Impeachment contra Trump vai eclipsar início do mandato de Biden

Joe Biden promete um "novo capítulo" e já anunciou o pacote de recuperação bilionário e o plano de vacinação. Mas Trump vai dominar as conversas durante semanas e o processo pode complicar confirmação dos nomes da nova administração e atrasar aprovação das prioridades legislativas.

Joe Biden parece desejoso de chegar à Casa Branca para começar a pôr em prática os seus planos, seja o de recuperação económica no valor de 1,9 biliões de dólares ou o de vacinação para tentar reverter a tendência de crescimento da covid-19. Mas, passada a tomada de posse de quarta-feira, a história promete continuar a ser uma: a do impeachment a Donald Trump e dos acontecimentos que lavaram à invasão do Capitólio. O processo de destituição ameaça eclipsar as primeiras semanas do mandato de Biden.

O tema da tomada de posse é "América Unida", tendo o democrata defendido que a única maneira de ultrapassar os obstáculos com que o país se depara é através da união. Biden nunca esperou que esta fosse imediata, mas os planos de começar a pôr para trás os quatro anos de presidência de Trump esbarram no impeachment, que só começará no Senado depois. "Não chegámos aqui da noite para o dia, e não sairemos de um dia para o outro. E não podemos fazer isto como uma nação separada e dividida", defendeu, prometendo um "novo capítulo".

Por muito que Trump deixe Washington (e estará a planear fazê-lo na manhã da tomada de posse de Biden, à qual já tinha dito que não iria), no Senado o processo de impeachment pode arrastar-se. O primeiro de Trump, no final de 2019, foi o mais rápido dos três que ocorreram, mas ainda assim demorou 21 dias. O mais longo, o de Andrew Johnson em 1868, levou 83 dias.

Além disso, o julgamento no Senado pode atrasar as audiências de confirmação dos nomes escolhidos por Biden para a sua administração - seria preciso o consenso dos cem senadores para permitir que os dois procedimentos seguissem em paralelo. O presidente eleito já disse esperar que o Senado consiga "bifurcar" e avançar com o impeachment de manhã e as confirmações à tarde, junto com o debate sobre o pacote de estímulos. Isto porque o julgamento poderá também atrasar as prioridades legislativas que o democrata possa ter, com o plano de 1,9 biliões de dólares de recuperação económica à cabeça.

A única opção é a líder da Câmara dos Representantes, a democrata Nancy Pelosi, atrasar a entrega do artigo de impeachment contra Trump ao Senado. Mas isso não parece uma hipótese, tendo em conta que ela até queria que o ainda líder da maioria republicana no Senado, Mitch McConnel, chamasse os senadores mais cedo a Washington para avançar o mais rapidamente possível. Pelosi não se quis ainda comprometer com uma data. O facto de os senadores só regressarem a 19 de janeiro implica também que não tenha havido ainda as audições dos membros da futura administração, pelo que não se esperam aprovações relâmpago como noutras ocasiões. E McConnel já disse que se receber o artigo logo na terça-feira, o processo de impeachment começa na quarta, às 13h00 (uma hora depois da posse).

Dinheiro e vacinas

Biden apresentou na quinta-feira o seu plano de recuperação económica no valor de 1,9 biliões de dólares, que tem de ser aprovado pelo Senado. Deste valor, um bilião será para apoios diretos às famílias, com cheques de 1400 dólares, ajudas para pagar água e luz ou o aumento do salário mínimo. Cerca de 400 mil milhões serão para acelerar a vacinação contra a covid-19, aumentar o número de testes ou reduzir o número de alunos por sala de aula para permitir reabrir as escolas. O restante é para as comunidades que foram mais afetadas.

Nesta sexta-feira, o democrata apresentou o plano de vacinação, com a meta ambiciosa de administrar cem milhões de doses de vacina em cem dias - desde o início da vacinação nos EUA, a 14 de dezembro, já foram administradas menos de 12 milhões de doses, longe do objetivo de 20 milhões de Trump.

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