O papa Leão XIV pediu este domingo uma paz “autêntica, justa e duradoura” na Ucrânia, um “cessar-fogo imediato” na Faixa de Gaza e felicitou o acordo entre Índia e Paquistão para a desescalada do conflito sobre Caxemira. “Nunca mais a guerra!”, exortou aos líderes estrangeiros na primeira mensagem de domingo feita diante de 100 mil fiéis reunidos na Praça de São Pedro.Eleito na quinta-feira para ser o 267.º líder da Igreja Católica, o até agora cardeal Robert Francis Prevost, de 69 anos, já revelou nas primeiras homilias, discursos, visitas e gestos aquilo que será o seu pontificado. O primeiro papa nascido nos EUA, mas com um percurso eclesiástico ligado ao Peru, terá esta segunda-feira o primeiro encontro com a imprensa no Vaticano. A varanda da Basílica de São Pedro, onde na quinta-feira recebeu o primeiro banho de multidão, foi desta vez o palco a partir de onde Leão XIV cantou a oração Regina Caeli - uma das quatro dedicadas a Maria, que é rezada no lugar do Angelus durante o Tempo Pascal. Depois da oração, e tal como na primeira mensagem após a eleição, voltou a falar da necessidade de paz. Lembrou que a II Guerra Mundial terminou há 80 anos, após causar 60 milhões de vítimas, e citou o antecessor que falava do “atual cenário dramático de uma Terceira Guerra Mundial fragmentada”. O papa Francisco morreu aos 88 anos, na Segunda-feira de Páscoa. “Nunca mais a guerra!” era uma frase que costumava repetir.Na sua mensagem, proferida em italiano, Leão XIV destacou três conflitos diferentes - Ucrânia, Gaza, e Índia e Paquistão - apesar de lamentar que existam muitos outros no mundo. “Carrego, no meu coração, o sofrimento do adorado povo ucraniano”, disse o papa, pedindo que tudo seja feito para alcançar “uma paz autêntica, justa e duradoura o mais rapidamente possível”. E pediu ainda que os prisioneiros sejam libertados e as crianças devolvidas às famílias.O novo líder da Igreja Católica virou-se depois para o conflito na Faixa de Gaza, dizendo-se “profundamente triste” pela situação. “Que haja um cessar-fogo imediato!”, exclamou. “Que seja prestada ajuda humanitária à população civil atingida e que todos os reféns sejam libertados”, acrescentou diante da multidão.Finalmente, o papa disse ter recebido “com satisfação” o anúncio do cessar-fogo entre Índia e Paquistão, após dias de tensão elevada e ataques mútuos com drones e mísseis. “Espero que, através das próximas negociações, um acordo duradouro possa ser alcançado em breve”, referiu, tendo pedido o “milagre da paz” para todos os outros conflitos no mundo. Antes da oração, e para assinalar o Domingo do Bom Pastor (o quarto domingo do Tempo Pascal), o papa falou da necessidade de vocações que a Igreja Católica tem. “É importante que os jovens e as jovens encontrem, nas nossas comunidades, acolhimento, escuta e encorajamento no seu caminho vocacional, e que possam contar com modelos críveis de dedicação generosa a Deus e aos irmãos”, disse Leão XIV. O papa lembrou também Francisco e as suas mensagens de acolher e acompanhar os jovens. Para estes, deixou a sua própria mensagem: “Não tenhais medo. Aceitai o convite da Igreja.”Antes da oração, que terminou uma mensagem para todas as mães (em vários países assinalou-se ontem o Dia da Mãe), o papa celebrou a missa no altar junto ao túmulo de São Pedro com o prior geral da Ordem de Santo Agostinho, o padre Alejandro Moral Anton - Leão XIV é membro da ordem religiosa dos agostinianos. Também nessa ocasião falou de vocações, segundo o texto da homilia que foi divulgado no site oficial do Vaticano, lembrando que o tema foi falado pelos cardeais antes e depois do Conclave. “No final da missa, o papa parou para rezar nos túmulos dos seus antecessores”, informou ainda a Santa Sé. No sábado, já