O novo primeiro-ministro francês recebe esta tarde no palácio de Matignon os presidentes do Senado e da Assembleia Nacional e os líderes e chefes de bancada da maioria dos partidos, depois de se ter deslocado por três vezes ao Eliseu entre terça e quarta-feira para consultas com o presidente e de ter mantido consultas com os partidos. A via para François Bayrou constituir um governo que não tenha o mesmo fim que o anterior estreita-se em cada dia, com ameaças de censura da Reunião Nacional e do Partido Socialista. Partidos essenciais para viabilizarem o executivo, como os Republicanos (LR) e o PS, mantêm-se céticos. “As condições não estão reunidas por ora”, disse o ministro do Interior demissionário, Bruno Retailleau (LR). Já o ex-presidente François Hollande esclareceu que os socialistas ficarão na oposição e que a viabilização do governo depende de garantias sobre o Estado de direito, justiça fiscal e propostas sobre a educação e a reforma das pensões. Uma notícia da agência AFP de que o chefe de governo tinha entregado uma lista com a proposta de composição do governo a Emmanuel Macron foi desmentida ao início da tarde de quarta-feira pelo gabinete do primeiro-ministro. Isto apesar de as discussões estarem “muito avançadas”, garantiu um homem próximo de François Bayrou, o líder da bancada parlamentar do seu partido, o MoDem, Marc Fesneau. “Antes de propor a composição do governo ao presidente da república, quero encontrar-me convosco para vos esclarecer e ouvir os vossos pontos de vista sobre a direção que devemos tomar”, escreveu Bayrou na carta que endereçou a Yaël Braun-Pivet, presidente da Assembleia, Gérard Larcher, presidente do Senado, e às chefias partidárias e parlamentares de todas as formações que exerceram funções durante a V República. Uma forma elegante de excluir a extrema-direita - a Reunião Nacional de Marine de Pen e os seus aliados do grupo de Éric Ciotti, bem como a extrema-esquerda da França Insubmissa, que já tinha anunciado apresentar uma moção de censura à primeira oportunidade. A Reunião Nacional, que na segunda-feira tinha dado sinais de abertura a Bayrou, ameaçou este com uma moção de censura “mais cedo ou mais tarde” se o chefe de governo “não tiver em conta os erros que Michel Barnier cometeu, tanto na forma como no conteúdo” na preparação do orçamento para 2025, advertiu o vice-presidente do partido, Sébastien Chenu. Já a líder parlamentar disse estar a preparar-se para se candidatar pela quarta vez às presidenciais, uma vez que, disse ao Le Parisien, “Macron está acabado, ou quase”, prevendo que este se demita antes de terminar o mandato em 2027. A líder de facto da extrema-direita francesa aposta no agravamento da crise política: no dia 31 de março um tribunal decide se será condenada por desvio de fundos, num caso em que arrisca pena de prisão de dois anos e ineligibilidade de cinco anos, sendo que esta medida entraria em vigor até sentença em julgado.