Duas pessoas morreram esta quinta-feira (2 de outubro) num ataque terrorista contra uma sinagoga em Manchester, naquele que é o dia mais sagrado para os judeus, o Yom Kippur. O suspeito, que foi abatido a tiro pela polícia, começou por lançar o carro contra os transeuntes antes de esfaquear várias pessoas. Parecia ainda usar um cinto de explosivos, segundo um vídeo que circulou nas redes sociais, mas a polícia disse que o engenho não era viável. O primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, condenou o ataque, mas foi acusado pelo Governo israelita de nada fazer para travar o antissemitismo. Nos primeiros seis meses deste ano o Reino Unido registou 1521 incidentes antissemitas (194 na região da Grande Manchester), segundo as contas da Community Security Trust (CST, uma organização de caridade que visa proteger os judeus do país). É uma média de mais de 250 por mês. Um número apenas batido entre janeiro e junho de 2024, quando no rescaldo do ataque terrorista do Hamas de 7 de outubro de 2023 foram registados 2019 incidentes. A CST recolhe estes dados desde 1984. “A constante proeminência da guerra na cobertura mediática, na retórica política e no discurso público contribuiu para um elevado nível duradouro de sentimento e denúncias antissemitas. Este impacto é evidente no facto de 779 incidentes, 51% do total, terem feito referência ou estarem ligados a Israel, Gaza, ao ataque terrorista do Hamas ou ao conflito subsequente”, indicou a organização num relatório de agosto. Desde o 7 de Outubro, só houve um mês em que o número de incidentes não ultrapassou os 200, sendo que antes dessa data, esse número só tinha sido ultrapassado em cinco ocasiões..Incidente junto a sinagoga de Manchester tratado como terrorista. Polícia abateu atacante e deteve duas pessoas.Mas nenhum incidente este ano foi tão grave quanto o ataque terrorista na Sinagoga da Congregação Hebraica de Heaton Park. Duas pessoas da comunidade morreram e outras quatro foram hospitalizadas com “vários ferimentos graves”. Um cenário ainda pior terá sido evitado pelo facto de a polícia ter sido rapidamente alertada de que um homem tinha atropelado várias pessoas e estava a esfaqueá-las e por as portas da sinagoga terem sido fechadas. O chefe da polícia de Manchester, Stephen Watson, agradeceu aos fiéis e aos membros da segurança da sinagoga pela “coragem imediata” que impediu que o atacante entrasse.O suspeito foi morto sete minutos depois do telefonema inicial, que foi feito pelas 9h31. No vídeo que circula nas redes sociais, vê-se os agentes a apontar as armas e a dizer: “Fica deitado, não te mexas ou disparamos.” E depois ouve-se o disparo. A polícia demorou a confirmar o óbito por “questões de segurança” e a presença de “itens suspeitos”. O atacante, que já foi identificado pelas autoridades, parecia ter um cinto de explosivos e os agentes não se aproximaram antes da chegada da Brigada de Desativação. A polícia disse contudo que o engenho “não era viável”. Uma pequena explosão foi ouvida quando os especialistas entraram no carro do suspeito. Outras duas pessoas foram detidas em ligação ao caso, não tendo sido dados mais pormenores.Reunião CobraO primeiro-ministro britânico, que estava com outros líderes europeus em Copenhaga regressou rapidamente a Londres para presidir a uma reunião Cobra (que junta responsáveis governamentais e oficiais de segurança na resposta a emergências ou crises graves). Antes de deixar a capital dinamarquesa, Starmer anunciou o reforço da segurança em todas as sinagogas do país.Após a reunião, Starmer disse que o ataque foi cometido por um “indivíduo vil” que “atacou os judeus porque são judeus e atacou o Reino Unido por causa dos nossos valores”. O primeiro-ministro falou do antissemitismo como “um ódio que não é novo", mas "está a crescer mais uma vez” e que “temos que o derrotar mais uma vez”. Starmer prometeu aos judeus fazer “tudo” para “garantir a segurança que merecem”. Por causa do feriado, quando tudo pára em Israel, as reações só chegaram ao final do dia. O chefe da diplomacia israelita, Gideon Sa’ar, mostrou o seu apoio às vítimas de Manchester e criticou o governo britânico. “A verdade precisa de ser dita: a flagrante e desenfreada incitação antissemita e anti-israelita, bem como os apelos de apoio ao terror, tornaram-se recentemente um fenómeno generalizado nas ruas de Londres, nas cidades de todo o Reino Unido e nos seus campus. As autoridades britânicas não tomaram as medidas necessárias para conter esta onda tóxica de antissemitismo e permitiram, efetivamente, que esta persistisse”, escreveu no X. Sa’ar não fez referência direta ao facto de, no mês passado, o Reino Unido ter sido um dos países que, tal como Portugal, tomou a decisão de reconhecer o Estado palestiniano. “Como alertei na ONU: a fraqueza face ao terrorismo só gera mais terrorismo. Só a força e a unidade podem derrotá-lo”, disse por seu lado o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, numa mensagem partilhada pelo gabinete.