Elon Musk lidera, a pedido de Trump, programa que pretende cortar despesa pública dos Estados Unidos.
Elon Musk lidera, a pedido de Trump, programa que pretende cortar despesa pública dos Estados Unidos.WILL OLIVER / POOL

Está desfeito o mistério. Chefe formal do polémico DOGE é uma mulher, mas o poder segue nas mãos de Elon Musk

O Departamento de Eficiência Governamental está a cortar milhares postos de trabalho de funcionários federais norte-americanos, mas só agora se sabe quem tem a responsabilidade administrativa.
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Durante semanas a Casa Branca recusou responder à pergunta. Elon Musk é quem tem dado a cara pelas polémicas decisões do Departamento de Eficiência Governamental - ou DOGE (que é também o nome de uma criptomoeda associada ao multimilionário patrão da Tesla e da SpaceX) - despedindo do dia para a noite milhares de funcionários federais (alguns deles pertencendo a serviços essenciais que praticamente ficam extintos como a monitorização de armamento nuclear), encerrando departamentos, condicionando programas de ajuda internacional humanitária como o USAid e rescindindo unilateralmente centenas de contratos públicos.

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USAid e a falta de visão

O problema é que Elon Musk, além de não ter sido eleito, também não é um funcionário do Estado, sendo sempre apresentado como conselheiro especial do presidente Donald Trump - que, aliás, tem elogiado o trabalho do empresário, pedindo até a este para ser ainda “mais agressivo” na implementação do programa de corte de despesa pública. Mesmo atuando fora da esfera do Estado federal, isso não impediu Musk e a sua equipa de jovens informáticos da DOGE de terem acesso às folhas salariais e dados fiscais de milhões de norte-americanos.

A legalidade dos despedimentos e este acesso inusitado a dados sensíveis fizeram levantar dúvidas constitucionais e deram origem a vários processos judiciais, em que se alega que Musk não tem poder para aplicar este tipo de decisões. Uma das dúvidas dos representantes legais dos queixosos, e também da comunicação social, era saber quem era, então, o administrador oficial do DOGE, a pessoa que tem uma ligação efetiva à 'máquina' do Estado e não é apenas um conselheiro especial do Presidencial, como a Casa Branca descreve Musk. A pergunta foi colocada dezenas de vezes nas últimas semanas, mas a dúvida só se desfez esta quarta-feira após fonte oficial da presidência apontar o nome de Amy Gleason como administradora da DOGE, não sendo claro há quanto tempo ocupa o cargo.

Depois de recusar dizê-lo do pódio da Casa Branca, a secretária de imprensa, Karoline Leavitt, acabou mais tarde por informar os jornalistas sobre quem ocupa o comando formal do DOGE, tendo acrescentado que Gleason está “já há várias semanas no cargo, talvez um mês”. Confrontada com o facto dos próprios funcionários do DOGE não saberem quem era o administrador real do departamento limitou-se a dizer: “Têm de perguntar a eles”.

Amy Gleason já trabalhou sob administrações lideradas por Barack Obama, Joe Biden e Donald Trump.
Amy Gleason já trabalhou sob administrações lideradas por Barack Obama, Joe Biden e Donald Trump.

Amy Gleason tem formação na área de enfermagem, mas especializou-se no uso da tecnologia como ferramenta para melhorar os acessos aos cuidados de saúde, criação de registos médicos eletrónicos e interoperabilidade de sistemas. Trabalhou no Serviço Digital dos Estados Unidos, criado ainda na presidência do democrata Barack Obama (foi este o departamento que daria origem ao atual DOGE, após a tomada de posse de Trump em janeiro).

De acordo com as informações que colocou na rede social Linkedin, também trabalhou para o governo federal entre 2018 e 2021, logo sob as administrações de Donald Trump e de Joe Biden, tendo intervalado esta atividade profissional com outras no setor privado. Regressou à esfera pública no passado mês de janeiro. Entretanto, a cadeia noticiosa CBS reportou que conseguiu contactar Amy Gleason para uma primeira reação, mas esta terá recusado prestar declarações por se encontrar no México.

O facto de agora se saber quem é a administradora do DOGE não condiciona a intervenção de Elon Musk, pois este reporta apenas ao presidente dos Estados Unidos e o DOGE, em última instância, presta contas a Trump. Mas, para efeitos legais, é relevante saber quem tem a responsabilidade administrativa no departamento.

21 funcionários demitem-se em protesto

A ação do DOGE, pela dimensão dos cortes que Elon Musk quer impor, tem estado debaixo de intensa polémica e já abriu brechas internamente. Na terça-feira, um grupo de 21 funcionários (de engenheiros a cientistas de dados), que já prestavam funções no anterior Serviço Digital dos Estados Unidos, apresentaram uma carta conjunta formalizando a sua demissão.

“Jurámos servir o povo norte-americano e defender o nosso juramento à Constituição em todos os Governos presidenciais. No entanto, tornou-se claro que já não podemos honrar esses compromissos. Não usaremos as nossas habilidades para comprometer os principais sistemas governamentais, colocar em risco os dados confidenciais dos americanos ou desmantelar serviços públicos críticos”, escreveram os demissionários, revelando ainda que logo no dia seguinte à tomada de posse de Donald Trump foram chamados, por indivíduos que usavam um “cartão de visitante da Casa Branca” e que recusaram identificar-se, para entrevistas de “15 minutos” em que, entre outras, lhes foram feitas perguntas sobre a sua “lealdade política”.

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