Primeiro-ministro de Espanha, Pedro Sánchez
Primeiro-ministro de Espanha, Pedro Sánchez EPA/MANUEL BRUQUE

Governo espanhol quer blindar direito ao aborto na Constituição

A proposta de Pedro Sánchez surge após uma iniciativa municipal em Madrid, capital governada por autarca do PP, que previa que as mulheres que recorressem ao aborto fossem informadas sobre uma alegada “síndrome pós-aborto” - um conceito sem reconhecimento científico.
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O governo espanhol anunciou esta sexta-feira, 3 de outubro, que vai propor uma reforma da Constituição para incluir o direito à interrupção voluntária da gravidez (IVG). A medida, que Pedro Sánchez considera essencial para “garantir a liberdade e a autonomia das mulheres”, surge dias depois de a Câmara Municipal de Madrid, governada pelo Partido Popular (PP), ter aprovado uma polémica iniciativa apresentada pela extrema-direita (Vox).

A proposta municipal previa que as mulheres que recorressem ao aborto fossem informadas sobre uma alegada “síndrome pós-aborto”, associada a depressão, consumo de álcool e drogas ou até maior risco de cancro — um conceito que não tem qualquer reconhecimento científico. A própria direção do PP acabou por se afastar da medida, e o presidente da Câmara de Madrid, José Luis Martínez-Almeida, admitiu que não se trata de uma “categoria científica reconhecida”, garantindo que não será de aplicação obrigatória.

Apesar disso, a aprovação foi suficiente para acender o debate político. Pedro Sánchez acusou o PP de “se fundir com a extrema-direita” e garantiu que o seu executivo “não dará um passo atrás nos direitos das mulheres”.

Obstáculos no Parlamento

O direito ao aborto é legal em Espanha desde 2010 e o Executivo de Pedro Sáncjez recorda já foi até reconhecido pelo Tribunal Constitucional como um direito essencial das mulheres, numa decisão de 2023. Mas para que seja inscrito na Constituição, a proposta precisa do apoio de uma maioria de três quintos no Parlamento — um cenário difícil, dada a oposição expressa do Partido Popular.

O secretário-geral do PP, Miguel Tellado, reagiu de imediato, desvalorizando a proposta de Sánchez: “Não tem votos para validar um simples decreto e pretende modificar a Constituição?”, questionou.

Se avançar, Espanha tornar-se-á o segundo país do mundo a consagrar constitucionalmente o direito ao aborto, depois de França o ter feito em 2024.

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