Erdogan põe travão na adesão da Suécia e Finlândia à NATO. Já Putin deixa aviso
Invasão da Ucrânia levou Estocolmo e Helsínquia a porem de lado a neutralidade. Rússia promete responder se houver "expansão das estruturas militares" da Aliança nestes países. No terreno, forças russas recuam para lá da fronteira em Kharkiv e reforçam ataques no Donbass.
O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, colocou esta segunda-feira um obstáculo à entrada da Suécia e da Finlândia da NATO, acusando estes países de acolherem "terroristas" curdos e prometendo vetar a sua adesão à Aliança Atlântica. Já o presidente russo, Vladimir Putin, disse que este alargamento não representa uma "ameaça direta" para Moscovo, mas avisou que a "expansão de estruturas militares" irá "certamente provocar" uma "resposta" da Rússia. No terreno, as tropas russas terão sido empurradas para lá da fronteira entre os dois países próximo da cidade de Kharkiv.
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Um dia depois de a Finlândia oficializar a sua decisão de pedir para entrar na Aliança Atlântica, esta segunda-feira foi a vez da Suécia dar o mesmo passo. O último obstáculo sueco tinha sido levantado na véspera, quando o Partido Social Democrata da primeira-ministra Magdalena Andersson tomou a decisão de levantar a sua oposição histórica à entrada na NATO - ainda no congresso, em novembro do ano passado, tinha defendido manter a política de não-alinhamento da Suécia. A invasão da Ucrânia levou a uma mudança de posição, tal como aconteceu com os próprios eleitores. As sondagens indicam que há agora cerca de 50% a favor da adesão e só 20% contra.
"O governo decidiu informar a NATO que a Suécia quer tornar-se um membro da Aliança", disse Andersson numa conferência de imprensa, ao lado do líder dos Moderados, o principal partido da oposição. "Há muitos grandes temas em que pensamos diferente, mas vamos assumir a responsabilidade conjunta no processo de entrada da Suécia na NATO", disse Ulf Kristersson. "Estamos a deixar uma era e a começar outra", acrescentou a primeira-ministra. A oficialização da candidatura deverá ser nos próximos dias, em conjunto com a Finlândia, cujo Parlamento tem que dar a luz verde.
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Travão turco
Apesar de desejar que o processo de adesão seja rápido, a primeira-ministra sueca admite que possa demorar um ano para ter a luz verde de todos os 30 países que atualmente fazem parte da Aliança Atlântica. A decisão tem que ser unânime, sendo que um deles - a Turquia - está a pôr obstáculos. Ancara critica Estocolmo, e em certa medida também Helsínquia, pelo que considera ser o apoio aos curdos do PKK (considerados organização terrorista em vários países).
"A Suécia é um centro de incubação de organizações terroristas. Acolhem terroristas. No seu Parlamento há deputados que defendem os terroristas. A quem acolhe terroristas não diremos "sim" quando quiserem unir-se à NATO", disse Erdogan. A Turquia viu negados, nos últimos cinco anos, 33 pedidos de extradição por parte dos dois países de suspeitos de ligação com o PKK, mas também com o movimento de Fethullah Gülen, acusado de estar por detrás da tentativa de golpe de Estado de 2019.
"Não diremos "sim" aos países que aplicam sanções à Turquia", acrescentou o presidente, referindo-se ao embargo sueco à venda de armas que existe desde 2019, por causa das operações turcas na Síria. E sobre a intenção de Suécia e Finlândia de enviarem delegações a Ancara, deixou claro: "Vêm para nos persuadir? Não se incomodem."
Na véspera, numa reunião de chefes da diplomacia da NATO, o secretário-geral Jens Stoltenberg tinha-se mostrado confiante de que as reservas expressas pela Turquia já desde a semana passada não iriam travar a adesão e que será possível encontrar uma solução comum. O tema deverá dominar o encontro entre o secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, e o chefe da diplomacia turca, Mevlut Cavusoglu, amanhã, em Washington.
Avisos de Putin
Horas antes do anúncio esperado da Suécia, o presidente russo já tinha reagido ao eventual alargamento da NATO, considerando-o "um problema que foi criado artificialmente, já que está a ser feito ao abrigo dos interesses de política externa dos EUA". Sobre a adesão de Suécia e Finlândia, disse que não representa uma ameaça, mas que a Rússia irá responder se houver uma expansão das estruturas militares nesses países. Essa resposta dependerá da ameaça: "Vamos responder de acordo." No caso da Suécia, os sociais-democratas de Andersson aprovaram manter uma "reserva unilateral" contra a presença de bases permanentes ou armas nucleares no território.
Durante o período crítico até à adesão à NATO, quando entra em vigor o artigo da defesa mútua, a Suécia já recebeu garantias de segurança de vários países, incluindo EUA, Reino Unido e Alemanha, e esta segunda-feira dos vizinhos nórdicos da Noruega, Dinamarca e Islândia. "Caso a Finlândia e a Suécia sejam vítimas de agressão no seu território antes de serem membros da NATO, vamos prestar assistência à Finlândia e à Suécia com os meios necessários", indicaram num comunicado conjunto.
Linha da frente
Na Ucrânia, as atenções estão viradas para o Norte e Leste do país. O governo anunciou que o 227.º Batalhão da 127.ª Brigada das Forças de Defesa Territoriais da Ucrânia tinha repelido as forças russas próximo de Kharkiv, a segunda maior cidade, e recuperado a linha de fronteira. "Juntos para a vitória", escreveu o Ministério da Defesa ucraniano no Facebook, junto a um vídeo que alegadamente mostra as forças ucranianas junto a um marco de fronteira.
"Agradecemos a todos os que, arriscando as suas vidas, libertam a Ucrânia dos invasores russo", disse o governador da região de Kharkiv, Oleg Synegubov. "Ainda temos muito trabalho à nossa frente", acrescentou. Há uma semana que os ucranianos têm vindo a ganhar terreno junto a Kharkiv, com os russos a recuar e a concentrar as suas forças para conquistar Donbass. A cidade de Severodonetsk voltou a ser bombardeada sem descanso, com pelo menos dez pessoas a morrer, segundo o governador de Lugansk, Sergiy Gaiday.
No seu vídeo diário, publicado à noite, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, já tinha avisado para o reforço dos ataques no Leste do país. "Estamos a preparar-nos para novas tentativas da Rússia de atacar o Donbass, para de alguma forma intensificar os seus movimentos no sul da Ucrânia", indicou. "Os ocupantes ainda não querem admitir que estão sem saída e que a sua chamada "operação especial" já foi pelos ares", acrescentou.
As autoridades russas revelaram também ter abatido três aviões ucranianos, um próximo da chamada ilha das Serpentes, no Mar Negro, e outros dois na região de Mykolaiv e Kharkiv. Os russos indicaram ainda ter concordado em retirar os soldados ucranianos feridos da fábrica Azovstal, em Mariupol, para um hospital numa cidade controlada pelas forças de Moscovo. Mas não houve qualquer confirmação da parte de Kiev.
susana.f.salvador@dn.pt
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