente a militares russos. Essa é uma nova espiral na escalada da tensão. Não tem precedentes e exige atenção especial e medidas especiais", indicou Dmitri Peskov, o porta-voz presidencial, numa conferência de imprensa.

A isto junta-se o facto de a Alemanha ter chamado o seu embaixador em Moscovo para consultas e a convocação dos embaixadores francês e britânico pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros russo. Em relação a Londres, a convocação surgiu na sequência de declarações do ministro dos Negócios Estrangeiros britânico, David Cameron, sobre o direito de Kiev atacar alvos em território russo com armamento ocidental.

A histórica vitória eleitoral de Putin foi ofuscada poucos dias depois pelo maior atentado terrorista em território russo desde o massacre de Beslan, Ossétia do Norte, em 2004.

Quatro homens armados atacaram com armas automáticas e explosivos o "Crocus City Hall", uma sala de concertos nos arredores de Moscovo, com um balanço de 145 mortos.

Este atentado fragilizou Putin -- que há quase 25 anos subiu ao poder tendo como lema o combate contra o terrorismo islamista no Cáucaso --, e as forças de segurança, que revelaram-se incapazes de proteger um dos locais de lazer mais populares da capital russa.

Na sequência do ataque, Putin tentou reforçar os argumentos de que a atual política externa russa de amizade com o mundo muçulmano (Irão, Arábia Saudita, Afeganistão ou palestinianos) tornaria improvável este género de ações.

Nesse sentido, e sem apresentar provas concludentes, responsabilizou diretamente a Ucrânia e os seus patrocinadores ocidentais pelo ataque, apesar de os Estados Unidos terem indicado que tinham avisado o Kremlin para um possível ataque 'jihadista', segundo assinalou a agência EFE.

A nível interno, o ataque teve repercussões com a dissidência a acusar o Kremlin de perseguir os alvos errados, ao centrar a sua máquina repressiva na perseguição de opositores, pacifistas ou minorias sexuais no território do país.

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