O presidente norte-americano, Donald Trump, avisou na segunda-feira à noite que “o inferno vai rebentar” se “todos os reféns israelitas não forem devolvidos até sábado ao meio-dia”. O Hamas, que tinha anunciado antes que ia adiar a libertação prevista de três reféns por causa das “violações” do cessar-fogo de Israel, respondeu a Trump dizendo que “a linguagem das ameaças não tem qualquer valor e só complica as coisas”. O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, reforçou contudo o ultimato, avisando que se os reféns não forem libertados “o cessar-fogo será terminado” e as Forças de Defesa de Israel (IDF, na sigla em inglês) vão “retomar os intensos combates até à derrota final do Hamas”.O cessar-fogo, cuja primeira fase começou há pouco mais de três semanas e a segunda fase ainda tem que ser negociada, enfrenta o seu momento de maior fragilidade. Mas apesar de Trump ter pedido a libertação de “todos os reféns” (há ainda 76 na Faixa de Gaza), do lado israelita parece haver alguma contenção, com Netanyahu a não falar num número concreto na sua declaração depois de quatro horas de reunião do conselho de segurança. A omissão de um número deixa a porta aberta a que o cessar-fogo se possa manter se só forem libertados os três reféns que estavam inicialmente previstos no acordo de cessar-fogo, apesar de uma fonte oficial israelita ter dito ao site The Times of Israel que podia significar os nove da primeira fase que ainda estão vivos. Há oito da lista de 33 que o Hamas já disse que estão mortos, tendo os restantes sido libertados a conta-gotas nas últimas semanas. .Em Israel, Paulo Rangel volta a defender a solução de dois Estados. O Hamas disse, na segunda-feira, que Israel “violou” os termos do acordo de cessar-fogo nas últimas semanas, incluindo atrasar o regresso dos deslocados ao norte da Faixa de Gaza e não permitir a entrada de ajuda aos níveis previstos. “Por isso, a entrega dos prisioneiros sionistas que estava prevista para o próximo sábado vai ser adiada até nova indicação”, indicou no Telegram o porta-voz das Brigadas Al-Qassam, Abu Obaida.Em resposta, em declarações aos jornalistas na Sala Oval, o presidente norte-americano fez o ultimato ao Hamas a exigir a libertação de todos os reféns. “Trump deve lembrar-se que existe um acordo que ambos os lados devem respeitar e que esta é a única forma de trazer os prisioneiros de volta”, disse por seu lado à AFP um dirigente do grupo terrorista palestiniano Sami Abu Zuhri. “A linguagem das ameaças não vale nada e só complica ainda mais as coisas”, acrescentou. Trump recebe rei da JordâniaO presidente admitiu esta terça-feira que o cessar-fogo está em risco, não se mostrando confiante de que o Hamas vá libertar todos os reféns. “Ou entregam todos até às 12.00 ou tudo pode acontecer.” Trump recebeu na Casa Branca o rei Abdullah II da Jordânia, país que quer que acolha (com o Egito) os palestinianos da Faixa de Gaza - território que quer “controlar” para desenvolver economicamente. “Não vamos ter que comprar” Gaza, disse, quando questionado sobre que dinheiro ia usar para o fazer. “Não há nada para comprar. Vamos ter Gaza. É uma área devastada pela guerra.”Na véspera, o presidente norte-americano tinha ameaçado a Jordânia e o Egito com o corte de apoio económico, caso não aceitassem receber os palestinianos. Mas esta terça-feira pareceu recuar nessa ideia. “Não temos que ameaçar com isso. Acho que estamos acima disso”, afirmou Trump, que parece ter encurralado o rei Abdullah II com a conferência de imprensa - os jornalistas tinham sido informados que não haveria sequer fotos do encontro. Quando Trump foi questionado sobre o que achava da resistência da Jordânia em acolher os palestinianos, passou a pergunta para o rei. O monarca disse que apoia Trump na ideia de conseguir paz e prosperidade no Médio Oriente, mas optou por lembrar que o Egito também quer apresentar a sua ideia e que era preciso esperar. Abdullah II disse contudo que vai receber duas mil crianças palestinianas que sofrem de cancro ou estão muito doentes, com Trump a falar num “gesto bonito”.