A Ucrânia e os aliados europeus consideram que a Rússia continua a querer ganhar tempo, com Vladimir Putin a não aceitar um cessar-fogo como era exigência de Donald Trump até à véspera. O russo continua, porém, nas boas graças do norte-americano, uma vez que as sanções com que foi ameaçado deixaram de ser tema após a conversa entre os líderes na segunda-feira. Respondeu a União Europeia com a entrada em vigor do 17.º pacote de sanções económicas, e com o anúncio da preparação do próximo. Respondeu também Londres com sanções a mais cem entidades e indivíduos. Está aberta uma brecha entre o Ocidente e a Casa Branca.Na segunda-feira, depois da conversa com Putin, Trump realizou uma videoconferência com o ucraniano Volodymyr Zelensky, a italiana Giorgia Meloni, o finlandês Alexander Stubb, os alemães Ursula von der Leyen e Friedrich Merz e o francês Emmanuel Macron. Segundo conta o site Axios, os líderes europeus ficaram estarrecidos com o tom e os argumentos usados pelo norte-americano para, no final de contas, nada sair de produtivo, exceto a vaga promessa de que a Rússia apresentará um memorando que delineia o quadro para “um possível futuro tratado de paz”, e que Moscovo está pronta a continuar as negociações com a Ucrânia, iniciadas na semana passada em Istambul, mas esvaziadas de importância depois de Putin não ter comparecido e de Trump ter dito que nada de importante aconteceria sem que antes ele e o russo se encontrassem. .“É evidente que a Rússia está a ganhar tempo para continuar a guerra e a ocupação. Estamos a trabalhar com os nossos parceiros para pressionar os russos para que se comportem de outra forma.”Volodymyr Zelensky. No final da conversa, porém, o presidente dos EUA nada mencionou sobre uma hipotética cimeira, não extraiu qualquer concessão ou gesto de boa vontade, nem manteve a palavra e anunciou as prometidas “sanções devastadoras” contra a Rússia. Disse aos europeus que agora não acha boa ideia impor mais sanções e que pensa que Putin quer chegar a um acordo. Disse também ter pedido ao russo para este apresentar “algo em que as pessoas podem concordar” e não uma proposta a ser rejeitada de imediato. Segundo ainda o mesmo site noticioso, Meloni contestou a ideia de se avançar para as negociações sem haver pelo menos duas semanas de cessar-fogo e Merz perguntou que concessões a Rússia estava disposta a fazer. Ficaram sem resposta. Mas a Europa respondeu. O Conselho Europeu adotou nova ronda de sanções contra a Rússia, a qual visa em especial a chamada frota fantasma que transporta o crude russo para países terceiros. Desta vez são mais 189 petroleiros alvo de Bruxelas, passando o número total para 342 de navios que passam a estar mais limitados ou impossibilitados de fazer o transporte do petróleo bruto. As sanções impedem a entrada dos navios nos portos europeus e restringem uma série de serviços associados à sua atividade. Além disso, a UE impôs sanções à petrolífera Surgutneftegaz, a uma empresa de seguros russa, e a empresas de transporte marítimo nos Emirados, na Turquia e em Hong Kong. Novas sanções foram aplicadas para combater o fornecimento de tecnologia que alimente o complexo industrial-militar russo, em específico a seis empresas chinesas, uma bielorrussa e uma israelita; outras 31 empresas de vários países verão restrições à exportação dos seus produtos com tecnologia de duplo uso..“Os Estados Unidos disseram que haveria consequências se a Rússia não aceitasse um cessar-fogo completo e incondicional. Queremos ver essas consequências.”Kaja Kallas. Pela primeira vez, a UE aplica sanções a entidades russas pelo uso de armas químicas na linha da frente. As medidas foram tomadas tendo em conta relatórios da Organização para a Proibição de Armas Químicas, que acusa Moscovo de fazer uso de CS, um produto químico utilizado em gás lacrimogéneo e em gases para reprimir multidões. Destaque ainda para o estabelecimento de uma base legal para futuras sanções relacionadas com frotas que visam atingir infraestruturas, como por exemplo cabos submarinos. Em paralelo, eurodeputados e a presidência rotativa do Conselho, agora nas mãos da Polónia, chegaram a acordo provisório para reforçar o mandato da Agência Europeia da Segurança Marítima de forma a ajudar os estados-membros “a melhorarem o conhecimento da situação marítima face aos novos desafios geopolíticos”. O acordo ainda terá de ser aprovado pelo Conselho Europeu e pelo Parlamento. “Este conjunto de sanções sobre a Rússia é o mais abrangente desde o início da guerra”, considerou a chefe da diplomacia europeia, Kaja Kallas. “Enquanto Putin finge ter interesse na paz, mais sanções estão a ser preparadas. As ações da Rússia e aqueles que as habilitam enfrentam consequências severas. Quanto mais a Rússia persistir na sua guerra ilegal e brutal, mais dura será a nossa resposta.”.2400Ao fim de 17 pacotes de sanções contra a Rússia, a UE aplicou medidas contra 2400 entidades e indivíduos.. Do lado britânico, entre as cem entidades e indivíduos visadas, destaque para as medidas que têm como objetivo bloquear a cadeia de abastecimento de tecnologia usada pelos russos para o fabrico de mísseis balísticos Iskander - armas que têm sido utilizadas para atingir civis, como no bombardeamento que matou 35 pessoas e feriu mais de cem em Sumy, em abril. Realce para as sanções contra empresas financeiras que ajudam a Rússia a tentar contornar as sanções. O Reino Unido disse também que, junto dos seus parceiros, está a trabalhar para que o preço máximo do barril do petróleo russo baixe dos atuais 60 dólares a que está obrigado quando usa serviços do G7 (empresas de seguros ou de transportadoras). “Temos sido claros quanto ao facto de que atrasar os esforços de paz só irá redobrar a nossa determinação em ajudar a Ucrânia a defender-se e utilizar as nossas sanções para restringir a máquina de guerra de Putin”, disse o ministro dos Negócios Estrangeiros britânico David Lammy.