À terceira foi de vez. Depois de ter apelado a todos os grupos armados para deporem as armas em 2000 e em 2013, a mensagem de 27 de fevereiro de Abdullah Öcalan, líder histórico do Partidos dos Trabalhadores do Curdistão (PKK) e preso desde 1999, foi ouvida. “O 12.º Congresso do PKK decidiu dissolver a estrutura organizativa do PKK e pôr fim ao método da luta armada”, lê-se no comunicado do grupo considerado terrorista por Ancara, Bruxelas e Washington. As chancelarias saudaram este passo, mas as interrogações sobre o estatuto dos curdos, na Turquia e na região, mantêm-se.Reunido em paralelo entre 5 e 7 de maio em dois locais diferentes no norte do Iraque, por motivos de segurança, os seus 232 delegados aprovaram por unanimidade a proposta de dissolução, pondo fim a 40 anos de luta armada e atentados terroristas com o objetivo de alcançar um Estado independente (e mais tarde a autonomia). Há uma condição, porém: o processo prático de dissolução terá de ser “dirigido e gerido pelo líder Apo”, (“tio” em curdo e forma como os seguidores se referem a Öcalan).“Este não é o final absoluto. O objetivo é criar espaço para novas iniciativas e oportunidades”, disse o membro do comité executivo do PKK, Duran Kalkan, no discurso de abertura, segundo a agência noticiosa ANF. Sem adotarem qualquer posição crítica sobre o seu passado, os delegados ouviram um relatório afirmar que o “PKK será sempre recordado e viverá como o verdadeiro movimento de heroísmo e liberdade na História do Curdistão”.Como é que o processo de desarmamento irá desenrolar-se e qual o futuro dos combatentes e dos altos dirigentes do PKK são dúvidas a que, neste momento, ninguém sabe como responder. O ministro dos Negócios Estrangeiros turco, Hakan Fidan, ao regozijar-se com o anúncio do PKK, disse que Ancara vai monitorizar de perto a forma como o grupo de inspiração maoista irá honrar o compromisso. Segundo o presidente turco, caberá aos “funcionários dos serviços secretos e de outras unidades” seguir o processo - e “com grande sensibilidade para evitar qualquer incidente e garantir o cumprimento das promessas”, afirmou. De acordo com o jornal Sabah, irão ser criados pontos para certificar a entrega de armas na Turquia, Síria e Iraque. Sobre o anúncio do grupo curdo, Recep Tayyip Erdogan disse: “É importante para a segurança do nosso país, para a paz da região e para o reforço da eterna fraternidade da nossa nação.” A reintegração dos combatentes poderá passar por mudanças na lei, mas aquela deverá estar vedada aos altos dirigentes e a guerrilheiros acusados de crimes. Ancara também quer evitar que estes engrossem as fileiras do YPG, na Síria. “Consideramos a declaração [do PKK] como uma decisão que engloba todas as extensões da organização, nomeadamente no norte do Iraque, na Síria e na Europa”, disse também Erdogan.Desconhecem-se as consequências que este anúncio terá nas regiões do norte e do leste da Síria controladas pelos curdos (Rojava). Em fevereiro, Mazloum Abdi, comandante das Forças Democráticas Sírias, dominadas pelo YPG, associadas ao PKK, saudou o caminho para a paz traçado por Öcalan, mas disse que o apelo de dissolução não se aplicava na Síria, um dos quatro países em que a nação curda tem maior representatividade. Ao lado do MNE turco, o homólogo sírio Asad Shaiban, disse ser “essencial” o processo de unificar todos os territórios sob a autoridade do Estado central, um indicador de que o novo poder em Damasco não está interessado em que as SDF - e, em consequência, o YPG - mantenham o atual controlo territorial..Erdogan saúda fim do PKK como passo para uma Turquia "livre de terrorismo".Curdos do PKK anunciam dissolução e fim da luta armada após 40 anos de conflito com a Turquia