O presidente francês, Emmanuel Macron, parece apostar na separação dos socialistas do resto da aliança de esquerda da Nova Frente Popular (NFP) para conseguir desbloquear o governo. Algo que já tinha tentado, sem sucesso, depois das eleições que deixaram a Assembleia Nacional dividida em três blocos, sem maiorias. Recebido no Eliseu, o secretário-geral socialista, Olivier Faure, mostrou-se aberto à ideia de dialogar com o campo presidencial e com a direita com base em “concessões recíprocas”, mas defendeu um chefe de governo de esquerda e deixou claro que “em caso algum participará num governo liderado por um primeiro-ministro de direita”..Macron reuniu esta sexta-feira com os líderes das forças políticas que o apoiam, mas também com Os Republicanos (LR, na sigla em francês), o partido de Michel Barnier - que caiu numa moção de censura desencadeando a nova crise política - e com os socialistas. Estes foram recebidos logo de manhã, causando contestação do resto da NFP - os radicais d’A França Insubmissa (LFI, na sigla em francês), os ecologistas e os comunistas ficaram de fora das consultas desta sexta-feira. Mas há indicação de que estes dois últimos foram chamados para uma reunião no Eliseu na segunda-feira..“A LFI não deu qualquer mandato a Olivier Faure, nem para ir sozinho a esta reunião, nem para negociar um acordo e fazer ‘concessões recíprocas’ a Macron e ao LR. Nada do que ele diz ou faz é em nosso nome ou em nome da NFP”, escreveu o líder histórico e candidato presidencial da França Insubmissa, Jean-Luc Mélenchon, reagindo à reunião dos socialistas com Macron. Faure garantiu contudo que o presidente não “colocou condições prévias” ao diálogo, nem pediu ao Partido Socialista para se separar da LFI..Mas as contas de Macron são simples. As forças que o apoiam somam 163 deputados na Assembleia, sendo que o LR tem mais 47. Com os 66 socialistas, seriam 276 representantes. A maioria absoluta é de 288, mas o presidente acredita que seria possível superar esse número com os 23 deputados do LIOT (Liberdades, Independentes e Territórios Ultramarinos). Este grupo reúne membros que vão do centro-esquerda ao centro-direita, defende a ideia de um governo de “emergência nacional” e só um dos seus representantes votou a favor da censura de Barnier..O problema com as contas de Macron é que nem os socialistas vão apoiar um candidato vindo da direita d’Os Republicanos, nem estes parecem disponíveis para dar o seu aval a um primeiro-ministro da esquerda. “A direita não poderá fazer qualquer compromisso com a esquerda”, indicou o ministro do Interior demissionário, Bruno Retailleau..Diante deste cenário, resta o centro, ganhando força o nome de François Bayrou, o líder do MoDem (Movimento Democrático), que reuniu com Macron logo na quinta-feira. “O centro não pode ser a única resposta, mas a escolha do centro pode juntar pessoas diferentes, podemos ultrapassar divisões, principalmente quando a situação do país é muito preocupante e muito grave”, disse à LCI. “O que é necessário são reuniões de personalidades que mantenham as suas ideias, mas decidam trabalhar em conjunto. É vocação do centro aproximar as pessoas”, acrescentou..O ex-chefe do governo socialista Bernard Cazeneuve, cujo nome também surge nas listas de possíveis escolhidos por Macron, defendeu que Bayrou seria “um bom primeiro-ministro”. Mas o líder socialista no Senado, Patrick Kranner, rejeitou esse nome..E a extrema-direita?.O Reunião Nacional (RN), cujo voto ao lado da esquerda levou à queda de Barnier, não parece fazer parte dos planos de Macron - que acusou a extrema-direita de se unir à extrema-esquerda numa “frente antirrepublicana”. A líder parlamentar do RN, Marine Le Pen, ameaçou esta sexta-feira, numa entrevista ao Le Figaro, voltar a censurar um governo que não cede às condições do seu partido - o maior na Assembleia..susana.f.salvador@dn.pt