Israel intensifica ataques no Líbano no meio das ameaças de Khamenei
O líder supremo do Irão, Ali Khamenei, defendeu que o ataque iraniano contra Israel foi “legal e legítimo”, apelando aos inimigos do “regime sionista” que “dupliquem os esforços” para o “eliminar”. As ameaças foram proferidas no sermão de sexta-feira, numa altura em que Israel intensifica os ataques no Líbano. “Cada golpe no regime sionista por parte de qualquer indivíduo ou grupo não é apenas um serviço para toda a região, mas para toda a humanidade”, alegou.
A última vez que Khamenei tinha pronunciado a oração de sexta-feira tinha sido há mais de quatro anos, por altura da morte de Qasem Soleimani, comandante da Força Quds dos Guardas da Revolução. Desta vez, o seu gesto foi para homenagear “o irmão” Hassan Nasrallah, o líder do Hezbollah morto num bombardeamento israelita a 27 de setembro que apelidou de “joia brilhante do Líbano”.
Depois de quase um ano de guerra na Faixa de Gaza para derrotar o Hamas, em resposta ao atentado terrorista de 7 de Outubro no qual 1200 pessoas morreram e mais de 200 foram raptadas, Israel virou nas últimas semanas as atenções para o Líbano e focou-se em decapitar a liderança do Hezbollah. No meio desse esforço, as Forças de Defesa de Israel (IDF, na sigla em inglês) prosseguem os bombardeamentos - incluindo a Beirute - e entraram no sul do Líbano pela primeira vez desde 2006.
“Como o inimigo maligno e abjeto é incapaz de infligir graves danos à sólida organização do Hezbollah, ao Hamas, à Jihad Islâmica e a outras organizações que lutam no caminho de Deus, considera o terrorismo, a destruição, o bombardeamento, a matança de civis e trazer sofrimento às pessoas desarmadas como sinal da sua vitória”, disse Khamenei. “A consequência deste comportamento é o aumento da raiva e da motivação das pessoas”, acrescentou, alegando que isso só levará ao “aumento do número daqueles que estão dispostos a sacrificar as suas vidas” e que isso “acabará por levar à eliminação da sua [de Israel] vergonhosa existência”.
Khamenei defende que o “regime sionista” só consegue resistir “com dificuldades” devido ao apoio dos EUA, que está apenas interessado em “apreender os recursos desta região”. O líder supremo do Irão insiste que os israelitas não irão conseguir derrotar o Hamas e o Hezbollah e pede aos inimigos de Israel que “dupliquem os esforços e capacidades” de forma a “resistir à agressão”.
Bombardeamentos no Líbano
A noite de quinta para sexta-feira voltou a ser de fortes bombardeamentos em Beirute, com os militares israelitas a alegar terem morto Muhamad Rashid Sakafi, responsável pelo sistema de comunicações do Hezbollah. Israel indicou ainda que outro dos seus alvos seria o potencial sucessor de Nasrallah, Hashem Safieddine, mas ontem ainda não era claro que tivesse sido bem sucedido. Os ataques já terão obrigado a fechar quatro hospitais no país.
Um outro bombardeamento israelita causou uma cratera de quatro metros de diâmetro na estrada junto ao posto fronteiriço de Masnaa, entre o Líbano e a Síria, usado por milhares de pessoas que procuram escapar ao conflito - pelo menos cem mil pessoas já fugiram do país. As IDF alegam que a passagem é usada pelo Hezbollah para a entrada de armas e que destruíram um túnel de 3,5 quilómetros de comprimento que existia para esse fim.
A ofensiva terrestre também continua no sul do Líbano, com os israelitas a reivindicar a morte de pelo menos 250 combatentes do Hezbollah em quatro dias. Isso não impediu o grupo xiita libanês de disparar uma centena de rockets em direção ao norte de Israel só na manhã de ontem. Segundo a televisão israelita, um responsável de segurança disse às famílias dos reféns que ainda estão em Gaza que as IDF deverão acabar os combates no sul do Líbano em duas ou três semanas. Depois a ideia é chegar a um acordo com o Hezbollah que abra a porta a um acordo para a libertação dos reféns.
Apesar de o foco do conflito ter mudado para o Líbano, enquanto se espera a resposta de Israel ao ataque de terça-feira do Irão, as IDF prosseguem as suas operações noutros locais. Na quinta-feira à noite, a Força Aérea israelita bombardeou Tulkarem, na Cisjordânia ocupada. Pelo menos 18 pessoas morreram, incluindo duas crianças, sendo que o alvo era um comandante do Hamas que os israelitas dizem que estava a planear um ataque para o aniversário dos atentados do 7 de Outubro.
Entretanto, pelo menos dois soldados israelitas morreram e mais de 20 ficaram feridos num ataque com drones de milícias iraquianas a uma base nos Montes Golã ocupados. A Resistência Islâmica do Iraque, parte do “eixo de resistência” liderado pelo Irão, disse que o seu objetivo era “destruir as fortalezas inimigas”.
susana.f.salvador@dn.pt