Encruzilhada democrata nos 100 dias de Trump
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Encruzilhada democrata nos 100 dias de Trump

Com as intercalares a um ano e meio de distância, a oposição procura uma resposta às mudanças feitas desde 20 de janeiro. Muitos democratas acusam a sua liderança de ser “branda” com o presidente.
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Horas depois de Donald Trump assinalar os 100 dias no poder com um comício no Michigan, Kamala Harris irá fazer esta quarta-feira uma rara aparição pública na Califórnia, onde vai discursar no encontro anual da Emerge, uma das maiores redes de mulheres democratas eleitas do país. A candidata derrotada pelo milionário republicano nas presidenciais de novembro tem mantido o silêncio nos últimos meses, enquanto o seu Partido Democrata luta com divisões internas e com o desafio de encontrar uma resposta às rápidas mudanças feitas pela nova Administração - seja na imigração, na economia ou na política externa, Uma resposta capaz de convencer os americanos, a tempo das eleições intercalares de 2026, onde a oposição espera recuperar a maioria que perdeu em ambas as câmaras do Congresso. Isto enquanto procura um candidato convincente às presidenciais de 2028.

Basta olhar para a última sondagem CNN/SSRS para perceber o descontentamento dos democratas com a liderança do seu próprio partido: 61% disseram desaprovar a forma como os dirigentes no Congresso têm gerido a oposição a Trump, acusando-os de serem demasiado brandos.

“Nada disto mostra que vocês estão a lutar por nós… As palavras são ótimas, mas não estou a ver nenhuma ação”, disse um eleitor exasperado num evento realizado em março pelo senador democrata do Colorado, Michael Bennet e citado pelos media. Este é apenas um exemplo da ira de muitos apoiantes democratas.

Um dos momentos que irritou as bases foi a decisão do líder da minoria democrata no Senado, Chuck Schumer, de apoiar um projeto de lei republicano para garantir o financiamento do governo, evitando a sua paralisação (o chamado shutdown). Os críticos - entre eles a antiga presidente da Câmara dos Representantes Nancy Pelosi - defendem que rejeitar o projeto de lei e forçar a paralisação do governo teria feito Trump e os republicanos repensarem a sua estratégia e negociar um acordo mais aceitável para os democratas. Schumer, no entanto, argumentou que era uma opção muito pior permitir que “Trump ganhasse ainda mais poder através de uma paralisação do governo”.

Alguns dos ataques mais ferozes contra a decisão de Schumer partiram de Alexandria Ocasio-Cortez. “Há um profundo sentimento de indignação e traição”, afirmou a congressista de Nova Iorque, que se especula estar a pensar desafiar o veterano senador nas intercalares, candidatando-se às primárias para o seu lugar em Nova Iorque. Aos 35 anos, AOC, como é conhecida a ex-ativista que os defensores descrevem como uma liberal e os críticos veem como uma perigosa radical de esquerda, tem surgido ao lado de outro veterano, Bernie Sanders, em comícios por todo o país na campanha “Lutar contra a Oligarquia”. Ocasio-Cortez e o senador independente, candidato à nomeação democrata para as presidenciais de 2016 e 2020, estão a percorrer o país no que a revista The Atlantic descreveu como “uma tentativa de canalizar a raiva dos democratas em populismo produtivo”.

Enquanto esperam para ver como reagem os americanos às mudanças impostas por Trump - desde que tomou posse, a 20 de janeiro, já assinou 142 ordens executivas -, sobretudo o impacto das tarifas aduaneiras na economia nacional, os democratas olham também já para 2028. E se AOC tem pela primeira vez idade para ser candidata à presidência (mesmo se parece pouco provável dado o seu perfil divisivo), muitos outros nomes se perfilam. Desde os governadores Gavin Newsom, Gretchen Whitmer ou Josh Shapiro, passando pelo ex-secretário dos Transportes Pete Buttigieg ou o senador Ruben Gallego. E, no início do mês, Cory Booker deu uma luz de esperança aos eleitores do seu partido ao ser notícia em todos os meios de comunicação americanos - e não só - com um discurso de 25 horas no Senado contra a agenda do presidente Trump.

Mas claro que em três anos e meio, muito ainda pode mudar.

Encruzilhada democrata nos 100 dias de Trump
Os 100 dias em que Trump tentou refazer a América... e o mundo

EM NÚMEROS

41% de aprovação

Uma sondagem CNN/SSRS revela que só 41% dos americanos aprovam a atuação de Trump, o número mais baixo de um presidente, nesta altura do mandato, desde que há registo.

142 ordens executivas

Desde que tomou posse, a 20 de janeiro, Trump já assinou 142 ordens executivas. Um recorde de decretos presidenciais - Biden assinou 42 neste período, Obama 19. Franklin Roosevelt era quem tinha mais até agora: 99.

7,9% de queda

Desde a posse de Trump, o índice S&P caiu 7,9% caminhando para o pior desempenho nos primeiros 100 dias de um presidente desde Gerald Ford, em 1974, após a renúncia de Richard Nixon.

145% tarifas

A Administração Trump impôs tarifas de 10% a todos os produtos importados e de 25% sobre o aço, alumínio, carros e peças de automóveis. A China, com taxas de 145% é o país mais penalizado.

7800 entradas

Nestes 100 dias, registaram-se 7180 entradas nos EUA através da fronteira com o México, o número mais baixo e uma queda dramática em relação à média mensal dos quatro anos anteriores, 155.000.

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