Foi uma prenda de aniversário envenenada e atrasada. Um dia depois de o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, celebrar os 63 anos, os EUA designaram o Cartel de los Soles, que alegam ser liderado por ele, de organização terrorista internacional. O Governo venezuelano diz que o cartel não existe, acusando a Administração de Donald Trump de lançar uma “mentira vil” para justificar uma intervenção “ilegítima e ilegal” contra a Venezuela. Afinal, o que é que implica a decisão norte-americana?O secretário de Estado norte-americano, Marco Rubio, acusou o Cartel de los Soles de ser “responsável por violência terrorista” na região quando anunciou a intenção de o colocar na lista de organizações terroristas internacionais - onde também já estão vários cartéis mexicanos ou o venezuelano Tren de Aragua. Esta decisão é a mais recente medida da Administração na luta contra o narcotráfico, tendo já havido desde setembro mais de 20 ataques contra lanchas alegadamente carregadas de drogas nas Caraíbas e no Pacífico. Mais de 80 pessoas morreram nos ataques.A designação de organização terrorista “dá mais ferramentas ao nosso Departamento para dar opções ao presidente para afirmar, em última instância, que o nosso hemisfério não será controlado por narcoterroristas, não será controlado por cartéis e não será controlado pelo que regimes ilegítimos tentam impor ao povo americano”, disse o secretário da Defesa (rebatizado da Guerra) dos EUA, Pete Hegseth. “Trata-se apenas de ter opções”, acrescentou, lembrando que nenhuma hipótese está fora de questão.Caracas diz precisamente que os EUA estão apenas à procura de uma desculpa para uma ação militar na Venezuela, alegando que o Cartel de los Soles nem existe. De facto, segundo especialistas ouvidos pela agência de notícias Associated Press, esse nome começou a ser usado pelos venezuelanos na década de 1990 para designar oficiais militares de alta patente que enriqueceram ainda antes (mas também depois) da revolução bolivariana de Hugo Chávez. Os “sóis” do nome são as dragonas afixadas nos uniformes desses oficiais. Oficialmente, não são um grupo porque não têm uma hierarquia ou reuniões.Mas, em 2020, os EUA passaram a identificar o Cartel de los Soles como uma organização ligada ao narcotráfico e ao narcoterrorismo, depois de o Departamento de Estado acusar Maduro e os seus mais próximos aliados de “inundarem os EUA com drogas”. A recompensa por informações que possam levar à detenção do presidente venezuelano, identificado como o alegado líder do cartel, subiu, já este ano, para 50 milhões de dólares. Em julho, o Departamento do Tesouro impôs sanções contra Maduro. .O que se sabe do Cartel de los Soles, a organização que os EUA acusam Maduro de chefiar.Num comunicado, o Ministério dos Negócios Estrangeiros venezuelano “rejeita categórica, firme e absolutamente a nova e ridícula invenção” de Rubio, “que designa o inexistente Cartel de los Soles como organização terrorista, repetindo assim uma mentira infame e vil para justificar uma intervenção ilegítima e ilegal contra a Venezuela, no formato clássico norte-americano de mudança de regime”.Trump já disse no passado que esse não é objetivo das ações militares dos EUA nas Caraíbas, onde estão quase uma dezena de navios de guerra (incluindo o porta-aviões USS Gerald R. Ford). Mas pode ser uma consequência. Ao mesmo tempo, não exclui dialogar com Maduro, que não reconhece oficialmente como presidente da Venezuela. A tensão é crescente neste país, onde os militares e as milícias se preparam para o próximo passo dos EUA - que a Reuters diz que começa nos próximos dias. Companhias aéreas como a TAP ou a Iberia cancelaram os seus voos para a Venezuela, após Washington avisar que não estão garantidas as condições de segurança no espaço aéreo.