O objetivo do presidente norte-americano, Donald Trump, é ganhar um Nobel da Paz e ele não o esconde. Em junho, numa mensagem na Truth Social, anunciava que a República Democrática do Congo e o Ruanda tinham chegado a acordo para o fim da guerra. “Não vou receber um Nobel por isto”, lamentou, dizendo que também não o iria receber pela paz entre Índia e Paquistão e outras guerras que alegadamente já ajudou a pacificar. “Na verdade, parei cinco guerras nos últimos cinco meses”, insistiu Trump na semana passada, sem especificar quais e ainda antes de mais um “sucesso” na sexta-feira (8 de agosto), entre Arménia e Azerbaijão. Mas aquela que tinha dito que resolvia em 24 horas depois de voltar à Casa Branca, a da Ucrânia, continua sem fim à vista. E na Faixa de Gaza a situação é também grave, com Israel a dizer que vai assumir o controlo total do enclave palestiniano. “Não, não ganharei o prémio Nobel da Paz, independentemente do que faça, incluindo a Rússia/Ucrânia e Israel/Irão, quaisquer que sejam esses resultados, mas as pessoas sabem, e isso é tudo o que me importa!”, indicou nessa mensagem em junho - antes de os EUA bombardearem o Irão, “dizimarem” o programa nuclear iraniano e porem fim à guerra dos 12 dias com Israel. Será que este conta como um dos conflitos que resolveu?.O desejo de ganhar o Nobel não é de agora: já em fevereiro de 2019, após uma reunião com o então primeiro-ministro japonês Shinzo Abe, Trump contou aos jornalistas que ele o tinha nomeado para o prémio (alegadamente terá sido a pedido dos próprios EUA). “Provavelmente nunca o vou ganhar. Mas está tudo OK”, desabafou.O presidente queixou-se então que o antecessor, Barack Obama, tinha ganhado um em 15 segundos - e sem saber bem porquê. Obama foi galardoado em 2009, no primeiro ano de mandato, pelos “esforços extraordinários para reforçar a diplomacia e a cooperação internacional entre povos”. Os críticos alegam que Obama foi distinguido só pela promessa do que podia fazer - e desiludiu. Trump repetiu os lamentos ao longo dos anos, mas tem sido mais insistente nos últimos tempos. “Nunca me darão um prémio Nobel da Paz. É uma pena. Eu mereço, mas nunca me darão”, disse em fevereiro numa reunião com o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu. Este terá tomado nota: no encontro seguinte, no mês passado, Netanyahu presenteou-o com a cópia da carta que enviou ao Comité Nobel Norueguês, que escolhe o vencedor do prémio da Paz. Mas afinal, quais são as cinco guerras que Trump já terá ajudado a resolver? O próprio presidente falou na Índia e Paquistão, mas ficou-se por aí. “Podia dizer a lista toda, mas vocês sabem a lista tão bem como eu”, disse na última terça-feira (5 de agosto). Mas tem falado nos outros noutras ocasiões. Índia vs. PaquistãoNo início de maio, a tensão entre as duas potências nucleares rebentou depois de a Índia ter lançado mísseis contra alegados alvos terroristas no Paquistão. A Operação Sindoor foi lançada no dia 7 em resposta à morte de duas dezenas de turistas na Caxemira indiana (território disputado pelos dois países) a 22 de abril, com Nova Deli a acusar Islamabad de apoiar o terrorismo. O Paquistão retaliou, com trocas de tiros e mísseis com a Índia durante vários dias, que deixaram cerca de 80 mortos (61 deles civis). A 10 de maio, Trump anunciou na sua rede social que os dois países tinham acordado “um cessar-fogo imediato e total”, depois de o seu secretário de Estado, Marco Rubio, e do vice-presidente, JD Vance, terem negociado com ambos os lados. Apesar de alegadas denúncias de violações de parte a parte, nos primeiros dias, o cessar-fogo manteve-se.Os paquistaneses confirmaram que Trump mediou o conflito e agradeceram ao presidente várias vezes - incluindo com uma nomeação para o Nobel da Paz. Islamabad reforçou a sua relação com Washington desde então. Mas os indianos alegam que o acordo foi alcançado de forma bilateral pelos militares e sem intervenção de um terceiro país. A relação do primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, com o presidente Trump tem-se deteriorado, culminando nos últimos dias na imposição de tarifas de 50% nas importações indianas.RD Congo vs. RuandaA assinatura do próprio Trump está no acordo de paz entre a República Democrática do Congo e o Ruanda. Este último foi acusado