Zelensky recebeu Lecornu em Kiev, em setembro passado.
Zelensky recebeu Lecornu em Kiev, em setembro passado.X de Volodymyr Zelensky

França propõe duplicar poder de fogo móvel da Ucrânia

Paris cria “coligação de artilharia” e, enquanto planeia reforçar Kiev com 17 sistemas CAESAR, desafia mais de 20 aliados para financiarem outros 60 obuses.
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A contraofensiva ucraniana falhou, não tanto devido a erros de estratégia de Kiev ou do poderio das forças russas no território ocupado, mas sobretudo porque o exército ucraniano recebeu apenas uma fração do equipamento militar necessário para que a operação fosse bem-sucedida.

Ao intervir numa mesa redonda sobre a Ucrânia no Forum Económico Mundial, em Davos, Suíça, o ministro dos Negócios Estrangeiros da Lituânia apresentou o seu diagnóstico e comparou as necessidades de Kiev com o programa de rearmamento da Polónia. “Em vez de 40 sistemas HIMARS, a Ucrânia precisa de 400, e de mil tanques em vez de 80 . É isto que precisamos de assegurar se estivermos empenhados em ganhar”, afirmou Gabrielius Landsbergis. Numa altura em que o apoio dos Estados Unidos continua em suspenso devido a rivalidades políticas internas, a França avançou com uma “coligação de artilharia” para a Ucrânia formada por 23 países. 

O ministro da Defesa de França anunciou que o seu país vai financiar a entrega de uma dúzia de obuses CAESAR a Kiev, o equivalente a 50 milhões de euros. As declarações de Sebástien Lecornu foram produzidas durante a cerimónia de lançamento da “coligação de artilharia” para responder às crescentes dificuldades ucranianas para repor os stocks de munições e de equipamento militar. O seu homólogo ucraniano, Rustem Umerov, falhou a presença em França no último momento, devido a “motivos de segurança”, tendo observado no X (antigo Twitter) que a “escassez de munições é um problema real e premente que as forças armadas enfrentam atualmente”. Em videoconferência, afirmou que “não há alternativa à artilharia moderna”, pelo que o seu país tem de “continuar os esforços e aumentar a produção de munições”.

A “coligação de artilharia” é um subgrupo dos mais de 50 países que tem reunido com regularidade na base aérea de Ramstein, na Alemanha, sob a direção dos Estados Unidos. Paris, além de se comprometer em enviar 12 obuses autopropulsados, que se somam aos 49 no campo de batalha e a seis outros que serão entregues nas próximas semanas, espera que outros parceiros se juntem no esforço e financiem a produção de mais CAESAR, num total de 250 milhões de euros. “Há ainda 60 obuses para financiar, e é essa a mensagem que estou a enviar a todos os nossos aliados”, disse Sébastien Lecornu.

Os CAESAR são obuses montados em cima de camiões e têm um alcance de 42 quilómetros. São produzidos na fábrica da franco-alemã KNDS, em Bourges, no centro de França, local que deveria ter sido visitado pelos ministros.

Também fazia parte do roteiro a fábrica MBDA, em Selles-Saint-Denis, a 70 quilómetros de distância. É ali que se procede à montagem dos mísseis Scalp, cuja precisão e alcance de mais de 250 quilómetros torna numa temível arma, dotado de uma carga explosiva de 450 quilos. A frota russa do Mar Negro tem sido vítima deste míssil de cruzeiro e do seu irmão britânico Storm Shadow. Há dias, o presidente Emmanuel Macron prometeu enviar 40 Scalp para a Ucrânia, de valor unitário de 2,2 milhões de euros, retirando-os do arsenal da força aérea francesa.

Também a Rússia tenta fortalecer-se. Segundo Vadym Skibitskyi, enviado dos Serviços Secretos da Defesa da Ucrânia ao encontro de Davos, Moscovo tem levado a cabo uma modernização da eletrónica do seu armamento. “O inimigo está a aprender, e a aprender muito rapidamente. Vou dar-vos um exemplo: os mísseis de cruzeiro Kh-101 são completamente diferentes dos utilizados em 2022. Agora é um míssil com um sistema de guerra eletrónica ativo, com proteção ativa, armadilhas térmicas, etc.”, disse o representante da secreta militar.

Os drones são também parte essencial do esforço de guerra. A Ucrânia terá sido responsável por um ataque a um terminal de combustível em São Petersburgo, na madrugada de quinta-feira, com recurso a aeronaves não tripuladas.

NATO mostra os músculos

Noventa mil militares, 50 navios de guerra, 80 aviões e 1100 veículos de combate dos 31 países da NATO e também da Suécia farão parte dos maiores exercícios militares da Aliança Atlântica desde 1988. O exercício Steadfast Defender 2024 (Defensor firme 2024) inicia na próxima semana e vai decorrer até maio, anunciou a NATO no final de uma reunião de dois dias, em Bruxelas, dos chefes militares dos países aliados.

cesar.avo@dn.pt

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