O Governo israelita estava a equacionar reabrir esta quinta-feira (16 de outubro) a fronteira de Rafah, no sul da Faixa de Gaza, depois de um atraso de 24 horas para pressionar o Hamas a entregar os corpos dos últimos reféns que ainda estão no enclave. O grupo terrorista palestiniano disse que ia entregar mais dois corpos na noite desta quarta-feira, 15 de outubro, apesar de o Qatar ter admitido que seriam cinco. No entanto, o grupo terrorista já veio dizer que entregou todos os reféns mortos mantidos na Faixa de Gaza a que teve acesso, sendo que a Cruz Vermelha confirmou a entrega dos dois corpos que estavam prometidos. Isto depois de, na terça-feira, 14 de outubro, ter devolvido três (um quarto não foi identificado como refém). Israel parou para o funeral de Guy Illouz, devolvido a casa na segunda-feira. Centenas de pessoas acompanharam o caixão de Illouz e outras centenas assistiram com bandeiras israelitas na mão à sua passagem até Ra’anana, a terra da família, onde foi sepultado. “Como se faz o elogio fúnebre de um filho e de uma criança amada?”, disse o pai, Michel Illouz. “Descansa agora, meu querido. Descansa depois de dois anos a viajar por mundos desconhecidos para nós. Amo-te, meu amado filho primogénito”, afirmou.Illouz, que era um músico e técnico de som, foi raptado no festival Nova a 7 de outubro de 2023. O jovem de 26 anos ainda tentou fugir de carro quando o ataque começou, mas os terroristas dispararam contra o veículo, atingindo-o no braço e matando um dos seus amigos. Levado para o hospital Al-Shifa, na Faixa de Gaza, não terá recebido tratamento adequado e acabou por morrer semanas depois. O relato dos seus últimos dias foi feito por outra refém, Maya Regev, que esteve com ele no hospital e foi libertada em novembro de 2023.O corpo de Illouz foi um dos quatro entregues pelo Hamas logo na segunda-feira, quando também libertou os 20 reféns que ainda estavam vivos. As famílias pressionaram o Governo israelita, exigindo o regresso de todos os 28 corpos, mas o Hamas alega que não sabe onde estão alguns deles. A desconfiança é muita.Perante o não cumprimento do acordo, Israel anunciou que ia adiar a reabertura da fronteira de Rafah (no sul da Faixa de Gaza) e cortar para metade o número de camiões com ajuda humanitária autorizados a entrar. Dos pelo menos 600 camiões previstos no acordo, só deviam entrar 300, O Hamas anunciou então que ia libertar, na terça-feira à noite, os corpos de mais quatro reféns. Mas, segundo as Forças de Defesa de Israel (IDF, na sigla em inglês), após os exames no Instituto de Medicina Legal, concluiu-se que um dos quatro corpos não corresponde a um dos reféns. “O Hamas deve envidar todos os esforços necessários para devolver os reféns falecidos”, dizia o comunicado das IDF. Uma fonte da Hamas disse ao canal de televisão árabe Al-Jazeera que o quarto cadáver é de um “soldado que foi capturado durante uma operação de resistência”. A mesma fonte indicou que o incidente ocorreu em maio de 2024 no campo de refugiados de Jabalia, no norte da Faixa de Gaza, tendo o soldado sido morto e o seu corpo capturado. As IDF negaram na altura o incidente revelado pelo Hamas, lembra o The Times of Israel, e esta quarta-feira (15 de outubro) não confirmaram a identidade do quarto corpo, dizendo que era de um palestiniano que tinha vestido um uniforme das IDF.Ainda assim, e perante a possibilidade (confirmada pela Cruz Vermelha) de mais dois reféns serem devolvidos (ficando a faltar outros 19), Israel preparava-se para reabrir a passagem de Rafah, a única entre a Faixa de Gaza e o Egito, tanto para a passagem de bens, como de pessoas. A fronteira será supervisionada pela Missão de Assistência Fronteiriça da União Europeia. “Continuamos em prontidão e prontos para mobilizar a curto prazo”, disse aos jornalistas o porta-voz do Serviço de Ação Externa da União Europeia, Anouar El Anouni, sem adiantar mais pormenores sobre datas. Havia ainda informações contraditórias sobre se os 600 camiões de ajuda humanitária tinham entrado como previsto no enclave palestiniano ou se Israel sempre tinha cumprido a ameaça de só permitir a entrada de metade, para forçar o Hamas a devolver mais corpos. .O subsecretário-geral da ONU para os Assuntos Humanitários, Tom Fletcher, pediu ontem ao Hamas para devolver todos os reféns, como acordado, mas também a Israel para não usar a ajuda como “moeda de troca”, falando de uma “obrigação legal”.Os reféns cujos corpos foram devolvidos na terça-feira à noite foram identificados como Uriel Baruch, de 35 anos, Tamir Nimrodi, de 20, e Eitan Levy, de 53. “O Governo de Israel partilha a profunda dor das famílias Baruch, Nimrodi e Levy, e de todas as famílias dos reféns mortos”, afirmou o gabinete do primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, em comunicado, alertando o Hamas que “é obrigado a cumprir os seus compromissos com os mediadores e a devolver [os restantes corpos] como parte da implementação do acordo”. O gabinete de Netanyahu insistiu: “Não faremos concessões e não pouparemos esforços até trazermos de volta todos os reféns mortos, cada um deles.” O primeiro-ministro foi entretanto criticado porque foi visitar alguns dos reféns que regressaram com vida estando doente, tendo ontem sido diagnosticado com inflamação residual do trato respiratório. Os médicos indicaram contudo que não era contagioso e Netanyahu vai assistir esta quinta-feira (16 de outubro) a duas cerimónias em memória das vítimas do ataque de 7 de Outubro e dos militares mortos durante os dois anos de guerra. Não é só o grupo terrorista palestiniano que está a devolver corpos. Israel também já entregou 90 cadáveres através da Cruz Vermelha Internacional (45 deles esta quinta-feira), com fontes médicas a dizer à Al-Jazeera que alguns estavam vendados e algemados, sugerindo que possam ter sido “executados”. Outros tinham alegadamente marcas de terem sido atropelados por tanques.Entretanto, mais duas pessoas foram mortas pelos militares israelitas no bairro de Shejaiya, a leste da cidade de Gaza, e uma terceira no sul do enclave, com as IDF a dizerem que várias pessoas cruzaram a “linha amarela” - a linha para onde os israelitas recuaram dentro do enclave, permitindo-lhes ainda controlar 53% do território. As IDF falam numa “clara” violação do acordo de cessar-fogo..Desmilitarização, força de estabilização, governação e reconstrução: incógnitas do futuro da Faixa de Gaza