O Irão terá sinalizado a três países do Golfo Pérsico que pretende um cessar-fogo imediato com Israel e o regresso às conversações com os Estados Unidos, enquanto Donald Trump disse que os iranianos devem chegar a acordo “antes que seja tarde demais”. Ao mesmo tempo, os meios de comunicação estatais davam como certo que Teerão preparava o “maior e mais intenso ataque de mísseis da história em solo israelita” e o Parlamento começou a preparar legislação para que a República Islâmica abandone o Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares. O ministro dos Negócios Estrangeiros do Irão recorreu ao X para reiterar a ideia lançada na véspera de que o seu país está interessado no fim da troca de ataques com Israel. Agora, porém, com uma mensagem dúplice. “Basta um único telefonema de Washington para silenciar alguém como Netanyahu”, escreveu Abbas Araghchi, em referência ao primeiro-ministro israelita. “Isso pode abrir caminho para um regresso à diplomacia.” O Irão, que suspendeu a sexta ronda de negociações com os Estados Unidos, em Omã, diz que só com as armas caladas é que o diálogo pode retomar. Mais tarde, o chefe da diplomacia iraniana voltou à rede social propriedade de Elon Musk para, num tom menos pacificador, afirmar que as “poderosas forças armadas” iranianas “mostram ao mundo que os criminosos de guerra escondidos em abrigos em Telavive não ficarão impunes pelos seus crimes” e que, pelo caminho, se continuará a “bombardear esses cobardes pelo tempo que for necessário para que parem de disparar” contra o povo iraniano. .“Dois terços da população do Irão opõem-se ao regime e nunca apoiarão Khamenei” . No recato das vias diplomáticas, Teerão pediu à Arábia Saudita, ao Omã e ao Qatar para estes servirem de intermediários para com os Estados Unidos de forma a que o seu presidente exercesse a sua influência para que as operações militares israelitas sejam suspensas o quanto antes. Em troca, os representantes de Teerão sentar-se-iam de novo com os diplomatas de Washington contanto que os EUA não se juntem às operações ofensivas de Israel, disseram várias fontes ao The Wall Street Journal. Segundo um diplomata europeu ouvido pelo The Washington Post, os esforços para sentar à mesma mesa norte-americanos e iranianos estão a ser liderados por catarianos e omanenses. Já uma fonte iraniana disse à Reuters que Teerão está disposta a mostrar-se mais flexível nas negociações nucleares com os EUA. Até que ponto, desconhece-se. Até agora, o Irão recusou impor limites ao enriquecimento de urânio, embora mantenha que apenas pretende a energia nuclear para fins civis e não para fabricar armas nucleares. No entanto, depois de a Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA) ter acusado o Irão de violar os seus compromissos de não proliferação nuclear pela primeira vez em quase 20 anos e de Israel ter lançado bombardeamentos a instalações e a cientistas nucleares, o Parlamento iraniano anunciou que está a preparar legislação para que o país se retire do Tratado de Não Proliferação Nuclear, do qual fazem parte quase todos os países, à exceção de Coreia do Norte, Israel, Índia e Paquistão, todos potências nucleares (embora Israel não o admita). Chegado à cimeira do G7 em Kananaskis (Canadá), o presidente norte-americano advertiu: “Eles deveriam ter feito isso antes. Eu tive 60 dias e eles tiveram 60 dias [para chegar a um acordo nuclear]. E no 61.º dia, eu disse: ‘Não temos um acordo.’ Eles têm de chegar a um acordo. E isso é doloroso para ambas as partes. Mas eu diria que o Irão não está a ganhar esta guerra... e eles devem conversar imediatamente, antes que seja tarde demais.” .Trump urge todos os cidadãos de Teerão a "deixar imediatamente" a capital iraniana . Enquanto mediador, o Omã está a trabalhar num documento segundo o qual os EUA aceitariam a suspensão de todo o enriquecimento nuclear pelo Irão durante um período mínimo de um ano, com inspeções da AIEA; passado esse período o Irão poderia enriquecer urânio até 3,67% de pureza, o nível necessário para produzir combustível. O Irão não se ficou pelos esforços diplomáticos junto dos países árabes. O presidente Massoud Pezeshkian manteve uma conversação com o homólogo turco Recep Tayyip Erdogan depois de este ter falado com Vladimir Putin. Erdogan disse que poderia assumir um papel de facilitador. Na véspera, Trump sugeriu que o russo poderia desempenhar um papel de mediação. No entanto, ao condenarem a ação militar israelita, dificilmente poderão ser chamados a mediar. Em especial, Putin. “A Rússia não tem qualquer credibilidade. A Rússia viola em permanência o direito internacional”, lembrou o porta-voz da Comissão Europeia Anouar El Anouni. Netanyahu não exclui alvejar KhameneiAté à diplomacia fazer efeito, as operações militares prosseguem. O exército israelita disse ter destruído na segunda-feira mais de 120 lançadores de mísseis terra-terra, ou seja, um terço dos existentes, os centros de comando das Forças Quds, o braço internacional dos Guardas da Revolução, e a sede da TV estatal iraniana. Israel avisara os residentes da área para a abandonarem (horas depois o Irão fez um aviso similar sobre as estações israelitas N12 e N14). Depois de as emissões serem retomadas, o exército israelita disse que o edifício escondia infraestruturas militares. Mas mais tarde Netanyahu justificou o alvo por ser um instrumento de propaganda. Por parte de Israel, o tom não é de quem queira pôr termo ao conflito nas próximas horas. O conselheiro de segurança nacional Tzachi Hanegbi disse à Rádio do Exército que é cedo para terminar as operações. “Não se entra numa guerra e se procura pôr-lhe fim três dias depois”, afirmou. E em entrevista à ABC News, o primeiro-ministro não excluiu atentar contra a vida do guia supremo Ali Khamenei. “Vamos fazer o que é necessário. Não vai escalar o conflito, vai pôr termo ao conflito”, disse..E aindaDúvidas sobre Natanz O diretor-geral da Agência Internacional de Energia Atómica disse não haver indícios de que o bombardeamento de sexta-feira às instalações nucleares iranianas de Natanz tenham causado danos na sua secção subterrânea. No entanto, disse Rafael Grossi, a perda de energia pode ter danificado as centrífugas. Mais tarde, contudo, em declarações à BBC, o argentino corrigiu as declarações. "A nossa avaliação é que, com esta perda repentina de energia externa, é muito provável que as centrífugas tenham ficado gravemente danificadas, se não totalmente destruídas", disse Grossi à emissora britânica.Porta-aviões a caminho O porta-aviões da Marinha dos EUA USS Nimitz, que iria aportar em Danang, no Vietname, na sexta-feira, devido a “uma necessidade operacional urgente” abandonou as águas do Mar do Sul da China e dirige-se para o Médio Oriente, segundo a Reuters. Mercados em altaO preço do crude caiu mais de 3% e os mercados bolsistas da Europa e dos EUA voltaram a subir. O receio de uma disrupção no abastecimento de petróleo bruto da região terá baixado tendo em conta as notícias de que o Irão pretende pôr fim às hostilidades. Na sexta-feira, o preço do crude subiu mais de 7%.Apelo iranianoNarges Mohammadi e Shirin Ebadi (ambas Prémio Nobel da Paz), Jafar Panahi e Mohammad Rasoulof (cineastas premiados no Festival de Cannes) e os defensores dos Direitos Humanos Segheh Vasmaghi, Shanaz Akmali e Abdolfattah Soltani apelaram ao “fim das hostilidades” e à cessação do enriquecimento de urânio por parte do seu país. “A continuação do enriquecimento de urânio e a guerra devastadora entre a República Islâmica e o regime israelita não servem os interesses do povo iraniano nem os da humanidade”, escrevem num artigo publicado no Le Monde.