A popularidade de Rosângela da Silva, mais conhecida por Janja, caiu a pique, segundo sondagens publicadas na imprensa brasileira. No noticiário dessa mesma imprensa, a primeira-dama pode, por isso, tornar-se um problema para a imagem do governo do marido, Lula da Silva, depois de acumular desgaste em confrontos com personalidades nacionais e internacionais, sobretudo nos últimos meses de 2024.A avaliação positiva de Janja entre os compatriotas caiu 19 pontos entre fevereiro de 2023 e dezembro de 2024. O número estava em 41%, em fevereiro de 2023, chegou a 28% em dezembro do mesmo ano e é agora de 22%, diz a pesquisa Genial/Quaest.Paralelamente, o percentual de opiniões negativas subiu de 19% em fevereiro do ano passado para 26% há um ano e é agora de 28%, de acordo com o inquérito que ouviu pessoalmente 8598 pessoas com 16 anos ou mais, entre 4 e 9 de dezembro passado, com margem de erro de um ponto para mais ou para menos.A queda é notada em todos os segmentos, mesmo na região Nordeste, tradicionalmente próxima do Partido dos Trabalhadores (PT), e entre votantes declarados de Lula na eleição presidencial de 2022.Segundo integrantes do governo e membros destacados do PT ouvidos na imprensa, o receio é que a onda negativa de Janja, socióloga, 58 anos, atinja a avaliação do partido, de que é militante, do executivo e do próprio presidente. “A antipatia em relação a Janja pode transformar-se, sim, num grande problema caso o governo de Lula enfrente, no futuro próximo, um cenário económico mais adverso, com o presidente perdendo popularidade”, defenderam, anonimamente, barões do PT ouvidos pelo jornal Folha de S. Paulo.“Janja seria a partir de então um alvo fácil e simbólico para a oposição, que poderia explorar a imagem ruim que ela tem diante de parcela significativa do eleitorado para atingir o próprio presidente”, completam. No jornal O Estado de São Paulo é noticiado, também com base em declarações off the record, que aliados de Lula têm reclamado do excesso de influência da primeira-dama em assuntos do governo. Segundo eles, Janja vem interferindo em temas importantes da gestão desde que se instalou num gabinete ao lado da sala presidencial.Ao mesmo tempo, os jornais brasileiros informaram, com base no Portal de Transparência do governo, que a comitiva oficial integrada por Janja nos Jogos Olímpicos de Paris custou ao país pelo menos 236 mil reais (cerca de 37 mil euros) em quatro dias. Uma parte da equipa era responsável por filmar tudo o que a primeira-dama fazia e divulgar as imagens nas suas redes pessoais. Ela representou o presidente da República nos Jogos e recebeu tratamento de dignitário pelo governo francês.O gabinete da primeira-dama não existe oficialmente como uma estrutura do executivo mas oito pessoas trabalham diariamente no Palácio do Planalto com a socióloga, assessorando-a e acompanhando-a em viagens. O custo dessa estrutura foi de 3,8 milhões de reais, cerca de 600 mil euros, somados 2023 e 2024, revelou o site Poder360.“Os gastos a que [o site] se refere são compatíveis com as atividades realizadas por esses profissionais ao serviço da presidência”, respondeu o Planalto.Janja tem trocado acusações com políticos, humoristas e outras personalidades e dado opiniões cada vez mais controversas nas redes sociais e em eventos, o que pode, segundo observadores, ter contribuído para a queda de popularidade. Por exemplo, a 16 de novembro, durante uma mesa de debates com o influenciador Felipe Neto, num evento paralelo à cimeira do G20, a primeira-dama insultou o multimilionário Elon Musk.No fim do painel, ela pediu a palavra para destacar a dificuldade de aprovação de leis para regulamentar plataformas de redes sociais e reforçou o seu impacto em tragédias climáticas por causa da disseminação de informações falsas. Interrompeu então o discurso e disparou: “Acho que é o Elon Musk. Eu não tenho medo de você. Inclusive, fuck you, Elon Musk”.O multimilionário reagiu via X momentos depois com o símbolo “lol”, que significa gargalhada. E acrescentou que “eles”, referindo-se ao governo atual, vão perder as próximas eleições.No mesmo evento, Janja debochou de Tiü França, o terrorista que tentara dias antes explodir a sede do Supremo Tribunal Federal mas acabou por se suicidar. “O besta acabou se matando com fogo de artifício...”.E, nas eleições municipais de semanas antes, Janja e outras mulheres apoiantes de Guilherme Boulos, então candidato à prefeitura de São Paulo, divulgaram um resgatando uma queixa por suposta violência doméstica registado pela mulher do prefeito Ricardo Nunes em 2011. Nunes, que classificou o vídeo como “jogo baixo”, venceu Boulos com 59,35% dos votos válidos.