As forças de elite da Guiné afirmaram neste domingo (5) ter capturado o presidente Alpha Condé, conquistado a capital Conacri e "dissolvido" as instituições, tendo ainda anunciado um toque de recolher obrigatório a nível nacional..Este golpe de Estado militar pode tirar do poder um veterano da política africana que se encontrava cada vez mais isolado..Não foram registadas até ao momento quaisquer mortes durante o golpe, apesar do intenso tiroteio ouvido pela manhã na capital deste país da África Ocidental, que há meses atravessa uma grave crise económica e política..O possível fim de mais de dez anos de governo de Condé provocou cenas de júbilo em várias partes da capital..O secretário-geral da ONU, António Guterres, já condenou "veementemente" o aparente golpe na Guiné e exortou os oficiais que afirmam ter tomado o poder e dissolvido o governo a libertarem o presidente de 83 anos.."Decidimos, depois de prender o presidente, que atualmente está connosco (...), suprimir a Constituição em vigor, dissolver as instituições, e também o governo, assim como fechar fronteiras terrestres e aéreas", declarou um dos golpistas, num comunicado publicado nas redes sociais..Denunciando o "caos" do governo, o chefe das forças especiais, tenente-coronel Mamady Dumbuya, envolvido numa bandeira do país, reiterou a sua declaração na rede nacional de televisão..Os golpistas transmitiram um vídeo do presidente preso. Ao ser questionado sobre se foi maltratado, Condé, de calças e camisa, sentado num sofá, nega-se a responder.."Temos toda a Conacri e estamos com todas as forças de defesa e segurança para acabar de uma vez por todas com o mal guineense", declarou o tenente-coronel Dumbuya, uma personalidade até então desconhecida, à rede de televisão France 24..Por sua vez, o Ministério da Defesa afirmou numa nota enviada à ocmunicaçáo social que a guarda presidencial repeliu os "insurgentes" quando tentaram tomar o palácio presidencial. Depois desse comunicado, porém, as autoridades ficaram em silêncio..Centenas de residentes de Conacri, especialmente nos subúrbios favoráveis à oposição, saíram às ruas para torcer pelos soldados, relatam jornalistas da AFP.."Estamos orgulhosos das forças especiais, vergonha à milícia do ex-presidente Alpha Condé, morte aos torturadores e assassinos de nossa juventude", exclamou um manifestante sob condição de anonimato.."Vamos reescrever uma Constituição juntos, desta vez, toda a Guiné", garantiu o líder golpista. "Não precisamos mais de violentar a Guiné, precisamos de fazer amor com ela, simplesmente", concluiu..Os principais líderes da oposição não quiseram comentar. Mas a Frente Nacional de Defesa da Constituição (FNDC), coligação de movimentos políticos e da sociedade civil que liderou o protesto contra um terceiro mandato de Condé, disse que tomou conhecimento da "detenção do ditador" e das declarações dos militares sobre a Constituição..Pela manhã, ecoaram disparos com armas automáticas pesadas no bairro de Kalum, centro nevrálgico de Conacri, onde ficam a sede da presidência, de instituições e escritórios empresariais.."Vi uma coluna de veículos militares, a bordo dos quais soldados muito excitados atiravam para o alto e entoavam slogans militares", contou à AFP um morador do bairro do Tombo, perto do centro..Um diplomata ocidental disse à AFP que "não tinha a menor dúvida" de que uma tentativa de golpe estava em curso, liderada pelas forças especiais guineenses..Há meses, este país da África Ocidental atravessa uma grave crise económica e política, agravada pela pandemia da covid-19. É um dos mais pobres do mundo, apesar de consideráveis recursos minerais e hídricos..Ex-opositor histórico, preso e até condenado à morte, Condé foi o primeiro presidente democraticamente eleito no país, em 2010, após décadas de regimes autoritários..No ano passado, sua candidatura para um terceiro mandato gerou meses de tensão, com dezenas de mortos e presos..Condé foi finalmente proclamado presidente para um novo mandato em 7 de novembro, apesar dos apelos de vários candidatos que denunciaram todo o tipo de irregularidade eleitoral..Defensores dos direitos humanos denunciam um desvio autoritário nos últimos anos da presidência de Condé..O embaixador de Portugal no Senegal, Vítor Sereno, disse estar a acompanhar "atentamente a evolução dos acontecimentos" na Guiné-Conacri, após notícias de um alegado golpe de Estado, adiantando que os portugueses estão bem.."A comunidade está tranquila e a gerir a situação", disse à agência Lusa Vítor Sereno, chefe da missão diplomática de Portugal no Senegal, mas que está acreditado também para a Guiné-Conacri..De acordo com o diplomata, na Guiné-Conacri vivem entre 50 a 60 portugueses, a grande maioria dos quais trabalha para a construtora Mota Engil..A monitorização da situação dos portugueses está a ser feita em coordenação com restantes países da UE com representação diplomática no país e em "permanente articulação" com o representante especial da embaixada "no terreno", segundo informou.