Junta militar de Myanmar usa sismo para sair do isolamento internacional
Um comboio de nove veículos da Cruz Vermelha chinesa, a prestar auxílio humanitário às vítimas do terramoto em Myanmar (antiga Birmânia), foi alvo de tiros de metralhadora das forças da Junta Militar que está no poder no país. As autoridades alegaram ter disparado para o ar, após não ter sido cumprida uma ordem para parar, mas o Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês apelou a “todas as partes que deem prioridade aos esforços de ajuda após o terramoto”. Uma repreensão à junta que, à boleia da tragédia que já fez quase três mil mortos, está a aproveitar para sair do isolamento internacional a que estava sujeita desde o golpe de 2021.
Depois de um raro pedido de apoio internacional logo no dia do terramoto, o general Min Aung Hlaing já contactou com o presidente chinês, Xi Jinping, e com o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, entre outros, para coordenar a entrada dessa ajuda. A próxima reunião dos países da Associação de Nações Sul-Asiáticas (ASEAN, na sigla inglesa), organização da qual Myanmar tinha sido excluída por não ter aplicado o plano de paz acordado, deverá contar também com representantes birmaneses.
O próprio líder da junta, alvo de sanções internacionais e investigado pelo Tribunal Penal Internacional, irá estar esta sexta-feira na Tailândia, numa reunião da Associação Sul-Asiática para a Cooperação Regional (que reúne sete países, incluindo Índia e Bangladesh). É uma rara visita ao estrangeiro, que poderá aproveitar para aumentar a sua legitimidade tendo em conta as supostas eleições de dezembro - que a junta deverá usar para perpetuar o regime.
Enquanto isso, a nível interno, a junta é acusada de dificultar os esforços humanitários por manter apertadas medidas de segurança em algumas das zonas mais afetadas pelo sismo de magnitude 7,7 da sexta-feira, cujo epicentro foi junto da segunda maior cidade do país, Mandalay.
Além disso, continuam os bombardeamentos contra os rebeldes com quem combate desde o golpe, no qual derrubou o governo de Aung San Suu Kyi, levando o país para uma guerra civil que criou 3,5 milhões de deslocados e destruiu a economia. Na terça-feira, o principal grupo rebelde declarou um cessar-fogo unilateral, por duas semanas. O general Hlaing alegou que também as suas forças tinham parado os combates, acusando os rebeldes de estarem a querer aproveitar-se para atacar e prometendo “responder de forma apropriada”.
A Human Rights Watch apelou à junta para que deixe entrar ajuda humanitária sem obstáculos, defendendo que aqueles que querem ajudar devem poder fazê-lo através de grupos independentes e não depender das autoridades - que não estão preparadas para lidar com um desastre natural como este.