O primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, defendeu que o Reino Unido pode ter um papel de destaque no desarmamento do Hamas, com base na sua experiência na Irlanda do Norte. O processo de paz que pôs fim aos Troubles, o período de violência entre católicos e protestantes de 1968 a 1998, pode inspirar o processo de paz na Faixa de Gaza. Mas há diferenças muito grandes - desde o número de vítimas até ao facto de o IRA (o Exército Republicano Irlandês) nunca ter governado o território, ao contrário do Hamas - e um aviso: o desarmamento do IRA demorou anos.“É claro que vai ser difícil [o desarmamento do Hamas], mas é vital. Foi difícil na Irlanda do Norte em relação ao IRA, mas foi vital”, disse Starmer no Parlamento britânico, na terça-feira. “É por isso que dissemos que estamos prontos, com base na nossa experiência na Irlanda do Norte, para ajudar no processo de desmantelamento. Não vou fingir que é fácil, mas é extremamente importante”, insistiu o chefe do Governo.O ex-primeiro-ministro britânico Tony Blair, apontado como possível responsável pelo Conselho de Paz que vai supervisionar a nova gestão do enclave, foi um dos arquitetos dos Acordos de Sexta-Feira Santa, que em 1998 puseram fim aos Troubles. Outros dos atores foi o seu chefe de gabinete, Jonathan Powell, atualmente conselheiro de Segurança Nacional de Starmer - elogiado pelo seu papel nas negociações pelo enviado especial da Casa Branca, Steve Witkoff. “Não há um paralelo perfeito entre as duas lutas, mas convém lembrar que o conflito da Irlanda do Norte também foi descartado como insolúvel”, lembrou a jornalista norte-americana Megan K. Stack, que cobriu a Irlanda do Norte para o The New York Times, num artigo de opinião ainda antes do cessar-fogo.“Décadas de negociações furtivas e infrutíferas precederam o acordo, e parte do trabalho mais árduo veio depois, quando os inimigos jurados tiveram de repente de governar juntos enquanto os insurgentes se agarravam às suas armas escondidas”, acrescentou. “O desarmamento paramilitar foi uma das últimas concessões de confiança arduamente conquistadas, e não o primeiro passo. (Lembro-me disto sempre que vejo exigências para que o Hamas entregue as armas imediatamente)”, insistiu. Ainda na terça-feira à noite, questionado pelos jornalistas em relação ao desarmamento do Hamas, o presidente norte-americano, Donald Trump, foi claro: “Eles vão desarmar, porque disseram que iam desarmar. E se não desarmarem, nós vamos desarmá-los”, afirmou na Casa Branca, deixando o aviso “vai acontecer rapidamente e talvez violentamente”. Na Irlanda do Norte, os Acordos de Sexta-Feira Santa (que preveem a partilha do poder entre as duas comunidades) foram aprovados em referendo a 22 de maio de 1998, mas só sete anos depois é que o IRA finalmente abdicou das armas e declarou o fim formal do conflito.