Kiev volta a estremecer no dia em que Putin ameaça atingir novos alvos
Pelo menos cinco mísseis atingiram dois pontos da capital ucraniana por volta das 6 da manhã, sendo os primeiros bombardeamentos reportados na cidade em mais de um mês. Os ataques, que causaram um ferido, são uma pausa no sentimento dos habitantes de Kiev de regresso à normalidade possível e prova da capacidade militar do invasor. E deram-se pouco antes de a TV estatal russa ter transmitido a segunda parte de uma entrevista ao seu líder, na qual ameaça atingir novos alvos ucranianos.
O presidente da câmara de Kiev Vitali Klitschko informou que a capital ucraniana foi atingida por "várias explosões nos bairros de Darnytsky e Dniprovsky, os primeiros na capital desde 28 de abril. O regime russo disse ter destruído tanques fornecidos à Ucrânia por países da Europa de leste nos ataques a Kiev. "Mísseis de alta precisão de longo alcance disparados pelas forças aeroespaciais russas nos arredores de Kiev destruíram tanques T-72 fornecidos por países da Europa de leste e outros veículos blindados que se encontravam em hangares", disse o porta-voz do Ministério da Defesa russo Igor Konashenkov.
Versão diferente tem o diretor da empresa ferroviária Ukrzaliznytsia que viu as suas instalações destruídas no bairro de Darnitsky. "Não temos qualquer maquinaria militar na nossa fábrica. Apenas vagões de carga que nos ajudam a exportar cereais e ferro", afirmou Alexander Kamyshin.
Segundo a força aérea ucraniana, vários mísseis de cruzeiro foram disparados na direção de Kiev por aviões bombardeiros Tupolev TU-95 baseados no Mar Cáspio, um dos quais foi destruído. A empresa de eletricidade Energoatom divulgou imagens do que afirma serem mísseis russos a passar "muito baixo" sobre a central nuclear situada a norte da região de Mykolaiv. Para a empresa estatal ucraniana, os mísseis são provavelmente os mesmos que atingiram Kiev. Horas depois, um bairro na cidade de Mykolaiv foi bombardeado, tendo causado pelo menos três mortos e quatro feridos graves. Também o porto e celeiros foram atingidos, apesar de as forças ucranianas terem dito que conseguiram intercetar quatro mísseis.
O presidente russo, que continua a evitar a palavra guerra, disse na entrevista à Rossiya 1 que, até agora, o fornecimento de armamento por parte do Ocidente à Ucrânia não altera a relação de forças. "Acreditamos que a entrega de sistemas de foguetes pelos Estados Unidos e alguns outros países está relacionada com a compensação das perdas deste equipamento de combate. Não há nada de novo nisso e, na realidade, nada muda." No entanto, a conversa é outra se os sistemas de lançadores múltiplos de foguetes (MLRS) forem entregues com capacidade de longo alcance. "Tiraremos as devidas conclusões e utilizaremos as nossas armas que temos em quantidade suficiente para atingir alvos que não foram atacados até agora", ameaçou.
Os Estados Unidos anunciaram que armas de longo alcance iam ser enviadas para a Ucrânia como parte de um pacote de 700 milhões de dólares que inclui radares aéreos, mais mísseis antitanque Javelin, munições de artilharia e helicópteros. Não será este anúncio a fazer com que o Kremlin decida atacar novos alvos, mas Madrid prepara-se para responder de forma positiva aos pedidos insistentes de Kiev aos países ocidentais para que contribuam com mais armamento. Nesta fase de combates no Donbass e no sul do país, os ucranianos têm pedido em em especial mísseis antinavios, mísseis antiaéreos, obuses e MLRS.
Segundo o El País, o Ministério da Defesa espanhol está a preparar o envio de uma bateria de mísseis antiaéreos Shorad Aspide, um sistema que já foi substituído por outro mais moderno. Também nos armazéns militares estão tanques alemães Leopard A4 e, segundo o jornal de Madrid, Espanha poderá entregar 40 unidades à Ucrânia, embora ainda precisem de receber uma intervenção. Além disso, o país vizinho ofereceu instrução a militares ucranianos, numa primeira fase na Letónia, onde estão 500 soldados espanhóis na força da NATO, e mais tarde em solo espanhol.
No mesmo dia em que o ex-primeiro-ministro italiano Giuseppe Conte (e atual líder do Movimento 5 Estrelas, que faz parte da coligação governamental) apelou para o governo parar de fornecer apoio militar à Ucrânia, a vice-ministra da defesa daquele país salientou que o país precisa de apoio contínuo dos países ocidentais. "Já entrámos numa guerrta prolongada e vamos precisar de apoio constante", disse Ganna Malyar. "O Ocidente tem de compreender que a sua ajuda não pode ser uma coisa isolada, mas algo que continue até à nossa vitória", acrescentou.
No terreno, a batalha mais quente é a de Severodonetsk. O governador da região de Lugansk, Sergiy Gaiday, disse esperar um grande contra-ataque das forças russas nos próximos cinco dias depois de as tropas ucranianas terem recuperado cerca de metade da cidade, a maior de Lugansk não controlada pelos russos. "Metade da cidade é efetivamente controlada pelas nossas forças", afirmou.
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