O líder da Coreia do Norte, fotografado a 8 de dezembro, quando participou na Convenção das Mães, em Pyongyang.
O líder da Coreia do Norte, fotografado a 8 de dezembro, quando participou na Convenção das Mães, em Pyongyang.KCNA VIA KNS / AFP

Kim Jong-un quer uma “aceleração dos preparativos de guerra” do país

Intenções do líder da Coreia do Norte passam pelo programa de armas nucleares, de forma a enfrentar as “manobras de confronto” dos Estados Unidos e dos seus aliados.
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Kim Jong-un rejeitou ontem a reconciliação ou reunificação com a Coreia do Sul, considerando ser um erro, tendo também apelado à “aceleração dos preparativos de guerra” do país, incluindo o programa de armas nucleares, adiantou a agência de notícias estatal norte-coreana KCNA. Foi também anunciado que Pyongyang pretende lançar três satélites espiões durante este ano.  

“Acho que é um erro que não deveríamos cometer. Ver as pessoas que nos chamam de pior inimigo como alguém com quem devemos procurar a reconciliação e a unificação”, disse Kim Jong-un na reunião plenária de final de ano do comité central do Partido dos Trabalhadores da Coreia do Norte.

Da mesma reunião saiu o anúncio de que a Coreia do Norte deverá lançar três novos satélites espiões em 2024 para fortalecer as suas capacidades militares. “A missão de lançar três satélites de reconhecimento adicionais em 2024 foi declarada”, noticiou a KCNA.

Após dois fracassos sucessivos em maio e junho, a Coreia do Norte colocou com sucesso o seu primeiro satélite de observação militar em órbita em novembro, com Pyongyang a alegar ter fornecido imagens dos principais locais militares dos Estados Unidos e na Coreia do Sul, mas não as tenha revelado.

De recordar que a Coreia do Norte está impedida por sucessivas rondas de resoluções das Nações Unidas de realizar testes com tecnologia balística. No entanto, os serviços de inteligência sul-coreanos acreditam que Pyongyang recebeu ajuda tecnológica decisiva da Rússia, país visitado por Kim Jong-un em setembro, e que incluiu um encontro entre o líder norte-coreano e o presidente russo, Vladimir Putin.

No início da reunião do partido, o líder norte-coreano já tinha apelado à “aceleração dos preparativos de guerra” do país, incluindo o programa de armas nucleares, face às “manobras de confronto” dos Estados Unidos e dos seus aliados.

Ainda durante a reunião de ontem, Kim Jong-un disse que a Península Coreana estava nas garras de “uma situação de crise persistente e incontrolável”, cuja culpa era dos Estados Unidos  e da Coreia do Sul. Nesse sentido, o governante ordenou, portanto, uma remodelação das administrações que gerem as relações com o Sul, no sentido de “mudar fundamentalmente a direção”.

Em 2018, as duas Coreias iniciaram um processo de aproximação, caracterizado por três encontros de Kim Jong-un e do então presidente sul-coreano, Moon Jae-in, tendo esta aproximação sido entretanto abandonada.

Esta nova ameaça de Pyongyang de utilizar armas nucleares contra os Estados Unidos e aliados surge cerca de uma semana depois de a Agência Internacional de Energia Atómica ter indicado que “parece ter entrado em funcionamento” um novo reator nuclear na Coreia do Norte. 

Situado a cerca de 100 quilómetros a norte de Pyongyang, o complexo de Yongbyon tem já instalado o primeiro reator nuclear do país. Desde meados de outubro tem sido observado um “forte fluxo de água” proveniente do sistema de arrefecimento de um reator, afirmou o diretor-geral da AIEA, Rafael Grossi.

No entanto, o processo de verificação requer tempo e, sem acesso à instalação, a AIEA não pode confirmar com exatidão o seu estado operacional. Na sexta-feira, Seul disse esperar que o reator experimental de água leve da Coreia do Norte esteja operacional no verão.
Pyongyang  efetuou o primeiro ensaio nuclear em 2006. O sexto ensaio e o mais recente, em 2017, foi também o mais potente. Já 2023 marcou um número recorde de testes de lançamento de mísseis por parte da Coreia do Norte, o último dos quais em dezembro - foi testado o míssil balístico intercontinental mais potente do arsenal do país, o Hwasong-18, capaz de atingir os Estados Unidos.

Devido a este crescente número de testes, Coreia do Sul, Estados Unidos e Japão anunciaram no passado dia 19 o lançamento de um sistema para partilhar informações em tempo real sobre mísseis norte-coreanos e um plano de exercícios regulares para enfrentar avanços militares de Pyongyang, com os três países a reiterarem que vão continuar a reforçar a cooperação “para responder aos desafios regionais” e garantir a segurança na região do Indo-Pacífico.

Washington já trocava informações separadamente com os aliados na região asiática, mas até agora não existia uma ligação direta de dados entre as três nações, devido às disputas entre o Tóquio e Seul sobre a colonização nipónica da península coreana entre 1910 e 1945.

com agências

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