Governo de Michel Barnier seguro pelo partido de Le Pen
A Nova Frente Popular, que elegeu mais deputados nas últimas eleições legislativas, só convenceu cinco deputados fora da aliança da esquerda e extrema-esquerda francesa sobre os méritos da moção de censura apresentada ao governo, dirigido por Michel Barnier, que aproveitou a ocasião para falar na proposta de Orçamento do Estado. “Só se mantém em Matignon [residência oficial do primeiro-ministro] com o consentimento da extrema-direita, à qual tem de fazer promessas. Está a passar da frente republicana para a afronta republicana”, denunciou o secretário-geral do PS, Olivier Faure.
A moção de censura teria de receber 289 votos para derrubar o Executivo, mas obteve 197, mais cinco do que o número total de deputados da Nova Frente Popular. Na prática, seria preciso que a Reunião Nacional, de Marine Le Pen, juntasse os seus 125 votos, um cenário que se adivinhava impossível à partida. Talvez por isso, durante as várias intervenções as bancadas ficaram despidas. Michel Barnier, indigitado primeiro-ministro apesar de representar um partido que teve apenas 6,5% dos votos, criticou a “moção de censura a priori”, uma referência à promessa da França Insubmissa (LFI) de avançar com tal medida caso o presidente, Emmanuel Macron, não nomeasse - como acabou por fazer - o nome proposto pela aliança, Lucie Castets.
O antigo comissário europeu defendeu a legitimidade do seu governo, porque ninguém tem maioria parlamentar. Barnier preferiu dedicar-se à gravidade do estado das contas públicas, defendendo os cortes na despesa. “A realidade, que temos de dizer aos franceses, é que estamos a gastar demasiado, estamos a gastar dinheiro que não temos e estamos a contrair empréstimos a taxas bem mais altas das dos nossos vizinhos europeus”, disse. Afirmou que prefere ser responsável a ser popular e pediu tempo para ser avaliado: “Peço simplesmente que o governo seja julgado pelos seus atos.”
Da Assembleia Nacional ficou ainda a decisão de rejeitar em definitivo o agendamento do procedimento de destituição do presidente francês. A maioria dos líderes dos grupos parlamentares votaram contra na conferência de líderes, onde a Reunião Nacional se absteve. “Emmanuel Macron não terá de se sujeitar a um debate no hemiciclo sobre o seu comportamento perigoso e errático” após as eleições legislativas, reagiu a líder parlamentar da LFI, Mathilde Panot, autora da iniciativa. “Foi Le Pen quem, de certa forma, salvou Macron do processo de destituição”, acusou.