Escalada de violência na Síria. Mais de 1000 mortes nos últimos dias, cerca de 750 eram civis
Mais de 1000 pessoas morreram em confrontos na Síria desde quinta-feira após o aumento da escalada de violência entre apoiantes do governo e grupos considerados leais ao presidente deposto Bashar al Assad.
O número de mortes relatado pelo Observatório Sírio para os Direitos Humanos (SOHR) torna os últimos dias de violência como um dos períodos mais mortais desde que o conflito na Síria começou há 14 anos
O governo diz que está a responder a ataques de remanescentes das forças de Assad e culpou "ações individuais" pela violência.
Cerca de 750 civis foram mortos, a maioria em massacres, assim como 148 combatentes pró-Assad e 125 pessoas das forças de segurança, de acordo com o SOHR sediado na Grã-Bretanha.
Mas até ao momento nenhum número oficial foi divulgado.
O líder sírio Ahmed al-Sharaa pediu paz este domingo enquanto os confrontos continuavam entre forças ligadas aos novos governantes islâmicos e combatentes da seita alauíta de Assad.
"Temos que preservar a unidade nacional e a paz doméstica, podemos viver juntos", disse Ahmed al-Sharaa.
O SOHR disse que a violência irrompeu na tarde de quinta-feira quando militantes pró-Assad montaram uma emboscada às forças de segurança sírias na região de Latakia, um antigo reduto do líder deposto, onde vivem muitos dos alauítas minoritários.
A escalada dos confrontos está a preocupar a comunidade internacional. A Rússia e a Turquia já alertaram que a troca de agressões ameaça a estabilidade de toda a região. E a Alemanha pediu que os dois lados evitem uma espiral de violência.
Os alauítas são uma minoria xiita que apoiava o ditador Bashar al-Assad, deposto em dezembro. O grupo que assumiu o poder é sunita.
O enviado da Organização das Nações Unidas (ONU) para a Síria, Geir Pederson, disse que está extremamente preocupado com os combates e fez um apelo: "Peço que todas as partes evitem ações que possam inflamar as tensões, escalar o conflito, exacerbar o sofrimento das comunidades atingidas, desestabilizar a Síria e a transição política confiável e inclusiva".
No sábado, uma Organização Não-Governamental (ONG) indicou que mais de 300 civis alauitas foram mortos, muitos executados pelas forças de segurança, durante confrontos entre tropas do novo regime em Damasco e insurgentes leais ao ex-Presidente Bashar al-Assad.
"Estamos a falar da morte de pelo menos 304 civis", declarou o diretor do Observatório Sírio para os Direitos Humanos, Rami Abdelrahman.
O mesmo responsável acrescentou em comunicado que mais de 200 outros combatentes de ambos os lados foram mortos nos confrontos, que eclodiram na quinta-feira na província costeira de Latakia, elevando o número total de mortos para mais de 500.
Presidente interino anuncia "comissão independente" para investigar ataques contra civis
O Presidente interino da Síria, Ahmed al Sharaa, anunciou este domingo a formação de uma comissão independente para investigar as "violações contra civis" e apurar os responsáveis pela violência que terá causado mais de 700 mortos nos últimos dias.
O Presidente decidiu "formar uma comissão nacional independente para investigar (...) os acontecimentos ocorridos na costa síria em 06 de março", composta por cinco juízes, um general de brigada e um advogado, informou a Presidência síria.
A comissão, que terá 30 dias para apresentar o seu relatório, deverá apurar "as causas, circunstâncias e condições que levaram à ocorrência destes acontecimentos", além de "investigar as violações contra civis e identificar os responsáveis", bem como "investigar os ataques contra instituições públicas, pessoal de segurança e do exército e identificar os responsáveis".
"As pessoas envolvidas na prática de crimes e violações" durante estes atos serão levadas a tribunal, determinou a Presidência síria.
Entretanto, o Parlamento Europeu apelou a todos os organismos governamentais competentes para que cooperem com a comissão em tudo o que for necessário para garantir que esta cumpra as tarefas que lhe foram atribuídas.
Esta comissão vem juntar-se à que foi constituída no sábado pelo Ministério da Defesa, que tem por objetivo "enviar a julgamento militar" os que cometeram infrações durante as operações na costa mediterrânica síria.