Kiev acusa Moscovo de danificar memorial ao Holocausto em Kharkiv
As autoridades ucranianas alegam que um ataque russo danificou o memorial Drobytsky Yar, próximo de Kharkiv, onde se lembram os entre 15 mil e 20 mil judeus que morreram às mãos dos nazis naquele local durante a II Guerra Mundial. Terá sido o segundo ataque do género contra símbolos do Holocausto na Ucrânia, com Kiev a apelar a uma resposta de Israel. Os israelitas têm procurado servir de mediadores no conflito, mas não gostaram das palavras que o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, ele próprio judeu, pronunciou há uma semana no Knesset.
"Esta menorá (...) nunca ameaçou ninguém. Celebra a memória dos mais de 15 mil judeus assassinados pelos nazis. Foi danificada num bombardeamento russo. Porque é que a Rússia continua a atacar os memoriais ao Holocausto na Ucrânia? Espero que Israel condene fortemente esta barbaridade", escreveu no sábado, no Twitter, o chefe da diplomacia ucraniano, Dmytro Kuleba, publicando a foto dos danos. A 1 de março, o mesmo responsável tinha dito que um míssil russo tinha caído no memorial de Babyn Yar, próximo de Kiev, onde quase 34 mil pessoas foram mortas em dois dias em 1941.
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"Os ocupantes cometeram outro crime contra a história, contra a justiça histórica", disse por seu lado Zelensky, no seu vídeo diário divulgado no Facebook, alegando que na sua "chamada "desnazificação" os russos atacaram mais um memorial ao Holocausto". "Durante a II Guerra Mundial os nazis executaram cerca de 20 mil pessoas ali. 80 anos depois, são executados uma segunda vez", acrescentou. "A menorá destruída pelos projéteis russos é outra questão para toda a comunidade judaica do mundo: quantos mais crimes contra a nossa memória comum do Holocausto serão permitidos pela Rússia na nossa terra ucraniana?", concluiu.
O embaixador de Israel na Ucrânia, Michael Brodsky, lembrou no Twitter que tinha visitado há uns meses o memorial, partilhando as fotografias desse momento, mas não condenou o ataque, dizendo apenas que segundo fontes ucranianas o memorial tinha sido danificado por fogo de artilharia.
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Israel tem relações importantes tanto com a Rússia como com a Ucrânia e tem procurado, durante a guerra, servir como mediador entre ambos os lados, recusando enviar apoio militar. O primeiro-ministro israelita, Naftali Bennett, foi o primeiro líder estrangeiro a falar pessoalmente com o presidente russo, Vladimir Putin, depois da invasão, visitando o Kremlin a 26 de fevereiro, dois dias após a invasão da Ucrânia. E mantém também contactos regulares com Zelensky, que gostaria de ver Israel como um dos garantes de um tratado que garantiria segurança para o seu país.
Mas nos esforços para ganhar apoios, Zelensky foi mais longe do que devia no seu discurso ao Knesset, há uma semana. As repetidas referências ao Holocausto, alegando por exemplo que Moscovo está a planear uma "solução final para a questão ucraniana", não caíram bem entre alguns deputados. O próprio Bennett disse que a comparação não era apropriada, apesar de também ter dito perceber a dor de Zelensky.
susana.f.salvador@dn.pt