No dia seguinte ao golpe de Estado militar ocorrido em Bissau, na data em que os resultados das eleições presidenciais iriam ser divulgados, os militares empossaram um general próximo do presidente cessante e candidato a novo mandato, Umaro Sissoco Embaló, o qual estará “sob custódia”. As movimentações foram condenadas de pronto pela Comissão da União Africana e pela Comunidade Económica de Estados da África Ocidental (CEDEAO). O ministro dos Negócios Estrangeiros português Paulo Rangel apelou para o retomar da normalidade constitucional, bem como do apuramento eleitoral. Chama-se Horta Inta-A Na Man, também conhecido como Horta N’tam, e era até agora o chefe do Estado-Maior das Forças Armadas guineenses. Está desde quinta-feira noutras funções: “Acabei de ser investido para assegurar a direção do Alto Comando”, declarou depois de prestar juramento numa cerimónia decorrida nas instalações do Estado-Maior. A nomeação do sucessor no órgão máximo militar foi o seu primeiro decreto, tendo escolhido para o cargo o major-general Tomás Djassi. Em declarações após a tomada de posse, o novo presidente informou que o seu mandato está limitado a um ano no máximo e que a tomada da decisão do golpe “não foi fácil”. Este homem — que a estação de rádio francesa RFI conota como “próximo do presidente cessante, formado quando Umaro Sissoko Embaló entrou no exército, e promovido ao grau de major-general durante o seu mandato” — alegou a “crise política grave” e uma “ameaça crescente que podia pôr em causa a democracia e a estabilidade política do Estado guineense” como motivos para o golpe. Referiu-se ainda à “intensa atividade desenvolvida por um conhecido narcotraficante que, aproveitando-se do processo eleitoral, procurava por todos os meios filtrar, manipular e, no limite, capturar a própria democracia guineense”. N’tam prometeu combater “energicamente” o narcotráfico, mas não explicou em que sentido a putativa ameaça se relacionava com o processo eleitoral — que decorreu sem incidentes — ou com os candidatos em questão. O Alto Comando Militar para Restauração da Segurança Nacional e Ordem Pública informou que se encontram bem, mas sob custódia, o até agora presidente Embaló, o ex-ministro do Interior Botche Candé, bem como o ex-vice Mamadu Turé e o antigo chefe do Estado-Maior Biagué Na N’Tan. No entanto, nada referiu sobre a detenção do líder do PAIGC e antigo primeiro-ministro Domingos Simões Pereira, que havia sido impedido de concorrer às eleições, ou sobre o candidato Fernando Dias da Costa, que reclamou vitória e terá escapado da tentativa de detenção. Tendo levantado algumas restrições (reabertas as fronteiras e o espaço aéreo, e extinto o recolher obrigatório), também nada foi adiantado sobre a reabertura dos órgãos de comunicação. À exceção da TV e rádio públicas, os media foram suspensos, agravando ainda mais o ataque iniciado por Embaló quando este expulsou os meios de comunicação portugueses do país em agosto. Em Lisboa, enquanto os representantes da CPLP se reuniam para analisar a situação, uma manifestação de guineenses apelava para a intervenção da comunidade dos países de língua portuguesa no sentido de se retomar a ordem constitucional e com isso criar condições para o presidente eleito tomar posse.