A francesa Marine Le Pen sugeriu à primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, a união de forças numa aliança entre os dois grupos da extrema-direita no Parlamento Europeu após as eleições da próxima semana. “É a hora de nos unirmos, seria muito útil”, disse a líder do Reagrupamento Nacional (RN) ao Corriere della Sera. “Se tivermos sucesso, poderemos ser o segundo grupo no Parlamento Europeu. Acho que não devemos perder uma oportunidade como esta”..O convite da francesa surge pouco depois do RN ter dito que não se sentava mais ao lado da Alternativa para a Alemanha (AfD) no Parlamento Europeu. Le Pen faz parte do grupo de extrema-direita Identidade e Democracia (ID) - ao lado do Liga, de Matteo Salvini, um parceiro júnior na coligação governamental de Meloni - e, na quinta-feira, decidiram expulsar a AfD, após uma série de escândalos envolvendo Maximilian Krah, eurodeputado e cabeça-de-lista do partido alemão, que está a ser investigado por ligações suspeitas com a Rússia e a China..Uma união entre o ID e o grupo dos Conservadores e Reformistas Europeus (ECR), onde estão outros partidos de extrema-direita, como o Irmãos de Itália, de Meloni, o espanhol Vox ou o polaco Lei e Justiça, poderia vir a mudar o equilíbrio de forças no Parlamento Europeu. .As últimas sondagens apontam para que o ECR consiga 71 lugares e o ID 68, ou seja, um total de 139 entre 720 eurodeputados. Nestas contas há ainda a considerar dois partidos atualmente sem família política - a AfD, que deverá obter 17 lugares, e o Fidesz, do primeiro-ministro húngaro Viktor Orbán, expulso do PPE e que estará a ponderar escolher um destes grupos, e os seus previstos 12 eurodeputados. .De acordo com o site Europe Elects, o PPE deverá conseguir eleger 183 deputados e os Socialistas e Democratas 140, as atuais duas maiores forças do Parlamento Europeu. Mas, num cenário de união das extremas-direitas, estas passariam ser o segundo maior grupo, com mais de 160 eleitos. .No papel estas contas parecem ser um cenário de sonho para a extrema-direita europeia, mas na prática ID e ERC estão divididos por algumas questões-chave. Mais notavelmente, o ID está cético quanto ao apoio contínuo da União Europeia à Ucrânia contra a Rússia, enquanto o ECR apoia Kiev na sua luta..Numa entrevista dada no domingo à noite à RAI, Giorgia Meloni disse não ter quaisquer linhas vermelhas quando se tratava de potenciais alianças com outras forças políticas no próximo Parlamento Europeu. “O meu principal objetivo é construir uma maioria alternativa àquela que governou nos últimos anos. Uma maioria de centro-direita, por outras palavras, que enviará a esquerda para a oposição na Europa”..Sobre os temas que dividem ERC e ID, dias antes, a italiana já tinha recordado que têm “alguns pontos em comum, por exemplo no combate à imigração ilegal”, uma “abordagem menos ideológica” à transição ambiental, bem como “a defesa da identidade cultural europeia”..Ao mesmo tempo, Ursula von der Leyen, oriunda do PPE, já deu um sinal de que estará disposta a trabalhar com o ECR de Meloni, se tal for preciso para garantir um segundo mandato como presidente da Comissão Europeia. Mas não com o ID, considerado mais radical. Uma colaboração com o ECR “depende muito de como é a composição do Parlamento e de quem está em que grupo”, disse von der Leyen num debate de campanha no final de abril..Num outro debate, na semana passada, a alemã voltou a ser questionada sobre este assunto, rejeitando acordos com “amigos de Putin”, sem nunca mencionar a extrema-direita ou os conservadores, mas sublinhando “trabalhar bem” com a primeira-ministra italiana no âmbito do Conselho Europeu, qualificando-a como “pró-europeia”, embora tenham “abordagens completamente diferentes” em matérias como os direitos LGBTQI..Este piscar de olho de Ursula von der Leyen a Meloni pode acabar por lhe sair caro, já que muito provavelmente precisará do apoio do grupo Socialistas e Democratas para ser reeleita, e estes já mostraram claramente o seu desagrado à aproximação a Meloni e ao ERC. “Os valores e os direitos não podem ser divididos segundo alguns acordos políticos”, disse Nicolas Schmit, o spitzenkandidat dos socialistas, num debate. “Ou podemos lidar com a extrema-direita porque precisamos deles, ou dizemos claramente que não é possível um acordo porque eles não respeitam os direitos fundamentais pelos quais a nossa Comissão tem lutado”..“Meloni encontra-se com duas mãos estendidas antes das eleições, uma de Le Pen, a outra de von der Leyen”, explicou ao The Guardian Nicolai von Ondarza, do Instituto Alemão para Assuntos Internacionais. “Ela pode levar apenas uma”..ana.meireles@dn.pt