Kremlin diz que ataques resultam da "relutância" de Kiev em negociar

Moscovo admite a tentativa de forçar os ucranianos a negociar em resultado da destruição da infraestrutura energética.
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Durante mais um dia marcado pelo lançamento de mísseis de longo alcance para várias cidades ucranianas, a Rússia, através do porta-voz do líder Vladimir Putin, explica que tal se deve à falta de vontade das autoridades ucranianas em negociar. Enquanto isso, o presidente ucraniano viu atendido o seu pedido para que peritos do seu país visitassem o local, em território polaco, onde um míssil caiu, tendo originado duas mortes, especulação sobre a sua origem e receios de uma escalada na guerra. E numa sentença há muito esperada, três pessoas foram condenadas pelo derrube do avião da Malaysia Airlines, em 2014, em Donetsk.

A Rússia prosseguiu os ataques aéreos em vários pontos da Ucrânia, atingindo quer infraestruturas quer zonas residenciais. Em Kiev as defesas aéreas derrubaram a totalidade de mísseis (quatro) e drones (cinco) lançados, e em Odessa, que está sem eletricidade há dois dias, foi reportada a interceção de seis mísseis em sete (tendo este atingido uma "infraestrutura crítica").

Registaram-se danos e vítimas noutras áreas do país em resultado do lançamento de mísseis de cruzeiro desde o mar Negro, de mísseis disparados de aviões e de drones oriundos da Bielorrússia: sete mortos num edifício de apartamentos em Vilniansk, subúrbios de Zaporíjia; 23 feridos em vários edifícios residenciais e um industrial em Dnipro; três feridos junto de infraestruturas em Izium, na região de Kharkiv.

"A Rússia está a lutar contra a eletricidade e o aquecimento das pessoas, fazendo explodir centrais elétricas e outras instalações energéticas", apontou Volodymyr Zelensky, que disse estarem dez milhões de pessoas sem eletricidade e no dia em que chegou a neve. Para o Kremlin a responsabilidade é de Kiev. "A relutância do lado ucraniano em resolver o problema, em iniciar negociações, a sua recusa em procurar uma base comum, esta é a sua consequência", disse Dmitri Peskov.

O porta-voz do Kremlin reagia a uma pergunta sobre a proposta de dez pontos para alcançar a paz que Zelensky havia revelado durante a cimeira do G20. "Negoceiam, depois recusam-se a negociar, de seguida aprovam uma lei que proíbe qualquer tipo de negociações, depois querem negociações, mas negociações públicas", disse Peskov sobre os ucranianos, para depois rejeitar a ideia de negociações na praça pública. Questionado sobre se a chegada do frio iria dar uma oportunidade para uma pausa, respondeu que "a operação militar especial continua e não depende das condições meteorológicas".

Na localidade polaca de Przewodów, onde caiu um míssil que a Ucrânia disse ser russo mas que, segundo as informações preliminares da Polónia, terá sido um projétil da defesa aérea ucraniana, estiveram já peritos enviados por Kiev. "Não sei o que aconteceu. Não sabemos ao certo. O mundo não sabe", disse agora Zelensky, depois de insistir na autoria russa da explosão.

O que ficou determinado, depois de uma longa investigação, foi a culpabilidade de dois russos e um ucraniano pró-russo no derrube do avião que em 2014 ligava Amesterdão a Kuala Lumpur. Julgados à revelia, foram condenados pela morte dos 298 passageiros do voo MH17 por um tribunal em Haia. Para Moscovo a sentença de prisão perpétua para os dois militares russos e o combatente pró-russo explica-se pela "pressão sem precedentes" dos políticos holandeses ao sistema judicial.

cesar.avo@dn.pt

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