A festa pelo regresso dos últimos 20 reféns com vida que ainda estavam nas mãos do Hamas embateu na tristeza de saber que o grupo terrorista palestiniano só entregou os corpos de quatro dos 28 que estão mortos. “O Fórum das Famílias de Reféns pede a suspensão imediata de toda a implementação do acordo até que todos os mortos sejam devolvidos”, indicaram em comunicado, enquanto pais e filhos se voltavam a abraçar ao final de 738 dias. Do lado palestiniano, quase dois mil presos também foram recebidos em festa na Faixa de Gaza e na Cisjordânia ocupada. “Podemos respirar de novo”, disse a família de Matan Angrest, de 22 anos. O soldado das Forças de Defesa de Israel foi capturado quando o seu tanque foi atacado pelo Hamas perto da vedação na fronteira da Faixa de Gaza, no ataque de 7 de outubro de 2023. “O nosso Matan está em casa. O nosso amado menino foi-nos devolvido após dois anos complexos, e estamos muito orgulhosos dele”, acrescentaram, agradecendo ao presidente dos EUA, Donald Trump. “A alegria na nossa família mistura-se com a tristeza pelos assassinados e por aqueles que não foram devolvidos com vida.”Os primeiros sete reféns foram entregues à Cruz Vermelha por volta das 8h00 locais (6h00 em Lisboa) desta segunda-feira (13 de outubro). Os restantes, 13 horas mais tarde. Entre os 20, havia três que têm também nacionalidade portuguesa. Desta vez não houve cerimónias como noutras ocasiões, mas o Hamas fez com que os reféns fizessem videochamadas para as famílias antes das libertações. Transferidos para o controlo das Forças de Defesa de Israel ainda dentro do enclave palestiniano, os reféns foram depois transportados para a base Reim (junto à fronteira com Gaza), para o primeiro reencontro com as famílias, antes de serem levados de helicóptero para vários hospitais onde vão recuperar. “Durante dois anos, esperámos por este momento - o momento em que a nossa pequena família estaria novamente unida. O homem que é a minha casa finalmente voltou para mim e, mais importante, para o Reem”, disse num comunicado Rivka Bohbot, mulher de Eikana Bohbot. “O nosso Reem já fez cinco anos e hoje vai finalmente celebrar verdadeiramente o momento do reencontro com o pai. O Reem poderá finalmente chamar o papá e o papá responderá, abraçá-lo-á e brincará com ele.”Mas para o Fórum das Famílias de Reféns, a luta ainda continua até à libertação de todos. Assim que o Hamas indicou que só entregaria quatro corpos, do total de 28 que tem (incluindo outros três com nacionalidade portuguesa), pediram a suspensão dos acordos. “A violação do acordo por parte do Hamas deve ser enfrentada com uma resposta muito séria por parte do governo e dos mediadores. Um acordo deve ser honrado por ambas as partes. Se o Hamas não cumprir a sua parte, Israel também não deverá cumprir a sua”, indicaram. Os quatro corpos foram também entregues à Cruz Vermelha, não havendo indicação de quando os restantes podem ser devolvidos às famílias. Os responsáveis do Hamas já tinham avisado que havia corpos que não sabiam onde estavam, quer por causa da destruição de dois anos de guerra na Faixa de Gaza quer porque aqueles que sabiam onde estavam já morreram. .Apesar dos apelos das famílias para que o acordo fosse suspenso, por essa altura já os presos palestinianos estavam a ser libertados por Israel - a grande maioria, detidos já depois do início da guerra e sem acusação, mas também 250 condenados a penas perpétuas. “Estou feliz pelos nossos filhos que estão a ser libertados, mas ainda sentimos dor por todos aqueles que foram mortos pela ocupação e por toda a destruição que aconteceu em Gaza”, disse à Reuters uma das mulheres que esperava a chegada dos presos junto ao hospital de Khan Yunis, no sul da Faixa de Gaza.