O Partido da Liberdade da Áustria (FPÖ, na sigla original), de extrema-direita, renunciou esta quarta-feira a formar um governo de coligação com os conservadores, depois de alegadas divergências na divisão de pastas. O partido defende agora eleições antecipadas, com as sondagens a mostrarem que poderá reforçar a vitória alcançada em setembro (quando teve 29% dos votos). A decisão cabe ao presidente austríaco.“Embora tenhamos feito concessões em muitos pontos, infelizmente as negociações não deram frutos”, disse o líder do FPÖ, Herbert Kickl, informando o presidente Alexander Van der Bellen da decisão de declinar o mandato que lhe tinha sido confiado a 6 de janeiro para formar governo. Era a primeira vez que o partido de extrema-direita, eurocético e pró-Rússia, tinha a oportunidade de o fazer.Os conservadores do Partido Popular Austríaco (ÖVP, na sigla original), que tinham aceitado negociar com o FPÖ, criticaram “a sede de poder e a intransigência” de Kickl. “Não estava disposto a chegar a um compromisso e a estabelecer uma colaboração de igual para igual”, indicou o secretário-geral, Alexander Pröll.Apesar de ter sido o partido mais votado em setembro, o FPÖ só teve oportunidade de tentar formar governo no mês passado, depois de ter falhado uma tentativa de acordo entre os partidos do centro. Apesar de coincidirem nas questões da imigração, há temas que dividem FPÖ e ÖVP (que liderava a coligação no poder até agora). A extrema-direita estava a fazer exigências consideradas impossíveis para os conservadores. Queria, por exemplo, acabar com as sanções contra a Rússia e pagar uma indemnização aos “prejudicados” pela política anti-covid (durante o governo do ÖVP).O acordo terá falhado também pela questão da divisão das pastas. A extrema-direita insistia em ter as pastas do Interior e das Finanças, apesar de só ter tido mais 2,5 pontos do que o ÖVP nas eleições.Numa declaração televisiva, o presidente austríaco já veio apontar quatro opções para sair desta crise: eleições antecipadas (que só podem acontecer dentro de três meses), um governo minoritário, uma nova tentativa para formar uma coligação que consiga uma maioria ou um governo temporário de peritos. Van der Bellen vai agora ouvir os partidos, apelando ao “espírito de compromisso” de todos.