Funeral de Francisco: solene, simples e com um "milagre"
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Funeral de Francisco: solene, simples e com um "milagre"

Cerca de 400 mil pessoas nas ruas para a despedida do primeiro americano chefe da Igreja Católica. Trump e Zelensky reuniram-se na basílica de São Pedro.
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As autoridades calculam em 400 mil o número de pessoas que acorreram à missa exequial do papa Francisco, na praça de São Pedro, no Vaticano, e que mais tarde acompanharam o trajeto final do féretro do pontífice argentino pelas ruas de Roma, a caminho da basílica de Santa Maria Maior.

Chefes de Estado, ministros e outros dignitários de mais de centena e meia de delegações oficiais marcaram presença numa cerimónia que ficou marcada pela reunião, decorrida antes, na basílica de São Pedro, entre o presidente dos Estados Unidos e o presidente da Ucrânia. "Foi comovente ver o que agora chamam de milagre do papa Francisco", disse o padre Francesco Giordano à Sky News.

Na homilia proferida pelo cardeal Giovanni Battista Re, este destacou a importância dada pelo falecido pontífice ao diálogo e à construção da paz. "Perante o eclodir de tantas guerras nos últimos anos, com horrores desumanos e inúmeras mortes e destruições, o papa Francisco levantou incessantemente a sua voz implorando a paz e convidando à sensatez, convidando a uma negociação honesta para encontrar soluções possíveis, porque a guerra – dizia ele – é apenas morte de pessoas e destruição de casas, destruição de hospitais e de escolas. A guerra deixa sempre - é uma expressão sua - o mundo pior do que estava: é sempre uma derrota dolorosa e trágica para todos. 'Construir pontes e não muros' é uma exortação que ele repetiu muitas vezes."

Terá sido imbuído deste espírito que Donald Trump e Volodymyr Zelensky se reencontraram, a primeira vez desde o débâcle diplomático de 28 de fevereiro na Sala Oval. A administração norte-americana apresentou o que primeiro era um conjunto de "ideias" e passou a ser um plano de cessar-fogo, cujos termos são favoráveis ao país que está a violar o direito internacional, a Rússia. Um dos pontos mais quentes do controverso plano é os EUA reconhecerem a soberania russa da Crimeia, a península anexada em 2014 por Moscovo.

Frente a frente de Zelensky e Trump na basílica de São Pedro, onde Francisco foi velado durante três dias.
Frente a frente de Zelensky e Trump na basílica de São Pedro, onde Francisco foi velado durante três dias.GABINETE DA PRESIDÊNCIA DA UCRÂNIA

Zelensky fez saber que mantiveram "uma boa reunião" e mostrou-se esperançado de que a "reunião muito simbólica" tem "potencial para se tornar histórica, se conseguirmos resultados conjuntos". Na quarta-feira, Trump e a sua equipa lançaram um ultimato a Kiev e Moscovo e o presidente dos EUA disse que o líder ucraniano "não tem cartas para jogar".

Funeral de Francisco: solene, simples e com um "milagre"
Encontro com "potencial para se tornar histórico". Trump e Zelensky reuniram-se antes do funeral do papa

Os ucranianos chegaram a indicar que poderia realizar-se uma reunião após a cerimónia fúnebre, mas Trump manteve apenas uma breve conversa com a primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, e embarcou no avião presidencial. Zelensky manteve reuniões com o francês Emmanuel Macron e o britânico Keir Starmer.

Na véspera, o amigo de Trump e seu enviado especial concluiu a quarta visita a Moscovo, numa iniciativa que foi classificada de "muito útil" por Yuri Ushanov, conselheiro de Vladimir Putin.

Num aparente endurecimento em relação a Moscovo, a caminho dos Estados Unidos, Trump recorreu à sua plataforma, Truth Social, para questionar as reais motivações de Putin após os ataques a Kiev que mataram 12 civis. "Isso faz-me pensar que, talvez, ele não queira parar a guerra e que me está a enganar, e então é necessário agir de forma diferente, através de sanções bancárias ou de sanções secundárias", escreveu.

Cerimónia simplificada

Em novembro último, Francisco aprovou a simplificação dos ritos funerários dos papas através do Ordo Exsequiarum Romani Pontificis. Além disso, o seu testamento, datado de 2022 e revelado após a morte, indicou que queria ser enterrado na basílica de Santa Maria Maior, fora do Vaticano, num caixão simples de madeira revestido a zinco, e com um túmulo com a inscrição "Franciscus".

Urna de Francisco à chegada à basílica de Santa Maria Maior.
Urna de Francisco à chegada à basílica de Santa Maria Maior.EPA/VATICAN MEDIA

Mas a solenidade da cerimónia manteve-se. Com o caixão exposto no adro de uma praça de São Pedro cheia de cardeais e de altas figuras do Estado nas primeiras filas e de uma multitude de fiéis até onde a vista alcançava, o decano do Colégio Cardinalício, o italiano Giovanni Batista Re, proferiu a homilia de despedida. "Imprimiu de imediato a marca da sua forte personalidade no governo da Igreja, estabelecendo um contacto direto com cada pessoa e com as populações, desejoso de ser próximo a todos, com uma atenção especial às pessoas em dificuldade, gastando-se sem medida, em particular pelos últimos da terra, os marginalizados. Foi um papa no meio do povo, com um coração aberto a todos. Foi também um papa atento àquilo que de novo estava a surgir na sociedade e àquilo que o Espírito Santo estava a suscitar na Igreja."

O cardeal Re destacou do seu pontificado a prioridade dada à evangelização e à ideia de que a Igreja é "uma casa com as portas sempre abertas". Recordou a sua primeira viagem -- a Lampedusa, "ilha-símbolo do drama da emigração, com milhares de pessoas afogadas no mar" -- ou a ida ao Iraque em 2021, "um bálsamo para as feridas do povo iraquiano".

O decano lembrou também que a misericórdia e a alegria do Evangelho são "duas palavras-chave" de Francisco, bem como a sua defesa pela cultura da solidariedade e do encontro em contraste com a atual cultura do descartável.

O enterro de Francisco em Santa Maria Maior aconteceu numa cerimónia privada, presidida pelo camerlengo Kevin Joseph Farrell. Começam agora os nove dias de luto (novendiales), durante os quais são celebradas eucaristias organizadas pelo Colégio Cardinalício. O conclave, a reunião de cardeais eleitores do futuro papa, deverá iniciar-se entre 5 e 10 de maio.

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