França propõe duplicar poder de fogo móvel da Ucrânia
A contraofensiva ucraniana falhou, não tanto devido a erros de estratégia de Kiev ou do poderio das forças russas no território ocupado, mas sobretudo porque o exército ucraniano recebeu apenas uma fração do equipamento militar necessário para que a operação fosse bem-sucedida.
Ao intervir numa mesa redonda sobre a Ucrânia no Forum Económico Mundial, em Davos, Suíça, o ministro dos Negócios Estrangeiros da Lituânia apresentou o seu diagnóstico e comparou as necessidades de Kiev com o programa de rearmamento da Polónia. “Em vez de 40 sistemas HIMARS, a Ucrânia precisa de 400, e de mil tanques em vez de 80 . É isto que precisamos de assegurar se estivermos empenhados em ganhar”, afirmou Gabrielius Landsbergis. Numa altura em que o apoio dos Estados Unidos continua em suspenso devido a rivalidades políticas internas, a França avançou com uma “coligação de artilharia” para a Ucrânia formada por 23 países.
O ministro da Defesa de França anunciou que o seu país vai financiar a entrega de uma dúzia de obuses CAESAR a Kiev, o equivalente a 50 milhões de euros. As declarações de Sebástien Lecornu foram produzidas durante a cerimónia de lançamento da “coligação de artilharia” para responder às crescentes dificuldades ucranianas para repor os stocks de munições e de equipamento militar. O seu homólogo ucraniano, Rustem Umerov, falhou a presença em França no último momento, devido a “motivos de segurança”, tendo observado no X (antigo Twitter) que a “escassez de munições é um problema real e premente que as forças armadas enfrentam atualmente”. Em videoconferência, afirmou que “não há alternativa à artilharia moderna”, pelo que o seu país tem de “continuar os esforços e aumentar a produção de munições”.
A “coligação de artilharia” é um subgrupo dos mais de 50 países que tem reunido com regularidade na base aérea de Ramstein, na Alemanha, sob a direção dos Estados Unidos. Paris, além de se comprometer em enviar 12 obuses autopropulsados, que se somam aos 49 no campo de batalha e a seis outros que serão entregues nas próximas semanas, espera que outros parceiros se juntem no esforço e financiem a produção de mais CAESAR, num total de 250 milhões de euros. “Há ainda 60 obuses para financiar, e é essa a mensagem que estou a enviar a todos os nossos aliados”, disse Sébastien Lecornu.
Os CAESAR são obuses montados em cima de camiões e têm um alcance de 42 quilómetros. São produzidos na fábrica da franco-alemã KNDS, em Bourges, no centro de França, local que deveria ter sido visitado pelos ministros.
Também fazia parte do roteiro a fábrica MBDA, em Selles-Saint-Denis, a 70 quilómetros de distância. É ali que se procede à montagem dos mísseis Scalp, cuja precisão e alcance de mais de 250 quilómetros torna numa temível arma, dotado de uma carga explosiva de 450 quilos. A frota russa do Mar Negro tem sido vítima deste míssil de cruzeiro e do seu irmão britânico Storm Shadow. Há dias, o presidente Emmanuel Macron prometeu enviar 40 Scalp para a Ucrânia, de valor unitário de 2,2 milhões de euros, retirando-os do arsenal da força aérea francesa.
Também a Rússia tenta fortalecer-se. Segundo Vadym Skibitskyi, enviado dos Serviços Secretos da Defesa da Ucrânia ao encontro de Davos, Moscovo tem levado a cabo uma modernização da eletrónica do seu armamento. “O inimigo está a aprender, e a aprender muito rapidamente. Vou dar-vos um exemplo: os mísseis de cruzeiro Kh-101 são completamente diferentes dos utilizados em 2022. Agora é um míssil com um sistema de guerra eletrónica ativo, com proteção ativa, armadilhas térmicas, etc.”, disse o representante da secreta militar.
Os drones são também parte essencial do esforço de guerra. A Ucrânia terá sido responsável por um ataque a um terminal de combustível em São Petersburgo, na madrugada de quinta-feira, com recurso a aeronaves não tripuladas.
NATO mostra os músculos
Noventa mil militares, 50 navios de guerra, 80 aviões e 1100 veículos de combate dos 31 países da NATO e também da Suécia farão parte dos maiores exercícios militares da Aliança Atlântica desde 1988. O exercício Steadfast Defender 2024 (Defensor firme 2024) inicia na próxima semana e vai decorrer até maio, anunciou a NATO no final de uma reunião de dois dias, em Bruxelas, dos chefes militares dos países aliados.
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