Faixa de Gaza. Um território hiperpovoado à beira mar destruído que Trump quer transformar na "Riviera do Médio Oriente"
Da administração egípcia à ocupação israelita
Historicamente parte da Palestina, sob controlo do Império Otomano desde o século XVI, no final da I Guerra Mundial, a região hoje designada como Faixa de Gaza ficou sob mandato britânico. Ali vivia uma maioria árabe e uma minoria judia, que foi crescendo nos anos 1920-1940 devido às perseguições na Europa. Em 1948, um dia após a sua criação, o Estado de Israel foi atacado pelos vizinhos árabes. Israel venceu. Os acordos que puseram fim ao conflito deixaram Gaza sob administração do Egito e a Cisjordânia e Jerusalém Oriental controlados pela Jordânia. Mais de 750 mil palestinianos fugiram ou foram expulsos - é o que eles chamam Nakba, Catástrofe. Em 1967, novo conflito entre Israel e Egito, Síria e Jordânia. No final da Guerra dos Seis Dias, Israel tinha capturado a península do Sinai e Gaza ao Egito, os Montes Golã à Síria e Jerusalém Oriental e a Cisjordânia à Jordânia. Um milhão de palestinianos ficaram sob controlo israelita.
Uma faixa de terra com 365 km2 para mais de dois milhões
Cercada pelo mar e, em terra, por Israel e pelo Egito, a Faixa de Gaza é um território de 40 km por 10 km de largura. Com uma população de 2,3 milhões para 365 km2, é um dos territórios mais densamente povoados do mundo - cerca de 5800 habitantes por km2.
Da construção de colonatos à retirada unilateral
Depois da saída do Egito da Faixa de Gaza em 1967, os israelitas colocaram o território sob domínio militar, dando também início à construção de colonatos. Em 1979, os acordos de paz entre Egito e Israel incluíram a devolução do Sinai e a criação de uma zona tampão entre o Egito e Gaza - o Corredor de Filadélfia. Ponto de origem da Primeira Intifada, a revolta dos palestinianos contra a ocupação israelita que começou no campo de refugiados de Jabalia em dezembro de 1987, a Faixa de Gaza só em 1994 passou parcialmente para controlo da Autoridade Palestiniana (AP), na sequência dos Acordos de Oslo. Com a Segunda Intifada, em 2000, a guerrilha palestiniana em Gaza deu início aos ataques com rockets e à bomba contra Israel, com o Hamas e a Jihad Islâmica a ganhar poder. Cinco anos depois, o primeiro-ministro israelita Ariel Sharon ordena a retirada das tropas da Faixa de Gaza e o desmantelamento dos colonatos, deixando o controlo do território à AP.
Do controlo do Hamas até aos reféns do 7 de Outubro
Apesar da retirada unilateral, Israel manteve o controlo das fronteiras comuns com Gaza, do espaço aéreo e da zona costeira, limitando os movimentos de pessoas e bens . Um ano depois da saída dos israelitas, o Hamas ganhou as eleições e, depois de uma guerra civil com a Fatah, do falecido líder histórico Yasser, expulsou as fações rivais de Gaza. O grupo terrorista palestiniano capitalizou a popularidade que tinha junto da população graças à construção de escolas e clínicas. Apesar disso e com o bloqueio imposto por Israel em retaliação contra a vitória de um grupo apoiado pelo Irão e que jurou destruir Israel, as condições de vida em Gaza degradaram-se. Desde então, por várias vezes o Hamas entrou em conflito com Israel. Apesar do controlo apertado e dos bombardeamentos esporádicos em resposta ao lançamento de rockets, o Hamas surpreendeu Israel a 7 de outubro de 2023 com um ataque em Israel que matou mais de 1200 pessoas, tendo 250 sido raptadas. O conflito que se seguiu já fez mais de 47 mil mortos em Gaza, segundo o Hamas. A 19 de janeiro entrou em vigor um cessar que já permitiu libertar alguns dos reféns. A segunda fase do acordo está a ser negociada. E o presidente dos EUA, Donald Trump, veio agora revelar como já imagina este território à beira mar destruído transformado na "Riviera do Médio Oriente".