O acordo de cessar-fogo entre Israel e Hamas mantém-se, mas as suas fragilidades estão cada vez mais à vista, com ambas as partes a não cumprirem o estipulado no documento de 20 pontos. A organização que mantém o controlo da Faixa de Gaza à custa da violência não devolveu todos os corpos a Israel. Em contrapartida, as autoridades de Telavive também não enviaram para Gaza todos os cadáveres de combatentes palestinianos; e, para desespero dos habitantes do enclave e das organizações humanitárias no terreno, não abriram a passagem de Rafah para 600 camiões diários, como acordado, para dizer agora que tal deverá acontecer no domingo. A pressão à direita de Benjamin Netanyahu é para que conclua que o Hamas está em incumprimento e que aja em conformidade. É a administração Trump que tem estado a tentar aplacar a fúria de muitos israelitas. No entanto, o presidente dos Estados Unidos ameaçou com uma intervenção militar caso os homens armados do Hamas continuem a matar a própria população. “Se o Hamas continuar a matar pessoas em Gaza, o que não fazia parte do acordo, não teremos outra escolha senão entrar e matá-los”, ameaçou Donald Trump numa mensagem na sua rede social, Truth Social. Esta advertência surge na sequência de um vídeo transmitido pelo canal do Hamas, na segunda-feira, da execução de oito palestinianos acusados de colaborar com Israel. Trump começou por dizer que não se importou com a morte do que chamou “membros de bandos” e também que não lhe fazia diferença que o Hamas ficasse, para já, no controlo das operações. Mas o líder de uma milícia que luta contra os islamistas em Khan Yunis, com o apoio de Israel, enviou uma mensagem a Trump a agradecer os seus esforços e a pedir para que este intervenha. Hossam al-Astal comparou o Hamas ao Estado Islâmico e disse que este está a matar “centenas de jovens, mulheres, crianças e idosos”.Há 19 corpos de israelitas por devolver, depois da entrega de mais dois na quarta-feira à noite. Foram identificados como Inbar Hayman, raptada no festival de música Nova, e o sargento-major Muhammad al-Atrash, o qual terá sido morto em combate no dia 7 de outubro de 2023, tendo o seu corpo sido levado pelos milicianos do Hamas. Este alega não ter condições para encontrar os restantes cadáveres. Em comunicado divulgado nos canais da organização considerada terrorista pela UE e EUA, esta disse ter cumprido o seu “compromisso com o acordo” e relembrou ter entregado todos os “prisioneiros israelitas vivos” nas suas mãos, bem como os corpos a que pôde “aceder”, ou seja, nove, e um décimo que as autoridades israelitas não reconhecem como seu. “Quanto aos corpos restantes, são necessários grandes esforços e equipamento especial para a sua recuperação e extração”, explicou. .O chefe da diplomacia israelita acusa o Hamas de violar os acordos ao não devolver de forma deliberada 19 corpos de reféns. Segundo a CNN, Netanyahu sabe há meses que o grupo islamista não tem meios para recuperar os cadáveres..As alegações não caíram bem em Israel. O ministro dos Negócios Estrangeiros Gideon Saar acusou o Hamas de violar os acordos celebrados ao “continuar a reter” os corpos de 19 reféns. “Sabemos que eles têm a capacidade de devolver os nossos reféns falecidos, mas escolhem não o fazer”, comentou no X. Antes, o ministro da Defesa Israel Katz disse ter dado instruções para as forças israelitas planificarem uma resposta para derrotarem o Hamas, caso este não siga o acordado. Há também pressão social, com o Forum das Famílias de Reféns e Desaparecidos a criticar a inação do exército. “É inconcebível que as Forças de Defesa de Israel tenham permitido que o acordo continue a ser aplicado enquanto o Hamas o viola flagrantemente e os nossos entes queridos continuam em Gaza”, disse em comunicado. No entanto, segundo fontes citadas pela CNN, quer os altos comandos militares, quer o primeiro-ministro sabem há muito que, dado o elevado grau de destruição infligido a Gaza, é possível que o Hamas não tenha como recuperar vários corpos. O mesmo foi relevado por conselheiros da administração Trump aos jornalistas, depois de informarem que têm pressionado Israel para partilhar qualquer informação sobre a possível localização dos corpos, para depois a transmitir ao Hamas através de mediadores. “É necessário compreender a complexidade das condições no terreno. Toda a Faixa de Gaza foi pulverizada. Debaixo de todos esses escombros, há muitos corpos”, disse um dos altos funcionários. Avançaram também que equipas de busca e salvamento turcas iriam entrar em Gaza com esse objetivo, uma informação confirmada por Ancara, ao dizer que serão destacados 81 peritos para o terreno.E aindaHamas faz contasSegundo a organização islamista há 20 mil projéteis por detonar, entre mísseis e bombas, e entre 65 e 70 milhões de toneladas de escombros na Faixa de Gaza.Hezbollah bombardeadoIsrael realizou dois ataques aéreos no Líbano que “desmantelaram infraestruturas subterrâneas” do Hezbollah, “onde estavam armazenadas armas”, na região do Beca e no sul do país. Líder houthi mortoO líder militar dos houthis Muhammad al-Ghamari foi morto “enquanto estava envolvido no seu trabalho jihadista e cumpria o seu dever fiel”, anunciou a Al Masirah TV.Queixa contra AirbnbA Liga dos Direitos do Homem apresentou uma queixa em Paris contra as empresas Airbnb e Booking por oferecerem alojamentos nas colónias israelitas na Cisjordânia.