As Forças de Defesa de Israel (IDF, na sigla em inglês) começaram a demarcar com blocos de cimento amarelos a linha que assinala a zona para onde os militares recuaram após o cessar-fogo na Faixa de Gaza. A chamada linha amarela (que permite às IDF controlar ainda 53% do enclave palestiniano) tem sido ponto de tensão, com Israel a disparar contra alegados terroristas do Hamas que dizem aproximar-se da zona, tendo já morrido quase uma centena de palestinianos desde o início da trégua, a 10 de outubro. A construção começou na véspera da chegada do vice-presidente dos EUA a Israel. A visita de JD Vance já estava prevista ainda antes de o cessar-fogo ter estado em risco, no domingo, mas a expectativa é que o vice-presidente dos EUA reforce junte do primeiro-ministro israelita a mensagem de que é preciso manter a trégua. Esta segunda-feira (20 de outubro), o enviado-especial da Casa Branca ao Médio Oriente, Steve Witkoff, e o genro do presidente dos EUA Jared Kushner reuniram com Benjamin Netanyahu para discutir os “desenvolvimentos e atualizações na região” e preparar a chegada de Vance, prevista para esta terça-feira (21 de outubro). Donald Trump apostou a sua reputação no cessar-fogo e parece disposto a usar todos os seus trunfos para garantir que este não vai ruir. Em público, seguindo o guião de Israel, culpa o Hamas, tendo dito esta segunda-feira (20 de outubro) na Casa Branca que o grupo terrorista palestiniano “vai comportar-se” ou “nós vamos erradicá-lo”. Mas, em privado, segundo a imprensa israelita, o presidente terá pressionado Netanyahu, que ameaçou no domingo cortar a entrada de qualquer ajuda humanitária no enclave palestiniano. O objetivo inicial da viagem de Witkoff, Kushner e Vance era falar dos próximos passos do plano de paz de 20 pontos do presidente dos EUA. A primeira fase do plano permitiu a entrada em vigor do cessar-fogo, o recuo dos militares israelitas para a linha amarela e a libertação dos 20 reféns que ainda estavam vivos e dos corpos de outros 12 (o Hamas entregou na noite desta segunda-feira, 20 de outubro, mais um corpo, que a confirmar-se ser de um refém deixa ainda 15 em falta). .Israel garante que cessar-fogo continua apesar de bombardeamentos.Mas Israel acusa o Hamas de violar o cessar-fogo, com a aproximação de alegados terroristas da linha amarela que representam uma “ameaça imediata” e põem em causa a segurança dos seus militares. Para tentar evitar que isso se repita, esta linha está a ser demarcada por blocos de cimento pintados de amarelo e colocados a cada 200 metros (dependendo do terreno). No domingo (19 de outubro), foi contudo a morte de dois militares israelitas, num tiroteio em Rafah com o Hamas (que disse desconhecer a situação) que desencadeou bombardeamentos por parte das IDF, deixando o cessar-fogo por um fio. As IDF “vão continuar a operar para remover qualquer ameaça às tropas e para defender os civis do Estado de Israel”, indicaram os militares em comunicado. Netanyahu disse esta segunda-feira (20 de outubro) no Knesset que foram lançadas 153 toneladas de bombas, tendo a Casa Branca alegadamente pedido contenção na resposta. E também pressionado o primeiro-ministro israelita para que não cortasse a entrada de ajuda humanitária no enclave palestiniano. Um recado que Vance deverá repetir no encontro com Netanyahu, enquanto prepara a próxima fase do plano de 20 pontos - o Hamas também continua a dialogar com os mediadores no Egito. Segundo o The Guardian, a Administração norte-americana vai apresentar em breve uma proposta de resolução no Conselho de Segurança das Nações Unidas para uma força internacional de estabilização de paz para a Faixa de Gaza. Reino Unido e França também estão a trabalhar no texto, com Trump a querer alegadamente que a força tenha o mandato da ONU, mas não seja de capacetes-azuis. A força será alegadamente liderada pelo Egito, sendo que até ao momento só a Indonésia se comprometeu com 20 mil homens. O Azerbaijão também já se disponibilizou, falando-se do eventual envolvimento da Turquia.Entretanto, Witkoff disse que a reconstrução da Faixa de Gaza poderá custar cerca de 57,5 mil milhões de euros, depois de os ataques israelitas terem reduzido grande parte do território a escombros. “As estimativas rondam os 50 mil milhões de dólares”, disse o enviado-especial numa entrevista à CBS News. “Pode ser um pouco menos, pode ser um pouco mais”, admitiu.