Leão XIV tinha ido rezar junto ao túmulo de Francisco, na Igreja de Santa Maria Maior, em Roma, depois de uma primeira deslocação aos arredores da capital italiana para visitar o Santuário de Nossa Senhora do Bom Conselho, em Genazzano. Este é gerido pelos agostinianos, sendo a imagem da Virgem Maria “cara à ordem e à memória de Leão XIII” - que serviu de inspiração para o nome do atual papa.A visita privada serviu para Leão XIV pedir orientação para os primeiros dias do seu pontificado. Tanto em Genazzano, como junto à Igreja de Santa Maria Maior várias pessoas aplaudiram o novo líder da Igreja Católica, gritando “viva il papa” quando este passou, no lugar do passageiro de um Volkwagen preto. Junto ao santuário mariano, Leão XIV cumprimentou também várias pessoas do público.Primeiras indicaçõesCada gesto, cada visita, cada homilia ou discurso de Leão XIV permitem vislumbrar aquilo que os 1,4 mil milhões de fiéis da Igreja Católica - e o resto do mundo - podem esperar do novo papa.No sábado, num encontro com os cardeais (que disse serem os “mais próximos colaboradores do papa”), o líder da Igreja Católica destapou uma das principais razões pelas quais escolheu o nome de Leão XIV. “O papa Leão XIII, na sua histórica encíclica Rerum Novarum, abordou a questão social no contexto da primeira grande Revolução Industrial. Nos nossos dias, a Igreja oferece a todos o tesouro do seu ensinamento social em resposta a mais uma Revolução Industrial e aos desenvolvimentos no domínio da Inteligência Artificial que colocam novos desafios à defesa da dignidade humana, da justiça e do trabalho”, afirmou.No mesmo discurso, o papa traçou o caminho da igreja, lembrando o Concílio Vaticano II e a exortação apostólica Evangelii Gaudium, de Francisco. Destacou o regresso ao primado de Cristo, a conversão missionária de toda a comunidade cristã, o crescimento da sinodalidade, a atenção ao “sentido da fé”, o cuidado pelos “rejeitados” e o diálogo “corajoso e confiante” com o mundo contemporâneo nas suas várias componentes e realidades.Missa inaugural e lema: 'In Illo uno unum'A missa do início do pontificado de Leão XIV, o primeiro papa norte-americano, será no próximo domingo, 18 de maio, sendo esperados líderes de todo o mundo e mais de 150 mil fiéis na Praça de São Pedro. O presidente dos EUA, Donald Trump, que assistiu ao funeral do papa Francisco, ainda não confirmou a sua presença no evento, começando hoje uma viagem pelo Médio Oriente que termina no dia 16 (ver págs. 24 e 25).Quem já confirmou a presença foi o Presidente da República portuguesa, Marcelo Rebelo de Sousa, que votou ontem de forma antecipada para poder viajar para Roma. Na missa do início do pontificado de Francisco, em março de 2013, estiveram delegações de 132 países, incluindo o então presidente Cavaco Silva.Nesta ocasião, o papa Leão XIV deverá receber o Anel do Pescador, símbolo do cargo que agora ocupa. O anel, que tradicionalmente tem uma imagem de São Pedro a pescar, desde um barco e o nome do papa em latim, será destruído apenas após a sua morte ou resignação, marcando o final do pontificado. Bento XVI usava o seu sempre, mas Francisco só o colocava em ocasiões especiais.O Vaticano também já revelou o brasão do novo papa. O escudo está dividido na diagonal e, na metade superior esquerda, tem um lírio branco sob fundo azul. Na parte inferior direita, um livro fechado com um coração atravessado por uma flecha - um símbolo de Santo Agostinho, refletindo as raízes agostinianas de Leão XIV. O lema escolhido pelo papa também reflete essas mesmas raízes, sendo o mesmo que já tinha enquanto cardeal. “In Illo uno unum”, palavras que Santo Agostinho usou para explicar que, “embora nós, cristãos, sejamos muitos, no único Cristo somos um”.