Guerra na Ucrânia. Costa deixa aviso a Trump e considera "inaceitáveis" concessões antes de negociações da paz
António Costa, presidente do Conselho Europeu, considerou este sábado "inaceitável" impor concessões antes de negociar a paz na Ucrânia e afirmou que uma "paz abrangente" não deve "premiar o agressor", mas garantir que a Rússia não volte a ser uma ameaça.
"Só a Ucrânia pode definir quando há condições para as negociações. Impor concessões antes das negociações é inaceitável", disse António Costa num discurso na Conferência de Segurança de Munique, na qual alertou que "uma paz abrangente não pode ser um simples cessar-fogo" nem "pode dar à Rússia a oportunidade de atacar novamente. Não pode recompensar o agressor", enfatizou.
Um futuro acordo de paz "deverá garantir que a Rússia deixe de ser uma ameaça para a Ucrânia, para a Europa, para os seus vizinhos. Que a Rússia deixe de ser uma ameaça à segurança internacional", enfatizou.
Os comentários de António Costa sobre o que é conhecido do plano de paz que o presidente norte-americano, Donald Trump, está a tentar aplicar serviram de introdução à mesa redonda sobre o apoio europeu à Ucrânia, que contou com a presença do Presidente checo, Petr Pavel, e das primeiras-ministras da Dinamarca, Mette Frederiksen, e da Suécia, Ulf Kristersson, bem como do presidente da CDU, Friedrich Merz.
Costa disse que a União Europeia (UE) continuará a apoiar a Ucrânia em todas as frentes, incluindo as negociações de paz e a disponibilização de "garantias de segurança", e garantiu que os 27 agirão "melhor, mais fortes e mais rápidos" na construção de uma Europa de defesa.
Para Costa, uma "paz abrangente, justa e duradoura" significa que a paz na Ucrânia e a segurança da Europa "não podem ser separadas" porque, sublinhou, "a ameaça russa vai para além disso".
Esta ameaça, continuou, "domina a Bielorrússia, tem uma presença militar na Moldávia e na Geórgia. Lança uma sombra sobre os Estados Bálticos, a fronteira leste da União Europeia, os nossos sistemas democráticos, as nossas infraestruturas críticas".
A UE assumirá, por isso, plenamente as suas "responsabilidades" no futuro acordo de paz na Ucrânia e reiterou que "não haverá negociações credíveis e bem-sucedidas, nem uma paz duradoura, sem a Ucrânia e sem a União Europeia".
O antigo primeiro-ministro português disse que desde fevereiro de 2022, quando a Rússia iniciou a invasão em massa da Ucrânia, a UE "não é a mesma de antes", tendo nessa altura nascido "uma nova União Europeia geopolítica".
A partir de então, a UE acelerou a sua expansão para os Balcãs Ocidentais e iniciou negociações de adesão com a Ucrânia e a Moldávia, ao mesmo tempo que decidiu reforçar a sua segurança energética ao desligar-se da Rússia, num "enorme esforço coletivo".
Lembrou ainda que menos de um mês após o início da guerra, numa cimeira em Versalhes (França), todos os Estados-Membros decidiram avançar efetivamente a construção de uma Defesa Europeia.
"As nossas despesas com a defesa aumentaram 30% desde 2021. Os países da UE que estão na NATO gastam agora, em média, 2% em defesa. Juntos, atingimos o objetivo", disse Costa, antes de prometer que a UE fará "mais" porque "a paz sem defesa é uma ilusão".
Em março, disse, a Comissão Europeia e o Alto Representante da UE para os Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança apresentarão as primeiras propostas para se "agir melhor, mais forte e mais rapidamente na construção de uma Europa de defesa".
Bruxelas diz estar a trabalhar "sem descanso" na adesão da Ucrânia à UE
A comissária europeia para o Alargamento disse este sábado que está a "trabalhar afincadamente" com a sua equipa no processo de adesão da Ucrânia, defendendo ser a melhor garantia de segurança para o país e para a Europa.
"A minha equipa e eu estamos a trabalhar afincadamente no processo de adesão da Ucrânia [à União Europeia]", escreveu Marta Kos nas suas redes sociais.
A política eslovena garantiu que "a integração gradual baseada no mérito e a enorme energia do lado ucraniano são a base para o caminho acelerado da adesão à UE".
"A adesão à UE é a melhor garantia de segurança para a Ucrânia e para a Europa", sublinhou Kos.
A Presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e o Presidente do Conselho Europeu, António Costa, manifestaram na véspera ao Presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, a sua vontade de acelerar o processo de adesão do país à União Europeia.
Num encontro à margem da Conferência de Segurança de Munique, que decorre desde sexta-feira na cidade alemã, Costa e Von der Leyen garantiram também a Zelensky o apoio "contínuo e estável" da União Europeia para dar a Kiev uma posição "forte" numa negociação para uma paz "justa, global e duradoura".
Dinamarca defende que vitória de Kiev deve ser plano europeu
A primeira-ministra da Dinamarca, Mette Frederiksen, afirmou este sábado, em Munique, que a vitória da Ucrânia contra a Rússia deve ser um plano europeu, sublinhando que as concessões a Moscovo tiveram consequências.
"Trata-se de a Ucrânia ganhar a guerra. Esse é o plano. A guerra na Ucrânia não tem apenas a ver com a Ucrânia, mas com a possibilidade ou não de o presidente russo, Vladimir Putin, decidir sobre a Europa", apontou Frederiksen, na Conferência de Segurança de Munique.
A governante lembrou as concessões feitas à Alemanha nazi, na Conferência de Munique em 1938, pelo Reino Unido e pela França, e as suas respetivas consequências, vincando que esta "não foi uma boa solução, nem seria hoje uma boa solução".
Para Mette Frederiksen, a melhor garantia que pode ser dada à Ucrânia é a entrada na NATO (Organização do Tratado do Atlântico Norte).
"Sei que alguns parceiros não concordam. Mas, se a Ucrânia estivesse na NATO, esta guerra não teria acontecido. Seria a melhor solução e também a mais económica", apontou.
A primeira-ministra da Dinamarca referiu ainda que os europeus têm de aumentar o apoio militar à Ucrânia.
Também hoje, a presidente da Suíça, Karin Keller-Sutter, admitiu partilhar de muitos dos valores liberais estabelecidos pelo vice-Presidente dos EUA, JD Vance, nesta conferência, notando que o seu discurso é um "apelo à democracia direta".
Na quinta-feira, o vice-Presidente dos EUA disse que na Grã-Bretanha e em toda a Europa a liberdade de expressão pode estar em declínio.
Vance defendeu que esta situação é mais preocupante do que a ameaça da Rússia, da China "ou de outro ator externo".