As casas de apostas inclinavam-se para que o próximo papa adotasse o nome de Francisco II, sinal de continuidade do pontificado do argentino. O discurso de Prevost na praça de São Pedro aponta nesse sentido, mas preferiu engrossar a lista dos Leões, decerto em homenagem ao último da linhagem, e ao mesmo tempo demonstrar que não se limitará ao seguidismo. É tradição que o novo pontífice abdique do nome de batismo - o próprio São Pedro, considerado o primeiro papa, chamava-se inicialmente Simão - já que a eleição como líder da Igreja Católica é vista como um segundo nascimento. Mas nem sempre foi assim. Os papas usavam o nome de batismo. A primeira exceção, para lá de São Pedro, deu-se no ano de 533, quando Mercúrio achou que o nome do deus romano, associado à guerra, não seria adequado, tendo escolhido João II. O costume só se enraizou a partir do século X. As exceções chamam-se Adriano VI e Marcelo II, ambos no século XVI.Já lá vai o tempo em que o novo chefe da Igreja Católica era escolhido por deferência ao papa que o havia elevado a cardeal ou por outras motivações, até familiares. Desde meados do século passado que a escolha do nome ganhou um simbolismo próprio. Além de homenagem e reconhecimento a um antecessor, sinaliza-se o que se pretende fazer durante o pontificado, disse o padre Roberto Regoli, historiador da Pontifícia Universidade Gregoriana à Associated Press (AP). O italiano Albino Luciano e o argentino Jorge Bergoglio romperam com a escolha de nomes já existentes. O primeiro, ao optar por João Paulo, quis dar continuidade ao reformismo de João XXIII e de Paulo VI; e o segundo, sendo jesuíta poderia ter escolhido Inácio (de Inácio de Loyola, fundador da ordem Companhia de Jesus), mas invocou Francisco de Assis e o seu voto de vida em pobreza. E o que dizer de Leão? É um dos nomes mais populares entre os pontífices, apenas superado por João (23 ocasiões), Bento e Gregório (cada qual 16 vezes), tendo o último Benedictus sido o alemão Joseph Ratzinger. Clemente (14 vezes), Inocêncio (13 vezes) e Pio (12 vezes) também estão no topo das preferências, embora estes dois últimos nomes, tendo em conta os escândalos sexuais que têm manchado a imagem da Igreja, não seriam acolhidos sem controvérsia.Ao escolher Leão, Robert Prevost demonstra que quer prosseguir o caminho das reformas na Igreja. “Sem medo para avançar”, declarou aos fiéis. Leão XIII foi o autor da encíclica Rerum Novarum, que se debruçou sobre as condições de vida dos operários. Ao apoiar os direitos dos trabalhadores e os sindicatos e ao mesmo tempo criticar socialismo e capitalismo, Leão XIII lançou as bases da doutrina social da Igreja. O nome é “um profundo sinal de compromisso com questões sociais”, disse à AP Natalia Imperatori-Lee, diretora dos estudos religiosos da Universidade de Manhattan. “Penso que este papa está a passar uma mensagem sobre justiça social ao escolher este nome, que [esse assunto] será uma prioridade. Ele vai continuar na generalidade o ministério de Francisco”, opina. Na história dos Leões, destaque para o primeiro, cujo cognome é Magno; para o IX - até agora o único não italiano, nascido na Alsácia - e que também deixou um cunho reformista; e para o X, filho de Lourenço de Médicis e que assistiu ao movimento protestante a eclodir pela mão de Lutero..Porquê Leão? O significado da escolha do nome do novo papa.Leão XIV. Mensagem de paz e união na estreia do primeiro papa norte-americano