Qual o ponto de situação na escalada de tensão entre EUA e Venezuela?Donald Trump deu um prazo, 28 de novembro, para Nicolás Maduro abandonar a Venezuela em segurança, para o próprio e família, num telefonema entre os presidentes a 21 de novembro, segundo a agência Reuters e o jornal Miami Herald. Como Maduro não respeitou o acordo, que incluía a vice Delcy Rodríguez como interina até novas eleições, Trump pediu para todas as companhias aéreas considerarem o espaço aéreo no país sul-americano “fechado”. Em seguida, o Pentágono revelou ter um plano de ação pronto caso Maduro deixe o poder e o presidente americano ameaçou com ataques por terra “muito em breve”. Como a tensão começou?Trump classificou este ano Nicolás Maduro como “um dos dos maiores narcotraficantes do mundo” e o governo dos EUA ofereceu 50 milhões de dólares por informações que levassem à sua detenção, no contexto de uma campanha militar de Washington contra cartéis que traficam drogas, como fentanil, e alimentam a violência em cidades americanas. Maduro rejeitou as acusações, considerando-as um mero pretexto para justificar uma escalada militar. Depois de os EUA enviarem três navios de guerra e quatro mil marinheiros para as Caraíbas em agosto, Trump anunciou a 2 de setembro que a marinha americana havia destruído um barco venezuelano, supostamente carregado de drogas, e morto as 11 pessoas a bordo, todas elas, segundo a Casa Branca, membros do Tren de Aragua, organização criminosa venezuelana. Em resposta, Maduro mobilizou mais de quatro milhões de soldados da Milícia Bolivariana. Até 29 de outubro de 2025, tinham morrido pelo menos 61 pessoas em ataques a 15 embarcações.E quais os antecedentes na relação entre a Casa Branca e os regimes de Chávez e Maduro?Após a eleição em 1999, Hugo Chávez afrontou Washington ao apoiar explicitamente o regime de Fidel Castro, em Cuba, e visitar Saddam Hussein, no Iraque. George W. Bush classificou o líder venezuelano de “força negativa”. E Chávez, em 2006, ao subir na ONU à mesma tribuna usada pelo pelo homólogo disse que “ainda fedia a enxofre” e referiu-se ao americano como “diabo”. Com Barack Obama, a relação pareceu melhorar até Chávez chamar o novo inquilino da Casa Branca de “ignorante” por este dizer que o venezuelano apoiava os guerrilheiros das FARC na Colômbia. Desde 2010, EUA e Venezuela não têm embaixadores nas respetivas capitais e, em 2013, Maduro, sucessor de Chávez, expulsou dois militares norte-americanos, ao que Obama respondeu repatriando dois diplomatas venezuelanos. No primeiro governo Trump, uma intervenção militar na Venezuela foi discutida em 2017, segundo reportagem do jornal argentino Clarín.Quais as reações em Washington e em Caracas aos ataques atuais?Diosdado Cabello, ministro do Interior, Justiça e Paz da Venezuela, chamou as mortes de assassinatos extrajudiciais. Mas María Corina Machado, líder da oposição a Maduro, dedicou o Prémio Nobel da Paz, que ganhou a 10 de outubro, ao povo venezuelano e a Trump. O vice-presidente americano JD Vance declarou nas redes sociais que “matar membros de cartéis (...) é o melhor uso das forças armadas". Já o senador Rand Paul, mesmo sendo do Partido Republicano, considerou “um sentimento desprezível (...) glorificar a morte sem julgamento”.E nos países vizinhos e demais potências?A primeira-ministra de Trinidad e Tobago, Kamla Persad-Bissessar, elogiou o ataque dos EUA. “Não tenho simpatia pelos traficantes; os militares dos EUA devem matá-los todos violentamente”, afirmou. O presidente colombiano Gustavo Petro disse, por outro lado, que atacar os ocupantes do barco em vez de capturá-los equivalia a assassinato. O presidente brasileiro Lula da Silva afirmou-se “do lado da paz”. Especialistas, grupos de direitos humanos e organismos internacionais, como a ONU, consideraram as execuções ilegais, segundo as leis americanas e internacionais. A porta-voz do ministério dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Maria Zakharova, chamou os ataques de “absolutamente inaceitáveis” e o Kremlin já se disse disposto a atender a pedidos de assistência de Caracas. Nas últimas horas, Pequim, acusada por Trump de usar a Venezuela para contrabandear fentanil, convocou representantes da América Latina na capital chinesa para avaliar a decisão americana de fechar o espaço aéreo local.Qual o último conflito na América do Sul envolvendo potências estrangeiras? Apesar de a região ter histórico de golpes de Estado e guerrilhas internas, não passa por guerras há quatro décadas. O último conflito armado foi a Guerra das Malvinas, em 1982. Na altura, o governo da Argentina, uma ditadura militar, decidiu retomar as ilhas, sob controle do Reino Unido, que as chamam de The Falklands. Ao envio de 10 mil soldados pela Argentina, o Reino Unido reagiu com aviões, submarinos e porta-aviões, obrigando à rendição do país sul-americano, após dois meses de confronto..Super Bigode, Maduro em versão super-herói dos desenhos animados na luta contra os EUA