Europol atenta à crescente ameaça de armas impressas em 3D

Enquanto as armas tradicionais são rastreáveis ​​graças aos seus números de série e marcas de prova, os modelos "impressos em casa" são menos fáceis de rastrear pelas autoridades.
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Um número crescente de apreensões de armas feitas em casa a partir de peças impressas em 3D está a despertar o alarme entre a polícia europeia sobre a possibilidade de uma ameaça emergente.

Por enquanto, o interesse entre os ativistas de extrema-direita estará ainda limitado, dizem especialistas, e os temores de uma sociedade inundada com armas do tipo "imprima você mesmo" permanecem inverossímeis. Mas as armas caseiras têm-se tornado cada vez mais difundidas desde que, em 2013, um entusiasta de armamento nos EUA exibiu pela primeira vez uma pistola impressa principalmente em 3D e compartilhou o seu design online.

Somente no último mês de setembro, a polícia islandesa disse ter prendido quatro pessoas suspeitas de planear um "ataque terrorista", confiscando várias armas semiautomáticas impressas em 3D.

No mesmo mês, as autoridades espanholas descobriram uma oficina ilegal de fabricação de armas operada por um homem no País Basco. Essa descoberta seguiu-se a dois outros casos semelhantes no país em 2021. A polícia das Ilhas Canárias, em Espanha, encontrou manuais de supremacia branca sobre guerrilha urbana ao lado de duas impressoras 3D. E na cidade da Corunha, na Galiza, a polícia deteve um homem que estava perto de conseguir completar a impressão de uma arma de assalto.

"A tecnologia avançada em rápida evolução pode fazer com que isso emerja como uma ameaça mais significativa num futuro próximo", disse Ina Mihaylova, porta-voz da agência policial europeia Europol.

Enquanto as armas tradicionais são facilmente rastreáveis ​​graças aos seus números de série e marcas de prova, esses modelos "impressos em casa" são menos fáceis de rastrear pelas autoridades.

No momento, "ainda há uma grande diferença entre a qualidade das armas fabricadas profissionalmente disponíveis no mercado criminal e as armas impressas em 3D/auto-fabricadas", disse Mihaylova. "As armas de fogo impressas em 3D inteiramente feitas de plástico geralmente não resistem à pressão de munição real", acrescentou.

Mas Christian Goblas, especialista em balística da Universidade de Rouen, na França, disse à AFP que a "impressão metálica 3D" pode tornar-se acessível na próxima década - o que pode tornar as armas impressas 3D mais duráveis ​​e confiáveis.

Com peças 3D e um pino de disparo de metal, a pistola "Liberator" foi exibida em 2013 pelo auto-descrito "cripto-anarquista" Cody Wilson, que copiou uma arma bruta de tiro único com o mesmo nome lançada para combatentes da resistência francesa durante a II Guerra Mundial.

Wilson publicou instruções para a arma on-line, despertando alarme nos Estados Unidos, país a braços com um pesado histórico de tiroteios em massa.

Desde então, as impressoras 3D ficaram mais baratas e mais projetos de armas 3D foram publicado na chamada Dark Web.

Rajan Basra, investigador sénior do Centro Internacional para o Estudo da Radicalização (ICSR), com sede em Londres, diz que a impressão de armas 3D continua a ser principalmente uma curiosidade.
Mesmo em países com restrições severas à compra legal de armas, existem opções melhores para quem procura uma arma de fogo: em França, por exemplo, podem ser obtidas Kalashnikov no mercado negro por entre 500 e 1.500 euros.

Mas, mesmo que em menor grau, as armas de bricolage também são atraentes para "terroristas", militantes de extrema direita e gangsters, acrescentou Basra.

Onze das 12 apreensões recentes na Europa de armas 3D envolveram ativistas de extrema-direita, realçou.

Um dos usos mais impactantes de armas com peças impressas em 3D ocorreu na Alemanha em 2019. Um atirador matou duas pessoas na cidade oriental de Halle depois de não conseguir arrombar uma sinagoga. Antes do ataque, ele havia publicado online um manifesto racista, misógino e antissemita.

Num vídeo, o atacante demonstrava a sua fúria contra o encravamento de armas. "Pelo menos eu demonstrei como as armas improvisadas são inúteis", dizia em determinada altura.

Blyth Crawford, outra investtigadora do ICSR, diz que esse ataque foi um caso excepcional.

Em discussões online entre alguns extremistas de extrema-direita, "as armas de fogo impressas em 3D ainda não são consideradas uma alternativa séria às armas comuns para realizar um tiroteio em massa, por falta de teste", considera.

Os extremistas podem ver outras novas tecnologias, como os drones, como mais promissoras para seus fins. "É improvável que a impressão 3D seja o futuro do terrorismo por enquanto", disse à AFP Jacob Ware, investigador de contraterrorismo do Conselho de Relações Exteriores, um think tank com sede em Nova Iorque.

No entanto, "os sistemas legais devem estar preparados.... para garantir que as leis de controlo de armas não sejam contornadas, antes que seja tarde demais", acrescentou.

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