O chefe da diplomacia israelita, Gideon Sa'ar, disse esta quinta-feira que "existe uma linha direta que liga o incitamento antissemita e anti-Israel" à morte de dois funcionários da embaixada num tiroteio em Washington. E aponta o dedo à Europa. A acusação, numa conferência de imprensa, surge depois de os europeus terem intensificado as suas críticas por causa da nova ofensiva israelita na Faixa de Gaza e da falta de entrada de ajuda humanitária no enclave. E depois de, na véspera, os europeus terem pedido explicações após vários diplomatas terem sido recebidos a tiro pelas Forças de Defesa de Israel (IDF, na sigla inglesa) numa visita ao campo de refugiados na Cisjordânia."Este incitamento é também feito por muitos líderes e oficiais de muitos países e organizações internacionais, especialmente da Europa", indicou Sa'ar, que comparou a retórica europeia a "libelos de sangue modernos". A expressão "libelo de sangue" é, segundo o The Washington Post, "particularmente incendiária" e tem sido repetida várias vezes nos últimos meses por responsáveis israelitas.O jornal norte-americano lembra que a expressão remonta à antiguidade, quando a violência contra os judeus era justificada com falsos rumores de que eles roubavam e matavam bebés cristãos, comiam as entranhas dos gentios ou participavam noutros rituais de sangue sórdidos. "A atmosfera global colocou em risco o sangue israelita e judeu. É o que acontece quando líderes mundiais se rendem à propaganda terrorista palestiniana. E a servem. As suas declarações e ataques culpam Israel, em vez do Hamas", acrescentou, lançando um apelo a esses líderes e autoridades: "Parem com a incitação contra Israel. Parem com as falsas acusações. Fortaleçam Israel na sua batalha histórica contra o eixo do mal no Médio Oriente."Sa'ar não nomeou os países em causa, mas considerou que o clima de hostilidade para com Israel esteve por detrás do ataque que matou Yaron Lischinky e Sarah Lynn Milgrim no exterior do Museu Judaico de Washington. Um homem de 30 anos, identificado como Elias Rodriguez, de Chicago, foi detido pelas autoridades enquanto gritava "Palestina Livre".Ao contrário de Sa’ar, o ministro da Diáspora, Amichai Chikli, apontou o dedo ao presidente francês, Emmanuel Macron, ao primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, e ao canadiano Mark Carney. Disse serem “líderes irresponsáveis do Ocidente que apoiam este ódio”. No X alegou que, “de formas diferentes, encorajaram as forças do terror por não conseguirem estabelecer limites morais. Esta cobardia tem um preço - e esse preço é pago com sangue judeu”.Foi também no X que o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, lançou duros ataques contra Macron, Starmer e Carney, acusando os três líderes de estarem “do lado errado da humanidade, do lado errado da História”O crime em Washington foi repudiado pela comunidade internacional, a mesma que na véspera tinha exigido explicações pelo ataque aos diplomatas - entre eles o português Frederico Nascimento, chefe de missão em Ramallah. As IDF lamentaram o sucedido, indicando que os diplomatas tinham saído do percurso previamente autorizado e que os soldados ali presentes não tinham conhecimento da visita, tendo disparado para o ar.“O facto de se ser muito crítico sobre o que está a acontecer em Gaza e a responsabilidade que o Governo de Israel tem, nomeadamente por ter bloqueado a ajuda humanitária durante dois meses, não significa que não se seja igualmente muito crítico de toda a violência antissemita”, disse aos jornalistas o ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal, Paulo Rangel. “Uma coisa não tem nada a ver com a outra e ambas merecem uma condenação categórica.”Também foi publicada uma mensagem no X, na conta oficial do Ministério..Horas antes, numa outra mensagem no X, condenava-se também o ataque aos diplomatas. Mais tarde, o Ministério anunciava ter chamado para consultas o embaixador de Israel em Portugal. .Entre os “líderes irresponsáveis” referidos por Chikli, Macron não condenou no X o ataque, dizendo apenas ter enviado ao homólogo israelita, Isaac Herzog, os seus “pensamentos às famílias e entes queridos das vítimas”. Por seu lado, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Jean-Noël Barrot, denunciou um “ato abominável de barbárie antissemita” e disse que “nada pode justificar tamanha violência”. Na véspera tinha considerado “inaceitável” o ataque contra os diplomatas. Em resposta à acusação de “incitamento antissemita”, o porta-voz do Ministério, Christophe Lemoine, falou de comentários “injustificados”. E insistiu: “França condenou, França condena e França vai continuar sempre a condenar e sem ambiguidade todos os atos antissemitas.”Starmer também condenou “veementemente” a morte dos dois funcionários da embaixada em Washington, defendendo que “o antissemitismo é um mal que devemos erradicar onde quer que ele apareça” e dizendo-se “solidário com a comunidade judaica”. Dois dias antes, o seu chefe da diplomacia, David Lammy, tinha anunciado que o Reino Unido suspendia as negociações para um acordo comercial com Israel, denunciando as suas “políticas escandalosas” na Faixa de Gaza e na Cisjordânia.Ajuda a conta-gotas“Pela primeira vez em dois meses, uma mão-cheia de padarias apoiadas pelo Programa Alimentar Mundial no sul e no centro de Gaza estão a produzir pão fresco outra vez”, revelou a organização das Nações Unidas no X, dias depois de Israel ter voltado a autorizar a entrada de ajuda humanitária no enclave palestiniano. Pelo menos 118 camiões já cruzaram a fronteira em Kerem Shalom desde segunda-feira, sendo que as organizações humanitárias dizem que é preciso que entrem centenas todos os dias para evitar situações de fome extrema.Entretanto, Israel prossegue também a operação militar na Faixa de Gaza, com as IDF a ordenar a evacuação de Jabalia e Beit Lahiya, no norte, agora consideradas “perigosas zonas de combate”. .Yaron ia pedir Sarah em casamento. Quem são os dois funcionários da embaixada israelita mortos a tiro?