O momento em que Trump entrou em palco, antes do discurso de aceitação.
O momento em que Trump entrou em palco, antes do discurso de aceitação.ANDREW CABALLERO-REYNOLDS / AFP

Do “eu não deveria estar aqui” e apelo à união, aos ataques: 93 minutos do show Trump

Convenção republicana termina com o partido unido em torno da candidatura do ex-presidente, que bateu por mais quase 20 minutos o próprio recorde do mais longo discurso nestes eventos.
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Foi um Donald Trump emotivo aquele que começou o discurso de aceitação da candidatura republicana à Casa Branca, contando em pormenor - e prometeu só o fazer esta vez, por ser “demasiado doloroso” - a tentativa de assassínio de que foi alvo há uma semana, num comício na Pensilvânia. Mas a emoção e os apelos à união - “a discórdia e a divisão na nossa sociedade devem ser curadas” - que marcaram a primeira parte da intervenção, deram lugar às críticas e aos ataques de sempre à medida que o tempo passava e se desviava do que estava no teleponto. Trump acabou por falar 93 minutos, batendo por quase 20 minutos o recorde do mais longo discurso de aceitação que tinha feito em 2016.

“Eu não deveria estar aqui esta noite”, lançou o ex-presidente com o penso na orelha direita, com a multidão em Milwaukee a gritar que “sim”, que ele estava bem ali. Trump disse acreditar ter sido salvo por uma intervenção divina - “a bala do assassino ficou a milímetros de acabar com a minha vida” -, lembrando o seu apoiante que não teve a mesma sorte e morreu, Corey Comperatore, um antigo chefe dos bombeiros de 50 anos. Em palco, foi colocado o seu fato de bombeiro, cujo capacete Trump beijou.

O candidato republicano insistiu depois na ideia da “união”, que já tinha defendido nas várias intervenções nas redes sociais após a tentativa de assassínio. “Numa época em que a nossa política nos divide frequentemente, é agora o momento de nos lembrarmos de que somos todos concidadãos. Somos uma nação sob Deus, indivisível, com liberdade e Justiça para todos”, afirmou.

“Estou a concorrer para ser o presidente de toda a América, não apenas de metade da América, porque não há vitória em ganhar para metade da América”, disse o ex-presidente. Mas o apelo à união veio de imediato seguido da crítica aos democratas, que acusou de “demonizarem o desacordo político” e de o acusarem de ser “inimigo da democracia” quando - alega - ele é quem está a “salvar a democracia”.

O discurso encaminhou-se então para um mais tradicional de campanha, mesmo se Trump só mencionou por duas vezes o nome de Joe Biden (em 2020 tinha-o mencionado mais de 40 vezes). O republicano acusou o democrata de fazer mais danos do que os dez piores presidentes norte-americanos de sempre - um dano “impensável”, alegou.

A partir da sua casa do Delaware, onde está a recuperar da covid-19, Biden apelidou o discurso de “sombrio” e disse que para a semana regressa à campanha. “Ganharemos”, afirmou num comunicado. Mas a pressão para que desista é cada vez maior e os republicanos, que já têm preparados os argumentos contra o presidente - centrados na sua idade e capacidade mental - podem ver-se obrigados a mudar de estratégia a qualquer momento.

Trump sai da convenção republicana mais reforçado do que nunca, com o partido unido em torno da sua candidatura e totalmente refeito à sua imagem. O movimento MAGA (Make America Great Again) que lançou em 2016 está para ficar, como prova a escolha de J.D. Vance para candidato a vice-presidente. O senador tem apenas 39 anos - Trump tem 78 - e é um dos rostos da nova geração do MAGA.

Apesar de estar em alta, o republicano não vai parar depois do espetáculo da convenção - que terminou com a sua família em palco, incluindo a mulher Melania que tem estado ausente da campanha. Este sábado está previsto o primeiro comício ao lado de Vance, em Grand Rapids.

susana.f.salvador@dn.pt

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