Canhões de água usados contra um manifestante no domingo à noite, em Istambul.
Canhões de água usados contra um manifestante no domingo à noite, em Istambul.EPA/ERDEM SAHIN

Erdogan apelida protestos de “movimento de violência”

Presidente diz que oposição “provoca” em vez de responder às acusações. E que UE não pode garantir a sua segurança sem Ancara.
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O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, defendeu esta segunda-feira que os protestos contra a detenção do autarca de Istambul, Ekrem Imamoglu, transformaram-se num “movimento de violência”. Mais de 1100 pessoas foram detidas nas manifestações e pelo menos 123 polícias ficaram feridos, segundo o governo. O líder opositor, acusado de corrupção, foi formalmente escolhido como candidato do Partido Republicano do Povo (CHP) às presidenciais de 2028 e continua a apelar aos protestos.

“Em vez de responderem às acusações de corrupção, roubo, suborno e extorsão, eles fizeram as declarações mais vis e ilegais da nossa história política nos últimos cinco dias”, acusou Erdogan, após uma reunião do conselho de ministros. Denunciando um “movimento de violência” da parte do CHP, o presidente disse que a oposição deve parar de “provocar” os cidadãos. “Acredito que se tiver algum respeito, terá vergonha do mal que fez ao país”, acrescentou.

Segundo o ministro do Interior turco, Ali Yerlikaya, “entre 19 e 23 de março, 1133 indivíduos foram detidos por participar nas manifestações não autorizadas”. No X, o responsável alegou que, entre os detidos, há “indivíduos ligados a 12 organizações terroristas diferentes”. Yerlikaya indicou ainda que 123 polícias ficaram feridos nos confrontos, tendo sido apreendidos “ácido, pedras, paus, fogo de artifício, cocktails molotov, machados e facas”.

O líder opositor, que foi eleito em primárias simbólicas como candidato do CHP às presidenciais previstas para 2028, apelou ontem através das redes sociais a uma sexta noite de manifestações em Istambul. “Eu trabalho muito. Vou trabalhar mais. Não importa realmente onde estou”, indicou no X, pedindo aos jovens que evitem confrontos com a polícia e as autoridades.

A União Europeia (UE) exortou esta segunda-feira a Turquia a respeitar os princípios da democracia, após a detenção não só de Imamoglu, mas também de uma dezena de jornalistas turcos. “Queremos que a Turquia se mantenha ancorada à Europa, mas isso exige um compromisso claro com as normas e práticas democráticas”, disse o porta-voz da Comissão Europeia, Guillaume Mercier. O governo alemão cessante, liderado por Olaf Scholz, foi mais longe nas críticas, apelidando de “totalmente inaceitável” a detenção do opositor e alegando que esta deve ser “esclarecida muito rapidamente e de forma transparente”.

Ignorando as críticas, Erdogan mostrou-se pronto a aprofundar as relações com a UE, defendendo que esta não pode garantir a sua segurança sem a Turquia. “A necessidade do nosso país começou a ser abertamente reconhecida pela Europa, não só em termos de segurança, mas também em muitas áreas, da economia à diplomacia e do comércio à vida social”, referiu. “A Turquia está pronta para fazer avançar as suas relações com os países europeus e a UE no contexto dos interesses comuns e do respeito mútuo”, acrescentou. A Turquia iniciou negociações para a adesão em 2005, mas estas estão num impasse desde 2018.

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