Esquerda colombiana aposta em Gustavo Petro à procura de fazer história

Cerca de 39 milhões de eleitores elegem amanhã o sucessor de Iván Duque, sendo o ex-guerrilheiro e antigo autarca de Bogotá o favorito.
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A Colômbia nunca teve um presidente de esquerda, mas, se dependesse de Gustavo Petro, isso acabava já este domingo - na sua terceira tentativa de chegar à Casa de Nariño. O ex-guerrilheiro do Movimento 19 de Abril, de 62 anos, candidato do Pacto Histórico pela Colômbia, é o favorito nas sondagens. Mas tudo aponta para que tenha que disputar uma segunda volta, a 19 de junho, contra Federico Gutiérrez, ex-autarca de Medellín, de 47 anos, à frente dos conservadores e liberais da Equipa pela Colômbia. Os mais de 39 milhões de eleitores colombianos irão decidir.

"Esta é uma eleição da mudança na Colômbia", disse Michael Shifter, analista no think tank norte-americano Inter-American Dialogue. "Há muita frustração, muita raiva, e acho que Petro conseguiu aproveitar isso", acrescentou à AFP. O atual presidente, Iván Duque, não se pode recandidatar a um segundo mandato - alegou numa entrevista que, se pudesse, seria reeleito facilmente.

O candidato de esquerda, que foi quarto nas presidenciais de 2010 e perdeu na segunda volta em 2018 para Duque, promete repensar o modelo económico capitalista e expandir os programas sociais, mudando o sistema de saúde para um controlado publicamente. Além disso, o senador que foi presidente da câmara de Bogotá - entre 2012 e 2015, com um impeachment pelo meio, que foi revogado pelo Supremo Tribunal - quer que mais jovens tenham acesso ao ensino superior, propondo aumentar os impostos dos mais ricos para financiar as mudanças.

A oposição de direita tenta apresentá-lo como um populista radical de esquerda, alegando que deixará o país como a Venezuela, à beira do colapso económico. Ele recusa qualquer comparação, mas defende o restabelecimento de relações com o país vizinho, com o qual a Colômbia comparte mais de 2200 quilómetros de fronteira.

Petro prefere descrever-se como progressista, para evitar ser associado às guerrilhas marxistas no centro do conflito armado que já dura há mais de 60 anos. Isto apesar de ele próprio ter pertencido à guerrilha urbana do M-19, alegando, contudo, que nunca foi combatente. Petro passaria quase dois anos preso, até que em 1990 a guerrilha assinou a paz com o governo. Agora é alvo de ameaças de morte, razão pela qual apareceu no último comício com colete à prova de bala, 20 guarda-costas e escudos ao seu lado no palco.

Há mais quatro nomes na corrida, com o independente Rodolfo Hernández a querer surpreender Gutiérrez e ser ele a avançar para a segunda volta. Íngrid Betancourt, ex-senadora que foi sequestrada na campanha para as presidenciais de 2002 e passou mais de seis anos como refém das FARC, desistiu da candidatura há menos de 10 dias. E apoiou Hernández.

susana.f.salvador@dn.pt

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