Kiev e Moscovo com versões contrárias sobre batalha no Donbass
Russos dizem que ucranianos abandonam Severodonetsk, e estes dizem que estão a retomá-la. Macron volta a ser alvo de críticas.
O presidente francês voltou a ser alvo de críticas da Ucrânia pela sua abordagem à Rússia num dia em que Kiev e Moscovo deram sinais contrários sobre a frente de guerra no Donbass, tendo cada parte reclamado ganhos em Severodonetsk.
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Numa entrevista concedida a dez jornalistas da imprensa regional francesa, Emmanuel Macron reiterou a ideia de se deixar uma via diplomática aberta para o conflito russo-ucraniano e, mais do que isso, que o invasor tenha uma saída. "Não devemos humilhar a Rússia para que no dia em que os combates pararem, possamos construir uma saída através dos canais diplomáticos. Estou convencido de que o papel da França é ser uma potência mediadora", afirmou. A exemplo das anteriores declarações neste sentido, que receberam críticas da Ucrânia, mas também de dirigentes de outros países europeus, o ministro dos Negócios Estrangeiros ucraniano respondeu à letra a Macron: "Os apelos para evitar a humilhação da Rússia só podem humilhar a França e todos os outros países que o exigirem. Porque é a Rússia que se humilha a si própria. É melhor concentrarmo-nos em como pôr a Rússia no seu lugar. Isso trará paz e salvará vidas."
Na entrevista publicada em jornais como Ouest France ou Nice-Matin o chefe de Estado francês não foi propriamente simpático em relação a Vladimir Putin, com o qual disse ter investido uma centena de horas em conversas com desde dezembro. "Penso que cometeu um erro histórico e crucial para o seu povo, para si próprio e para a história. A Rússia continua a ser um grande povo. Penso que ele se autoisolou. Uma coisa é isolar-se, saber regressar é um caminho difícil", disse Macron do líder russo.
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Putin e as nozes americanas
O presidente russo disse entretanto que as forças russas destruíram "dezenas" de armas norte-americanas na Ucrânia. "Os seus sistemas de defesa aérea estão a rachar como nozes, dezenas foram destruídos", afirmou numa entrevista à televisão estatal russa. Na guerra de propaganda coube ao negociador David Arakhamia a sua parte pelo lado de Kiev, ao dizer que o objetivo é consolidar posições no terreno com a chegada das armas do Ocidente antes de retomar as conversações com Moscovo. "As nossas forças armadas estão prontas a usar [as novas armas], e depois penso que poderemos iniciar uma nova ronda de negociações a partir de uma posição reforçada", disse à televisão ucraniana.
Também sobre a batalha do Donbass Kiev e Moscovo apresentaram versões contraditórias. O governador da região de Lugansk assegurou que os soldados ucranianos estão a recuperar parte da cidade, enquanto Moscovo afirmou que os ucranianos sofreram graves perdas e estavam em retirada. "Os combates concentram-se em Severodonetsk, já que o exército russo concentrou todas as suas forças" nesta batalha, disse o governador Serhiy Gaiday. Este funcionário disse que as tropas russas bombardearam pontes sobre o rio Donets para impedir a chegada de reforços do lado ucraniano. "Assim que tivermos mais armas ocidentais de longo alcance, vamos fazer a artilharia deles recuar e a infantaria vai correr", comentou.
Só que, segundo o correspondente da Deutsche Welle na Ucrânia, esse reforço pode demorar semanas a chegar. O governador de Lugansk disse ainda que o lado russo não só foi incapaz de tomar por completo a cidade, como perdeu cerca de "20% do terreno" depois de "sofrerem muitas baixas". Horas depois, o chefe da administração militar da cidade disse que o objetivo ucraniano é recuperar o controlo total de Severodonetsk, um estratégico eixo de vias de comunicação. Oleksandr Stryuk disse ainda que as tropas ucranianas se reagruparam e conseguiram construir uma linha de defesa na cidade. Já o exército russo indicou que as tropas ucranianas estavam em retirada da mesma urbe "após sofrerem perdas críticas", em algumas unidades de até 90%, e que se instalaram na vizinha Lysychansk.
Pelo menos sete civis morreram na região de Donetsk depois de um ataque russo ter atingido o mosteiro ortodoxo de Sviatohirsk, enquanto mísseis balísticos russos atingiram áreas de Bakhmut, Kramatorsk, Kostiantynivka e Lysychansk, além de ataques aéreos em Sloviansk e Soledar, Donetsk.
Em relação aos ataques aéreos, o último relatório dos serviços de informações do Ministério da Defesa britânico destaca o papel cada vez maior dos ataques aéreos, tanto com mísseis guiados como não guiados no Donbass para apoiar o avanço no terreno. Essa combinação tem sido um fator decisivo nos ganhos no leste da Ucrânia, concluem os britânicos.
cesar.avo@dn.pt