O presidente norte-americano, Donald Trump, viaja na sexta-feira (25 de julho) para a Escócia numa “visita privada” de quatro dias durante a qual vai inaugurar um novo campo de golfe no seu resort em Aberdeen, na costa do Mar do Norte. Mas isso não o impede de ter reuniões políticas, nomeadamente com o primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, nem de ter à sua espera muitos protestos. Tudo a menos de dois meses de uma inédita segunda visita de Estado ao Reino Unido.O novo campo de golfe de 8 buracos foi batizado em homenagem à mãe do presidente, Mary Anne MacLeod Trump, que nasceu na ilha escocesa de Lewis em 1912 e imigrou aos 18 anos para os EUA. Seis anos depois de chegar e de ter trabalhado como ama de um casal rico, casou com um dos solteiros mais cobiçados de Nova Iorque. Trump é o quarto dos cinco filhos que tiveram. Mary Anne tornou-se cidadã norte-americana em 1942, mas continuou a falar gaélico sempre que voltava à sua terra natal - e fazia-o várias vezes. Morreu em 2000, com 88 anos. A casa onde a família vivia foi recuperada e o presidente já a visitou várias vezes (alguns alegam que só para tirar uma fotografia e aproveitar a publicidade). Desde 2006, que a relação é mais próxima, graças aos campos de golfe. Trump fala sempre do seu “carinho” pela Escócia, mas este não é recíproco. Uma sondagem Ipsos, de fevereiro, mostra que 71% dos escoceses têm uma opinião desfavorável do presidente norte-americano. Um valor ainda mais elevado do que entre os britânicos em geral - 57% têm uma opinião desfavorável de Trump. ReuniõesA viagem pode ser “privada”, mas haverá muita política à mistura. A Casa Branca já anunciou um encontro na segunda-feira (28 de julho) com o primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, para “refinar o grande acordo comercial que foi negociado entre os EUA e o Reino Unido” - um dos poucos já alcançados em plena guerra de tarifas. O primeiro-ministro britânico não acompanhará Trump numa partida de golfe - suspeita-se que não joga, tendo-se tornando no primeiro chefe do Governo britânico em cem anos a recusar tornar-se membro honorário do campo em Chequers (junto à casa de campo dos inquilinos do número 10 de Downing Street).O líder do executivo escocês, John Swinney, também vai reunir com Trump, considerando que isso é do interesse da Escócia. Isto apesar de ter criticado o presidente dos EUA após o seu confronto com o homólogo ucraniano, Volodymyr Zelensky, na Sala Oval. Na altura, o chefe do governo escocês defendeu que deveria ser cancelada a visita de Estado de Trump ao Reino Unido.Em fevereiro, Starmer surpreendeu Trump quando, no seu encontro na Casa Branca, mostrou um convite do rei Carlos III para o presidente norte-americano fazer uma (inédita) segunda visita de Estado ao país (a primeira foi em 2019, no primeiro mandato). Trump, que não esconde o seu fascínio pela realeza britânica, ficará alojado com a mulher, Melania, no Castelo de Windsor, junto com Carlos e Camilla. A visita está marcada para os dias 17 a 19 de setembro, coincidindo (talvez de propósito) com as férias anuais da Câmara dos Comuns para as conferências dos diferentes partidos. Isso remove a possibilidade de Trump fazer um discurso para as duas câmaras do Parlamento, como fizeram outros presidentes norte-americanos antes dele (nomeadamente Bill Clinton e Barack Obama) ou o francês, Emmanuel Macron, no início do mês. O discurso não é automático de uma visita de Estado e Trump também não o fez em 2019 (na altura houve até uma moção de uma centena de deputados a oporem-se, citando a “misoginia, racismo e xenofobia” do presidente). Trump não parece dar importância ao tema, tendo dito que não é preciso chamar os deputados das férias.ProtestosA agenda do presidente ainda não é conhecida, mas sabe-se que também irá ao seu outro campo de golfe, Turnberry, em South Ayrshire. E isso obriga as autoridades escocesas a planear aquela que é a maior operação de segurança desde a morte da rainha Isabel II, em 2022. Na última visita à Escócia enquanto presidente, em 2018, houve grandes manifestações em Glasgow, Edimburgo e Aberdeen, tendo Trump sido vaiado durante uma das suas partidas de golfe. Segundo a BBC, na altura mais de cinco mil polícias foram chamados para reforçar a segurança, tendo a operação custado cerca de 5,8 milhões de euros aos contribuintes britânicos. Nesta visita também estão previstos protestos contra a sua política “de divisão”. Além disso, a viagem surge depois de duas tentativas de assassinato contra o presidente, uma delas enquanto jogava golfe. Algo que a polícia escocesa diz que não pode ignorar, tendo pedido o reforço de meios.“A Polícia da Escócia tem muita experiência em termos de organizar e planear eventos e operações desta escala”, disse à Sky News a subchefe Emma Bond. “Mas esta é uma operação significativa para nós, focada em manter a segurança pública, equilibrar os direitos das pessoas aos protestos pacíficos e garantir que minimizamos a disrupção para as comunidades”. Nos últimos dias, segundo a imprensa britânica, apareceram cartazes junto dos campos de golfe com a mensagem “germinado com a ilha de Epstein”. Nem na Escócia o presidente deverá livrar-se da polémica das últimas semanas, sobre as suas ligações ao falecido pedófilo Jeffrey Epstein. O Wall Street Journal, que revelou uma alegada carta de parabéns de Trump a Epstein, não só está a ser alvo de um processo como o seu jornalista foi afastado do grupo que acompanhará o presidente até à Escócia. .Administração Trump cede no caso Epstein