Com o secretário de Estado norte-americano a caminho para a 11.ª visita à região desde o ataque de há um ano do Hamas, e na ressaca dos bombardeamentos à instituição financeira do Hezbollah em Beirute, o ministro dos Negócios Estrangeiros israelita assegurou que o seu país não se vai deter enquanto o movimento xiita pró-iraniano não for derrotado. Um ataque “em grande escala” em Beirute e em todo o Líbano no domingo à noite e horas seguintes terão feito pelo menos 17 mortos e visaram no mínimo 11 sucursais da Associação al-Qard al-Hassan, instituição financeira afiliada ao Hezbollah. As forças israelitas disseram que os ataques foram “direcionados” e visaram “dezenas de instalações e locais” utilizados pelo Hezbollah para financiar as suas atividades contra Israel. “Continuaremos a atacar o mandatário iraniano até ao seu colapso”, declarou o ministro dos Negócios Estrangeiros, Israel Katz. Na sequência da crise financeira e económica que paralisa o Líbano - em parte causada pela crescente influência do Hezbollah - a associação al-Qard al-Hassan, apesar de registada como uma instituição de caridade sem fins lucrativos, é na prática um banco, com uma rede de caixas multibanco e conhecido por conceder empréstimos com ouro como garantia, o que levou a alargar a base de clientes para lá da comunidade xiita. Em 2007, Israel e os Estados Unidos acusaram a instituição de funcionar como o banco do Hezbollah. O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos condenou os “danos consideráveis” causados a “instalações civis”, em particular a “propriedades residenciais, infraestruturas civis e estabelecimentos comerciais” pelos bombardeamentos israelitas que visaram o grupo financeiro ligado ao Hezbollah. Com uma linguagem muito mais diplomática, os Estados Unidos apelaram para “Israel fazer tudo o que estiver ao seu alcance para não atingir as infraestruturas civis e respeitar o direito humanitário internacional e, em todas as suas operações, tomar todas as medidas possíveis para minimizar o impacto sobre os civis e as infraestruturas civis”, disse o porta-voz do Departamento de Estado, Vedant Patel. O enviado especial dos EUA Amos Hochstein esteve em Beirute, onde disse que o seu país está a “trabalhar numa fórmula para terminar o conflito” entre Israel e o Hezbollah, mas que a resolução da ONU que serviu para o fim do conflito, em 2006, já não serve. Já o chefe da diplomacia Antony Blinken, na sua nova ronda pelo Médio Oriente, vai “discutir a importância de pôr fim à guerra em Gaza”, disse o Departamento de Estado, mas não deverá ter no primeiro-ministro israelita alguém que concorde consigo..No domingo, a força de paz da ONU no Líbano (UNIFIL) acusou o exército israelita de ter destruído “deliberadamente” uma torre de observação das forças de manutenção da paz no sul do país. Em consequência, a Alemanha disse esperar que o governo israelita “esclareça todos os incidentes” que envolvam a missão da UNIFIL e “insta-o” a esclarecer a destruição da referida torre de observação bem como de uma vedação no sul do Líbano. “A segurança de uma operação mandatada pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas e do seu pessoal não deve ser posta em risco”, afirmou Kathrin Deschauer, porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros alemão. Também o presidente francês Emmanuel Macron, ao pedir a Netanyahu um cessar-fogo urgente, pediu a proteção dos civis e das infraestruturas. Num dos “casos mais graves de espionagem dos últimos anos”, como classificou o Ministério da Justiça de Israel, a polícia deteve sete israelitas, dois deles menores, acusados de espionagem a favor do Irão. Foram alegadamente recrutados por agentes dos serviços secretos iranianos e terão recolhido informações “sensíveis” sobre bases militares e instalações energéticas..Conferência pelos colonatos em Gaza.Perante centenas de ativistas de extrema-direita, vários ministros e membros do Likud, partido de Netanyahu, marcaram presença numa conferência de defesa do estabelecimento de colonatos judaicos na Faixa de Gaza. O encontro deu-se junto à fronteira entre Israel e Gaza. Bezalel Smotrich, o ministro das Finanças, alegou que sem colonatos não há segurança e disse que a Faixa de Gaza é “parte da terra de Israel”. Já o ministro da Segurança Nacional, Itamar Ben Gvir, defendeu “encorajar a emigração” dos palestinianos. .cesar.avo@dn.pt