'Guerra' de Trump pela Gronelândia já fez uma vítima: comandante da base espacial foi despedida
A polémica visita do vice-presidente dos Estados Unidos, J.D. Vance, e da sua mulher, Usha, à Gronelândia, onde, ao contrário do que inicialmente estava previsto, acabaram apenas por passar pela base espacial norte-americana de Pituffik em vez de assistirem a uma corrida nacional de trenó de cães, continua a dar que falar.
Agora, a mais recente consequência foi o despedimento da comandante da base, a coronel Susannah Meyers, por ter criticado o teor das palavras de Vance, que, durante um discurso na base, defendeu os planos do presidente Donald Trump para os Estados Unidos tomarem conta do território autónomo, o qual pertence à Dinamarca mas tem vindo a incrementar ações políticas para se tornar independente.
O presidente dos Estados Unidos, já no primeiro mandato na Casa Branca, falou em “comprar a Gronelândia”, mas após regressar à presidência o discurso intensificou-se e, agora, já admite “anexar” o território e não excluiu o uso de força militar. Justificando tais ações pelo papel estratégico que a Gronelândia pode ter no futuro dos Estados Unidos, alegando questões de segurança nacional (China e Rússia são outros atores nesta batalha pelo controlo do Ártico), mas sabendo-se que também há interesses financeiros associados (a Gronelândia tem vários pontos de terras com minerais raros por explorar e o degelo no Ártico está a abrir, aos poucos, novas rotas comerciais para os grandes navios).
Na visita à base de Pituffik, Vance criticou diretamente as ações da Dinamarca na Gronelândia, acusando Copenhaga de negligenciar a segurança do território autónomo. “Não têm feito um bom trabalho”, afirmou na ocasião, no dia 28 de março.
Três dias depois, a coronel Susannah Meyers, de acordo com o portal military.com, enviou uma mensagem de correio eletrónico a todos os membros da base – além dos militares norte-americanos, trabalham naquele local cidadãos da Gronelândia, dinamarqueses e canadianos – na qual afirmou ter passado ”os últimos dias a pensar” no impacto que a visita de Vance e as palavras que foram ditas tiveram no efetivo de Pituffik, concluindo: “Não tenho a pretensão de compreender a política atual, mas o que sei é que as preocupações da Administração dos Estados Unidos discutidas pelo vice-presidente Vance não refletem as da base de Pituffik”.
Esta quinta-feira, o comando militar de Operações Espaciais emitiu um incisivo comunicado a confirmar o afastamento da militar alegando uma quebra de confiança na sua capacidade de liderar. “A coronel Susannah Meyers, comandante da Base Espacial Pituffik, foi removida do comando devido à perda de confiança em sua capacidade de liderança. Espera-se que os comandantes adiram aos mais altos padrões de conduta, especialmente no que diz respeito à manutenção da imparcialidade no desempenho de suas funções”. A militar, que estava no cargo desde julho de 2024, foi substituída pelo coronel Shawn Lee. Os Estados Unidos têm presença militar na Gronelândia desde a II Guerra Mundial.
Já Sean Parnell, porta-voz do Pentágono, na rede social X, escreveu que “ações que minem a cadeia de comando ou que prejudiquem a agenda do presidente Trump não serão toleradas no Departamento de Defesa”, que é liderado pelo polémico secretário Pete Hegseth, antigo apresentador da Fox.
Recorde-se que a Gronelândia foi a votos em março e os planos de Trump para o território fizeram parte da campanha eleitoral. A vitória coube ao partido liberal pró-independência Demokraatit, que obteve mais de 30% dos votos, passando de três para dez deputados (num total de 31), derrotando os partidos que formavam a atual coligação de governo de centro-esquerda. Durante a campanha, Jens-Frederik Nielsen, 33 anos, líder do Demokraatit, considerou que o interesse de Trump na Gronelândia é uma “ameaça à independência política” do território. O Demokraatit defende uma independência gradual da Dinamarca, país que controla a ilha desde 1721. Foi só em 1979 que a Gronelândia se tornou território autónomo.
Com Lusa