de apoiar os rebeldes do M23 que, no início do ano, assumiram o controlo de vastas áreas do país vizinho, incluindo da capital, Goma, na última escalada de um conflito que dura há décadas e que já causou milhões de mortos e de deslocados. Os ruandeses rejeitam dar esse apoio ao M23, insistindo que a sua presença militar no leste da RD Congo é uma medida defensiva contra milícias como as Forças Democráticas de Libertação do Ruanda (FDLR) - formadas por hutus, ligados ao genocídio dos tutsis de 1994 - que acusam os congoleses de apoiar. Ao abrigo do acordo, ambos os países aceitaram estabelecer “um mecanismo de segurança conjunto” para coordenar a neutralização das FDLR e permitir a retirada das tropas do Ruanda do leste da RD Congo. Os ruandeses comprometeram-se a tentar conter o M23, que estão a negociar com o governo da RD Congo com a mediação do Qatar. Além disso inclui um “quadro para a integração económica regional”, que tem ainda que ser afinado. O documento assinado em Washington inclui também um acordo sobre minerais, com Trump a esperar que os EUA possam beneficiar da paz na região. O presidente da RD Congo, Félix Tshisekedi, e o primeiro-ministro do Ruanda, Paul Kagame, são esperados nas próximas semanas nos EUA para concluir o acordo. Camboja vs. TailândiaQuem também já nomeou Trump para o Nobel da Paz foi o Camboja, depois de os EUA terem ajudado a negociar um cessar-fogo com a Tailândia. Depois de meses de tensão, a 24 de julho as tropas de ambos os lados começaram a trocar tiros ao longo da fronteira - alvo de disputa. O conflito intensificou-se, com ataques e bombardeamentos que causaram a morte a pelo menos 42 pessoas e obrigaram mais de 300 mil a fugir de casa. A intervenção do presidente norte-americano foi simples neste caso: ameaçou deixar de negociar as tarifas se os dois países não aceitassem um cessar-fogo (o que, segundo os críticos, não resolve as causas base do conflito). Dois dias depois, representantes de Bangkok e Phnom Penh reuniram-se na Malásia e chegaram a acordo para uma pausa nos confrontos. Na hora de entrada em vigor das tarifas dos EUA, as importações vindas do Camboja vão pagar apenas 19% - menos 30 pontos do que o inicialmente previsto. A mesma percentagem em relação à Tailândia, que estava ameaçada de uma tarifa de 36%. Tailândia e Camboja já aceitaram entretanto que observadores da Associação de Nações do Sudeste Asiático monitorizem o frágil cessar-fogo. Kosovo vs. SérviaA presidente do Kosovo, Vjosa Osmani, disse no início de julho durante uma visita aos EUA ter “informações fidedignas” de que Trump tinha impedido uma potencial escalada da tensão desde a Sérvia no início do ano. Mas não deu mais pormenores sobre o que aconteceu. O Kosovo declarou unilateralmente a independência em 2008, mas a Sérvia não o reconhece.“A Sérvia e o Kosovo estavam à beira de um conflito. Caminhavam para uma grande guerra. Eu disse-lhes: se entrarem em guerra, não haverá mais comércio com os EUA. E eles disseram-me que talvez não entrassem em guerra”, disse o presidente numa conferência de imprensa em meados de junho. Trump tem falado repetidamente dos esforços de mediação dos EUA na região, sendo que os dois países assinaram ainda no final do seu primeiro mandato um acordo focado na normalização económica. Egito vs. EtiópiaNão é o primeiro quase conflito que Trump alega ter travado. Na mensagem de junho na Truth Social, o presidente lamentou não ganhar o Nobel “por manter a paz entre o Egito e a Etiópia”. E explicou: “Uma enorme barragem construída pela Etiópia, estupidamente financiada pelos EUA, reduz substancialmente o fluxo de água para o rio Nilo.”A barragem GERD no Nilo Azul (que alimenta o Nilo) foi concluída em julho, sendo esperada a sua inauguração em setembro. Há décadas que os egípcios (e também os sudaneses) se preocupam com a segurança do seu fornecimento de água, diante do megaprojeto. Curiosamente, o facto de Trump ter mencionado a barragem não trouxe mais calma, mas agravou a tensão, com a Etiópia a dizer que o presidente está a pôr em causa o seu direito soberano a usar os seus recursos naturais. Adis Abeba também nega que os EUA tenham ajudado a financiar a barragem..Paz na Ucrânia. União Europeia apresenta nova proposta aos EUA antes do encontro entre Trump e Putin no Alasca